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Mais
que uma homenagem às mulheres e às mães, às negras, um resgate da História do
povo brasileiro!
Elisângela
Sales Encarnação*
Luís
Gama definiu assim, sua mãe, Luísa Mahin: “Minha mãe era baixa, magra, bonita,
a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como neve.
Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa”. Hoje, Luís
Gama é um conhecido abolicionista baiano. Dona Luísa, poucos conhecem.
Poucos
sabem que ela transformou sua casa em quartel general para encontros que
prepararam o Levante dos Malês (1835), a Sabinada(1837). Ela, e muitas outras
anônimas das quais a História não fala. Das quais os livros didáticos não
registram o nome. Mulheres negras como Zeferina, líder do quilombo do Urubu, na
Bahia (1826); Emereciana, Gertrudes, Maria das Chagas, Maria da Conceição,
Agostinha, Tereza, Ana Romana, Domingas Maria do Nascimento, Luiza Franscisca
Araujo, Lucrecia Maria Gercent, Vivência.
Todas elas envolvidas no levante dos Malês e na Revolta dos Búzios,
importantes movimentos de luta contra a escravidão, de resistência à opressão e
luta pela liberdade.
Mulheres
silenciosas que, com sua ação cotidiana, deveras corriqueiras, levavam e
traziam informações em seus tabuleiros, nos seus bustos fartos, enrolados nas
anáguas. Suas casas recebiam reuniões e conspirações à boca da noite, escondiam
negros fugidos. Seus olhos e ouvidos atentos na casa dos brancos rendiam
informações valiosas.
Sem
elas a História não seria a mesma. Mulheres sofridas, privadas de liberdade,
separadas de seus filhos e maridos, assediadas por seus senhores. Mas,
resistentes. Incansáveis. Pacientes. Valentes!
No
século XX vimos mãe Aninha, mãe Menininha, mãe Estela, entre tantas outras,
lutarem contra a invasão da polícia de seus terreiros, de suas casas. Negação
às suas crenças, à sua cultura, à sua identidade e fortaleza. E resistiram!
Para as
mulheres negras baianas a vida nunca foi fácil. Superar a tríplice
discriminação: ser negra, mulher e pobre. E conseguiram. A educação foi um dos
caminhos abertos na luta para alcançar melhor posição educacional, social.
E,
quando a partir das décadas de 1930/50/70, a urbanização e a industrialização
diversificaram as profissões/ocupações masculinas, os homens foram se afastando
do magistério e essa carreira foi invadida por mulheres sedentas de
independência, respeito, conhecimento. Nesse mesmo movimento, os poderes
públicos patriarcais, percebendo essa crescente presença feminina, vêm
desvalorizando a categoria e seus salários.
Quando,
em 1918, os/as professores/as do município de Salvador deflagraram uma greve
contra as péssimas condições de trabalho e salários, a participação feminina
foi maciça. No entanto, até os jornais da época duvidavam da importância dessas
mulheres e, em nota publicada no Diário da Bahia, se lê o desprezo ao pleito,
uma vez que “o professorado municipal, classe esta que, por ser constituída em
sua maior parte, por senhoras, e não ter expressão eleitoral, nem interferência
na administração...” obviamente não deveriam ter por sua causa nenhum tipo de
apreço.
Mas D.
Eluisina de Mattos Lemos, D. Maria do Carmo Trindade Soares, Jovina de Castro
Senna Moreira, Anna Moreira Bahiense, Jesuína Beatriz de Oliveira, Emilia de
Oliveira Lobo Vianna, Sidônia Alcântara, Laura Baraúna, Stela Lemos, Amélia
Bahia, Maria Amélia Rabelo, Augusta Franca Neves, Laura Cardoso, dentre tantas
outras professoras, não se intimidaram e lutaram.
Mesmo
quase um século depois, não é essa a postura do nosso atual governador Jaques Wagner?
Mesmo hoje, podendo votar e participar da administração pública via muita luta,
ele ainda não teima em nos tratar com desprezo?
A
CATEGORIA DE PROFESSORAS/ES DA REDE ESTADUAL DA BAHIA CONSTA HOJE COM MAIS DE
40 MIL TRABALHADORAS/ES, EM SUA MAIORIA, MULHERES E NEGRAS. Herdeiras dessa
História de lutas. Dessa resistência! Somo tataranetas, bisnetas, netas, filhas
e mães dessas e, de tantas outras mulheres, que a História nunca citou o nome,
mas que foram essenciais para nossa cultura, valores, para nossas vidas. Elas
nos ensinaram a lutar e nos legaram a resistência que toda Mulher Baiana,
Brasileira, Negras, Brancas e Índias precisaram e precisam ter para sobreviver
e vencer nesse mundo ainda patriarcal, machista e racista.
Pois
bem, Jaques Wagner: agora você já sabe contra quem está lutando, você só
engrossa os séculos de opressão aos quais já estamos acostumadas a resistir. As
vezes, as lutas são tão difíceis e o vento sopra tão forte, que, como os
coqueiros, nos vergamos até o chão, mas quando a tempestade passa, estamos lá,
de pé. RESISTENTES!
PARABÉNS
A TODA MULHER, PROFESSORA E MÃE NESSA DATA TÃO ESPECIAL!
*Mulher
Negra. Professora. Mãe. Graduada, Especialista e Mestre em História.
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