O presidente da Bolívia, Evo Morales,
aproveitou o dia 1º de maio para anunciar a nacionalização das ações da Rede
Elétrica Espanhola na empresa Transportadora de Eletricidade (TDE), detentora
de 73% das linhas de transmissão de energia elétrica do país. Desde 2006, em
seu primeiro ano de governo, Morales marca o 1º de maio com medidas que
recuperam patrimônio estatal entregues, pelo neoliberalismo, ao mercado.
Vinicius
Mansur
La Paz
- O presidente da Bolívia, Evo Morales, nacionalizou neste 1º de maio, as ações
da Rede Elétrica Espanhola na empresa Transportadora de Eletricidade (TDE). A
empresa possui 2.772 quilômetros de linhas de transmissão de energia, o
equivalente a 73% do total de linhas do país. 99,94% de seu capital estavam nas
mãos da empresa espanhola e 0,06% pertencia aos seus trabalhadores.
A Rede
Elétrica Espanhola comprou a TDE em 2002 da empresa União Fenosa, também
espanhola, por U$ 74 milhões. A União Fenosa, por sua vez, adquiriu a companhia
em 1997, dentro do processo de privatização que viveu o país. "Para
esclarecer a opinião pública nacional e internacional, esta empresa antes era
nossa elo que era nosso agora estamos nacionalizando", afirmou Morales, ao
explicar que a Constituição boliviana, o Plano Nacional de Desenvolvimento do
país e a política do governo estão dirigidos a recuperar o controle,
administração e direção das empresas estratégicas.
Na
Bolívia, a cadeia elétrica se divide em geração, transmissão e distribuição. O
governo Morales já havia nacionalizado a primeira e agora o faz com a segunda.
A distribuição segue sob controle privado.
Outra
justificativa dada pelo presidente para a nacionalização foi o baixo
investimento realizado pela empresa nos últimos anos – U$ 81 milhões de dólares
desde 1997, quando começou a operar no país, segundo dados do governo. Já a
estatal Empresa Nacional de Eletricidade (ENDE) investiu U$ 220 milhões nos
últimos seis anos, apontou Morales.
As
ações nacionalizadas passarão para as mãos da ENDE que deverá pagar por elas um
montante a ser definido em 180 dias por uma empresa de avaliação e consultoria.
Deste valor serão deduzidos os passivos - financeiro, tributário, trabalhista,
ambiental, entre outros – da TDE.
O
exército foi acionado para tomar as instâncias de administração e operação da TDE.
1º de maio
O
governo Morales tradicionalmente utiliza o 1° de maio para anunciar medidas de
impacto. Em seu primeiro ano de mandato, 2006, houve a nacionalização das
reservas de hidrocarbonetos - petróleo e gás – do país.
Em
2007, foi reestatizada a Empresa Nacional de Telecomunicações (Entel),
administrada pela multinacional italiana Euro Telecom International, dona de
50% das ações da companhia até então.
Em
2008, o Estado boliviano passou a controlar 50% mais um das ações da Chaco, do
grupo British Petroleum (BP), e da Transredes, controlada pela britânica
Ashmore e a anglo-holandesa Shell. Além disso, foram adquiridos pelo Estado
100% do capital da Companhia Logística de Hidrocarbonetos, que estava em mãos
de investidores peruanos e alemães.
Em
2009, a Bolívia estatizou a empresa de distribuição de combustíveis para aviões
Air BP, da britânica BP. A empresa britânica possuia 12 postos de combustível
de aviação em aeroportos de La Paz, Santa Cruz, Cochabamba, Tarija e Beni.
Em
2010, passaram para o controle do governo central a cooperativa Empresa de Luz
e Força de Cochabamba (Elfec) e três empresas geradoras de energia com sócios
internacionais: a Corani, cujo 50% do capital pertencia a Ecoenergy
International, subsidiária da francesa GDF Suez; a Guaracachi, cuja sócia
principal é a britânica Rurelec PLC e a Valle Hermoso, onde metade das ações
pertence à Bolivian Generating Group, da empresa Panamerican da Bolívia.
Em
2011, o governo promulgou o Decreto Supremo 861 para eliminar de manera definitiva
a norma 21060, de 21 de agosto de 1985. A norma 21060, decretada pelo então
presidente Víctor Paz Estensoro, tratava da estabilização monetária para
superar a crise hiper-inflacionária do começo da década, de um ajuste
financeiro nas contas do Estado e da abertura econômica ao mercado mundial.
Segundo vários analistas, a medida desmontou o Estado desenvolvimentista que
dirigira a vida econômica da Bolívia desde a Revolução de 1952, acarretando
também na redução da política social e em um enorme desemprego. Esse foi,
especialmente, o caso dos mineiros, com a privatização da Corporação Mineira da
Bolívia (Comibol).
As
empresas menores do Estado foram também privatizadas e contratos de risco com
empresas de capital estrangeiro firmados, especialmente no setor energético.
CARTA MAIOR (Com
informações de agências).
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