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segunda-feira, 31 de outubro de 2011


Filme de cineasta alemão debate O Capital inspirado por Eisenstein, e sugere, em 8 horas, roteiros para repensar marxismo

Por Arlindenor Pedro
Separei este último final de semana para assistir em DVD a obra de Alexander Kluge (foto), que no Brasil tomou o nome de Noticias da Antiguidade Ideológica: Marx, Eisenstein e o Capital. Em mais de oito horas de duração, distribuídos em 3 DVDs , esta obra do genial diretor alemão, realizada em 2008, no auge da crise financeira mundial, nos faz mergulhar no universo criativo do diretor russo Serguei Eisenstein, do Encouraçado Potemkin, e nas ideias de um dos mais importantes pensadores da humanidade: Karl Marx, articulando-as com a realidade do mundo contemporâneo. Uma bela iniciativa da distribuidora Versátil, em parceria com o Instituto de Tecnologia Social (ITS), o Goethe-Institut São Paulo e o SESC. Obra original, um documentário com expressivas inovações estéticas, que merece ser vista e comentada.
Tudo parte de uma ideia de Eisenstein. Após terminar as filmagens de “Outubro”, ele quis lançar-se à aventura de filmar a maior obra de Marx: O Capital. Desenvolveu um projeto original e ambicioso, nascido da leitura que fizera de Ulisses, de James Joyce, e de suas observações sobre quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Inspirado no personagem de Joyce, queria mostrar em apenas um dia todos os meandros do sistema capitalista – sua engrenagem avassaladora. Uma das suas notas, encontradas após a sua morte, dá a dimensão da tarefa a que se propôs: “A decisão está tomada: irei filmar O Capital, segundo roteiro de K.Marx. Esta é a única saída possível”.
Como se sabe, Eisenstein nunca realizou seu plano. O filme de Alexandre Kluge parte desta ausência. Ele convoca uma grupo de conhecedores de Eisenstein, Joyce e Marx – pensadores, poetas, escritores, atores, maestros – para um exercício. Pede que imaginem como seria o filme do cineasta russo.
Aparece-nos, então, um Marx diferente do que é usualmente mostrado, sem os conceitos reducionistas do marxismo positivista que imperou durante todo o século passado. Ele surge como um pensador que abre caminho para o entendimento do capitalismo em sua mais completa forma existencial, que hoje podemos enxergar mais claramente. Por meio do relato e do debate com convidados, o filme quer revelar o mundo da mercadoria: o que é; como o modo de produção capitalista abriu-lhe o grande teatro da existência; como ela se transformou, ao longo do tempo. Surgem novos elementos para compreender a sociedade contemporânea e o império do fetiche, que nos encanta num mundo desencantado.
Pela estética peculiar do filme desfila o pensamento de gente como o filosofo Peter Sloterdijk, o escritor Hans Magnus Enzensberger, o poeta Durs Grubein, o cineasta Tom Tykwer e muitos outros intelectuais e artistas. Em alguns momentos, parece que estamos dentro de um outro filme, pequenos curtas, entrelaçados no mesmo objetivo: as ideias contidas na obra de Marx.
Muito bem documentado e com imagens impressionantes, o filme não se limita ao debate – necessariamente árido – da obra de Marx. Relata fatos curiosos. Permite-nos saber, por exemplo, que o túmulo de Marx no cemitério de Highgate (Londres), visitado por tantos, é na verdade é um monumento erguido pelos soviéticos em homenagem ao grande escritor alemão. Seu corpo foi depositado na parte judia do cemitério, em um lugar modesto, abandonado e mal cuidado-longe do público. Ou que, em pleno débacle financeiro do mundo capitalista em 1929, o Comitê Central da União Soviética tomou a decisão de “comprar ativos” do mundo ocidental, mobilizando para tanto obras de arte e riquezas do antigo império tzarista. Emprestava dinheiro aos capitalistas aterrorizados, imaginando fazê-los devedores do poder soviético, numa estratégia similar à da China nos dias atuais. Tal empreitada não foi adiante devido à carência de quadros comunistas que dominassem a arte da negociação financeira nas grandes praças capitalistas.
O filme – inclusive nos “extras”, verdadeiros filmes dentro do filme, como a entrevista com o cineasta francês Jean-Luc Godard – navega nos mesmos mares dos marxistas que se desviaram dos cânones do stalinismo e do marxismo oficial, imperante a partir da 3ª Internacional. Pensamentos e citações de filósofos ligados a Escola de Frankfurt, como Walter Benjamin, Adorno e Horkheimer (com A Dialética do Esclarecimento), jogam importante papel na leitura de um Marx que abre caminhos para entender a sociedade da mercadoria em que vivemos. Ao polemizar com o próprio Marx a respeito de uma frase célebre (“A revolução é a locomotiva da história”), Benjamim diz que, ao contrário, “a revolução é o freio de emergência que serve para travar o trem que caminha para a desgraça”. Isto é: ela serve para fazer retornar os acontecimentos à historia. No caso da Revolução Francesa, e mesmo das guerras napoleônicas, seus lideres tiveram a visão de que o avanço do capitalismo, com mudanças no modo de produção, exigia um novo olhar sobre a sociedade, do qual os lideres da aristocracia eram incapazes. Desta forma, retomaram o rumo da historia; põem abaixo a sociedade feudal, instaurando um novo regime. Um freio no trem caminhava para o abismo, para crise.
O marxismo dito oficial sempre teve uma visão linear da história, com os modos de produção sucedendo-se em direção ao progresso. Seus defensores enxergavam o comunismo como o final dos tempos, assim como os milenaristas do 5º Império de Portugal.
É caso de perguntar: os movimentos socialistas do século passado não teriam sido avalizadores da mundo contemporâneo, dando uma face mais “humana” ao capitalismo selvagem dos primeiros tempos, em que a exploração era levada aos limites da vida? Limitados por sua visão “progressista”, concentrados em assegurar o domínio sobre os bens de produção, não teriam substituído os capitães do capitalismo pelos capitães industriais do socialismo? Isso não significou esquecer o elemento central da crítica de Marx: a própria mercadoria?
Se a resposta for positiva, deveríamos voltar a Marx e pensar uma nova sociedade capaz de superar a lógica do “valor de troca”, que leva a dar a qualquer bem uma equivalência monetário e obriga os seres humanos, em consequência, a comprar a vida segundo o poder aquisitivo de cada um. A obra de Kluge nos condvida a retomar tal utopia, o principal legado de Marx.

