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sexta-feira, 11 de maio de 2012

CONTRA QUEM JAQUES WAGNER ESTÁ LUTANDO


Imagem: sujeitosurdo.blogspot.com

Mais que uma homenagem às mulheres e às mães, às negras, um resgate da História do povo brasileiro!

Elisângela Sales Encarnação*

Luís Gama definiu assim, sua mãe, Luísa Mahin: “Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa”. Hoje, Luís Gama é um conhecido abolicionista baiano. Dona Luísa, poucos conhecem.
Poucos sabem que ela transformou sua casa em quartel general para encontros que prepararam o Levante dos Malês (1835), a Sabinada(1837). Ela, e muitas outras anônimas das quais a História não fala. Das quais os livros didáticos não registram o nome. Mulheres negras como Zeferina, líder do quilombo do Urubu, na Bahia (1826); Emereciana, Gertrudes, Maria das Chagas, Maria da Conceição, Agostinha, Tereza, Ana Romana, Domingas Maria do Nascimento, Luiza Franscisca Araujo, Lucrecia Maria Gercent, Vivência.  Todas elas envolvidas no levante dos Malês e na Revolta dos Búzios, importantes movimentos de luta contra a escravidão, de resistência à opressão e luta pela liberdade.
Mulheres silenciosas que, com sua ação cotidiana, deveras corriqueiras, levavam e traziam informações em seus tabuleiros, nos seus bustos fartos, enrolados nas anáguas. Suas casas recebiam reuniões e conspirações à boca da noite, escondiam negros fugidos. Seus olhos e ouvidos atentos na casa dos brancos rendiam informações valiosas.
Sem elas a História não seria a mesma. Mulheres sofridas, privadas de liberdade, separadas de seus filhos e maridos, assediadas por seus senhores. Mas, resistentes. Incansáveis. Pacientes. Valentes!
No século XX vimos mãe Aninha, mãe Menininha, mãe Estela, entre tantas outras, lutarem contra a invasão da polícia de seus terreiros, de suas casas. Negação às suas crenças, à sua cultura, à sua identidade e fortaleza. E resistiram!
Para as mulheres negras baianas a vida nunca foi fácil. Superar a tríplice discriminação: ser negra, mulher e pobre. E conseguiram. A educação foi um dos caminhos abertos na luta para alcançar melhor posição educacional, social.
E, quando a partir das décadas de 1930/50/70, a urbanização e a industrialização diversificaram as profissões/ocupações masculinas, os homens foram se afastando do magistério e essa carreira foi invadida por mulheres sedentas de independência, respeito, conhecimento. Nesse mesmo movimento, os poderes públicos patriarcais, percebendo essa crescente presença feminina, vêm desvalorizando a categoria e seus salários.
Quando, em 1918, os/as professores/as do município de Salvador deflagraram uma greve contra as péssimas condições de trabalho e salários, a participação feminina foi maciça. No entanto, até os jornais da época duvidavam da importância dessas mulheres e, em nota publicada no Diário da Bahia, se lê o desprezo ao pleito, uma vez que “o professorado municipal, classe esta que, por ser constituída em sua maior parte, por senhoras, e não ter expressão eleitoral, nem interferência na administração...” obviamente não deveriam ter por sua causa nenhum tipo de apreço.
Mas D. Eluisina de Mattos Lemos, D. Maria do Carmo Trindade Soares, Jovina de Castro Senna Moreira, Anna Moreira Bahiense, Jesuína Beatriz de Oliveira, Emilia de Oliveira Lobo Vianna, Sidônia Alcântara, Laura Baraúna, Stela Lemos, Amélia Bahia, Maria Amélia Rabelo, Augusta Franca Neves, Laura Cardoso, dentre tantas outras professoras, não se intimidaram e lutaram.
Mesmo quase um século depois, não é essa a postura do nosso atual governador Jaques Wagner? Mesmo hoje, podendo votar e participar da administração pública via muita luta, ele ainda não teima em nos tratar com desprezo?
A CATEGORIA DE PROFESSORAS/ES DA REDE ESTADUAL DA BAHIA CONSTA HOJE COM MAIS DE 40 MIL TRABALHADORAS/ES, EM SUA MAIORIA, MULHERES E NEGRAS. Herdeiras dessa História de lutas. Dessa resistência! Somo tataranetas, bisnetas, netas, filhas e mães dessas e, de tantas outras mulheres, que a História nunca citou o nome, mas que foram essenciais para nossa cultura, valores, para nossas vidas. Elas nos ensinaram a lutar e nos legaram a resistência que toda Mulher Baiana, Brasileira, Negras, Brancas e Índias precisaram e precisam ter para sobreviver e vencer nesse mundo ainda patriarcal, machista e racista.
Pois bem, Jaques Wagner: agora você já sabe contra quem está lutando, você só engrossa os séculos de opressão aos quais já estamos acostumadas a resistir. As vezes, as lutas são tão difíceis e o vento sopra tão forte, que, como os coqueiros, nos vergamos até o chão, mas quando a tempestade passa, estamos lá, de pé. RESISTENTES!

PARABÉNS A TODA MULHER, PROFESSORA E MÃE NESSA DATA TÃO ESPECIAL!

*Mulher Negra. Professora. Mãe. Graduada, Especialista e Mestre em História.

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