Correa: "Que el Banco Mundial pida disculpas por todo el daño causado"

XXI Cumbre Iberoamericana - Paraguai, 2011 - Correa, a poucos minutos antes do fim do evento, desferiu severas críticas à presença de representantes de instituições financeiras, exigindo deles desculpas públicas pelos danos causados pelo Banco Mundial aos países da América Latina.Assista ao vídeo:

domingo, 30 de outubro de 2011

Brasil: Manifesto continental pela retirada das tropas do Haiti


COMPROMISSO DE SÃO PAULO
 
Aba Okipasyon / Aba Minustah
Fora a Ocupação!
 
   Reunidos em Ato Público na Câmara Municipal de São Paulo, vindos de “X” países, cujos governos estão envolvidos na ocupação do Haiti,e, no Brasil, de diferentes Estados, firmamos um compromisso de solidariedade militante com a soberania da nação negra do Haiti.        
    Faz já 7anos que as tropas da “Missão da ONU para a Estabilização do Haiti”-Minustah – estão neste país. São elas responsáveis pela violação da sua soberania, pela agressão aos direitos humanos e repressão a manifestações democráticas, sindicais, estudantis e populares e mortes consideradas efeitos colaterais” de um estado de guerra perpétua. Seus soldados introduziram o cólera,que matou 6 mil pessoas e contaminou  mais de 300. Sobre elas pesam acusações fundadas de violência sexual e estupro de jovens que, como outros crimes, seguem impunes dada à sua imunidade legal.
   No último dia 15 de outubro, o Conselho de Segurança da ONU, insensível às demandas expressas por vários setores em diferentes países e pelo próprio povo haitiano, renovou por mais um ano, o mandato da Minustah (reduzida ao contingente anterior ao terremoto), e ainda “manifestou sua intenção de renovar o mandato da missão para além de 2012” !
  Nós estabelecemos o compromisso de lutar pela retirada imediata das tropas invasoras e exortamos trabalhadores, jovens, democratas, socialistas e comunistas, com suas organizações, a não sair das ruas enquanto não terminar essa operação militar, irmanando-se ao povo haitiano, que exigem respeito à sua soberania, em seguidos protestos contra essa ocupação.
   O Haiti, país pioneiro na abolição da escravidão, cujo povo, há 208 anos atrás, expulsou as tropas coloniais de Napoleão e constituiu a primeira república negra do mundo, pagou um alto preço pela sua independência: 90 milhões em francos-ouro, como compensação às perdas de propriedade – terras e escravos -, à custa da sangria de seus recursos, e uma punição permanente no decurso de sua história. Sofreu inúmeras ocupações militares. A última delas se deu em 2004, quando do golpe em cima do presidente eleito, Aristide, orquestrado pelos interesses imperialistas dos EUA, França e Canadá, na região. Mascarada pela ONU como uma missão de paz, essa ocupação conta com tropas e polícias militares de 40 países, sob o comando do exército brasileiro.
 A MInustah também encobre os interesses imperialistas do governo brasileiro na regiãoe seu comando pretende apresentar cara humana quando, na verdade, facilita ainda mais a exploração vil da mão de obra haitiana pelas multinacionais, sem direitos nem proteção social, e garante as manobras da Comissão Interina de Reconstrução do Haiti – CIRH – que tem como responsável nada menos que Bill Clinton.
  Para nada serviu a presença das tropas da ONU, sequer ajudaram na prevenção de catástrofes naturais, preferiram prestar socorro em bairros ricos, negligenciando os atingidos pela catástrofe.O resultado é que, quase dois anos após o terremoto, mais de 1 milhão de haitianos continuam desabrigados. Tampouco serviram para estabelecer a democracia, nem poderiam, pois foram fiadoras, por exemplo, da última farsa eleitoral, onde apenas 17% dos haitianos votaram.
    A dívida histórica que temos com o povo haitiano só pode ser amortizada se estabelecermos o compromisso de apoiar sua luta e exigirmos dos governos dos nossos países – Brasil, Uruguai, Argentina, Bolívia, EUA, França... - que ponham fim a essa política de Estado que legitima e viabiliza a invasão militar do Haiti.
   Este ato deve ser encarado como a pedra fundamental do nosso compromisso de construir um Comitê Continental pela Retirada Imediata das Tropas Militares do Haiti e a não permissão da entrada de forças especiais mercenárias no país, em substituição às forças militares oficiais.
    Respaldados em ações semelhantes, no dia de hoje,também no Canadá, Peru e Equador, chamamos à constituição de Comitês Pela Imediata Retirada em todos os países do continente. E propomos, em particular, à Conferência Caribenha de Cap Haitien, Haiti (16-18 de Novembro), uma Jornada Continental pela Retirada Imediata das Tropas na data dos 8 anos da ocupação do Haiti, em 1º de Junho de 2012, com atos e manifestações em face dos respectivos governos.
  • O Haiti precisa é de médicos, engenheiros e técnicos, não de soldados!
  • Cancelamento da dívida externa do Haiti! Restituição dos valores pagos!
  •  Ressarcimento do pagamento da dívida imoral da independência
  • Reparação às famílias vitimas do cólera e de violações dos direitos humanos!
  • Retirada Imediata das tropas da ONU do Haiti e que nenhum força militar ou paramilitar seja mantida no território haitiano.

Maioria de ONGs sob suspeita é ligada ao PCdoB

fonte charge: roberto-menezes.blogspot.com
Por Roberto Maltchik (roberto.maltchik@bsb.oglobo.com)
BRASÍLIA - Cerca de 73% do dinheiro comprovadamente desviado ou mal aplicado por organizações não governamentais no Programa Segundo Tempo irrigaram entidades ligadas ao PCdoB, partido que continua à frente do Ministério do Esporte mesmo depois da saída de Orlando Silva. Levantamento feito pelo Globo nas 16 tomadas de contas especiais (TCEs), nas quais o próprio governo detectou irregularidades em convênios com as ONGs, mostra que, em oito delas, os alvos são grupos dirigidos por filiados à legenda ou pessoas que tiveram ligação estreita com os comunistas em quatro estados.
O governo busca recuperar - com o apoio da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU) - de R$ 28,3 milhões, apenas de convênios fechados entre o Segundo Tempo e as ONGs. Deste montante, R$ 20,6 milhões abasteceram os cofres de entidades atreladas ao PCdoB em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Tocantins. Entidades ligadas ao partido também estão no topo da lista de todas as ONGs beneficiadas pelo Segundo Tempo. Das cinco entidades que mais receberam recursos, quatro têm ligação com o PCdoB e não foram alvo de investigação.
Braço direito do vereador Netinho de Paula (PCdoB) na Câmara Municipal de São Paulo, Veruska Ticiana Franklin de Carvalho, filiada em Campinas, comandava, em 2004, a Federação das Associações Comunitárias de São Paulo (Facesp), entidade que amealhou R$ 1,6 milhão do Segundo Tempo para criar 125 núcleos esportivos nas cidades paulistas de Americana, Campinas, Mauá e Osasco. O objetivo era beneficiar 12.500 crianças, jovens e adolescentes. Porém, nem o Ministério do Esporte conseguiu descobrir onde foi parar todo o dinheiro, e, agora, pede de volta R$ 3,5 milhões (valor corrigido) por falta de execução do projeto.

sábado, 29 de outubro de 2011

O que é terrorismo?


Economista político paquistanês debate o conceito de terrorismo
Desde 11 de Setembro de 2001, terrorismo é uma palavra que não sai dos noticiários. O conceito não era novo, mas ganhou popularidade após a catástrofe das Torres Gêmeas. Hoje, com os olhos voltados para o Oriente Médio – em virtude dos últimos acontecimentos relacionados à Primavera Árabe e à questão conflituosa entre Israel e Palestina – a mídia ocidental se mostra acostumada a relacionar o tema a esta parte do mundo (e ao Sul da Ásia) e suas populações islâmicas.
Mas, afinal, o que define terrorismo? Em um texto de Niaz Murtaza, publicado no periódico paquistanês Dawn, o economista político da Universidade de Berkeley (Califórnia) tece importantes comentários e faz algumas perguntas, que permanecem sem respostas.
Ainda que não exista consenso na comunidade internacional sobre uma definição legal apropriada, pode-se, no entanto, afirmar que terrorismo significa, literalmente, usar o terror como estratégia. Mas, Murtaza sustenta que a definição é muito ampla para ser útil. Sustenta, ainda, a existência de sub-tipos de terrorismo, entre os quais o mais controverso seria o terrorismo político.
O economista entende que, apesar da controvérsia, o terrorismo político teria uma essência inequívoca: “deliberadamente atacar fisicamente não-combatentes ao perseguir objetivos políticos, mesmo que estes objetivos sejam justos”.
Sendo assim, Murtaza questiona e analisa:
1 – Quem luta pela liberdade não pode ser considerado terrorista?
Lutadores pela liberdade encarando fortes exércitos geralmente começam a alvejar não-combatentes e justificam seus meios repugnantes, argumentando a justiça de seus objetivos. Se considerados terroristas, isso significa que os fins não justificam os meios e muitos movimentos de resistência global, por exemplo, no Afeganistão, na Índia, no Paquistão e Colômbia estão engajados em terrorismo.
2 – Estados cometem terrorismo?
Estados que, inadvertidamente, matam não-combatentes durante combate, não cometem terrorismo, mas podem ser responsabilizados por crimes de guerra (ofensa igualmente séria, se eles não seguirem as lei internacionais de proteção a não-combatentes durante guerras).
O terrorismo de Estado somente se configuraria quando oficiais de alta-patente dessem apoio material a terroristas ou soldados para deliberadamente alvejar não-combatentes. Assim, teoricamente, as perdas civis causadas inadvertidamente pelos americanos no Iraque durante combate não podem ser consideradas terrorismo, apesar de algumas delas poderem consituir crimes de guerra. Entretanto, a tortura de prisioneiros, devidamente aprovada pelos oficiais da era-Bush, certamente configura terrorismo de Estado, bem como o ataque à bomba em Hiroshima, provavelmente o mais destrutivo ataque terrorista de todos os tempos.
3 – Quem é o responsável pelas milhares de pessoas mortas em atentados terroristas no Paquistão?
Alguma pessoas culpam os governos paquistanês e americano, argumentando que suas políticas provocaram militantes ao terrorismo. ‘Provocação’ é um termo jurídico que pode ser usado para mitigar alguns crimes. Mulheres britânicas que matam maridos altamente abusivos enquanto em estado de trauma, podem alegar provocação em suas defesas, mas meramente para requerer uma sentença mais leve. Além disso, não lhes é dado direito de matar qualquer um em retaliação, nem seus parentes podem invocar ‘provocação’ para matar seus maridos. Devido a esses severos requerimentos, pode alguém do FATA (Áreas Tribais Administradas pela Federação), mesmo que ele ou ela infelizmente perca um familiar não-combatente para a ação militar dos Estados Unidos ou do Paquistão justificadamente invocar ‘provocação’ se ele ou ela viajar até Islamabad ou Karachi (cidades paquistanesas) para se vingar exatamente em não-combatentes, ao invés de se decidir pela curta jornada aos perpetradores ou aos tribunais?
Ao olhar a situação sob o ponto de vista da responsabilidade política, é verdade que ambos os governos tem contribuído indiretamente para o terrorismo na região; No entanto, essa culpabilidade política não pode diminuir a culpabilidade jurídica de terroristas. Existem outras maneiras mais razoáveis de protestar contra más políticas de governo, tais como protestos pacíficos e ações em tribunais. Existem respostas apropriadas para atos inapropriados. Aqueles que agem inapropriadamente em resposta merecem apropriada punição tais quais aqueles que praticaram o ato inapropriado original.
4 – Por fim, o terrorismo está ligado a alguma religião em particular?
Analistas tendenciosos alegam que, apesar de não todos os muçulmanos serem terroristas, quase todos os terroristas seriam muçulmanos. Fatos facilmente desmentem essa distorção. Enquanto a Al Qaeda tem atraído a maior atenção desde que atacou o Ocidente, terrorismo altamente clamoroso tem sido cometido mais frequentemente por outros, na História recente. Alguns mesmo cometidos em nome da religião, por exemplo, o Exército de Resistência do Senhor, na África, rotineiramente ataca vilarejos, decepando membros de homens, matando milhares, estuprando mulheres na frente de suas famílias e as tomando como amante (escravas sexuais). Outros foram cometidos em nome de nacionalismo e ideologia, por exemplo, os massacres civis na Ruanda, na ex-Iugoslávia, no Camboja. Porém, esses barbarismos não refletem as lições originais dessas religiões ou ideologias, assim como o barbarismo da Al Qaeda não reflete os ensinamentos islâmicos. No Islã, quem quer que mate uma pessoa inocente é como se tivesse matado toda a humanidade. Mentes doentes e não religiões produzem terrorismo.
Assim, uma análise objetiva do terrorismo demanda uma definição clara, a qual pode não agradar a poderes maiores (durante o governo Bush, a definição americana de terrorista degenerou em “qualquer pessoa que nós consideremos um”), e precisa ser baseada em fatos imparciais. Por fim, demanda diferenciação entre causas imediatas e indiretas. Até agora, esses requerimentos simples tem desconcertado governos do mundo inteiro.

A cidade sem catracas


Cultura do automóvel

Este artigo é a primeira parte de uma reflexão que proponho sobre a mobilidade urbana no espaço do Blog Coletivo de Outras Palavras. A série compreenderá a Campanha pela Tarifa Zero em São Paulo e as bicicletas, como alternativas possíveis para a mobilidade.
Neste primeiro texto, o alvo é a cultura do automóvel e seus efeitos sobre a mobilidade urbana. Mobilidade urbana é entendida aqui como as condições necessárias para o deslocamento das pessoas ou, em outras palavras: a pessoa conseguir se locomover da casa para o trabalho e para onde quiser ou precisar, seja por meios motorizados ou não motorizados. É o que garante, para o conjunto da população, o acesso aos serviços e equipamentos públicos que a cidade oferece, é dizer: o direito à cidade. O acesso à saúde e educação é impossível sem mobilidade abundante e barata.
Em uma cidade como São Paulo, cuja frota tem mais de 7 milhões de carros, ficar parado no trânsito já é coisa banal. O paulistano gasta, em média, 2h49 (duas horas e quarenta e nove minutos!) por dia para se deslocar. No último dia 02 de setembro, São Paulo alcançou a marca recorde de 220 quilômetros de congestionamento. Além de causar perdas irreparáveis na qualidade de vida da população, as horas desperdiçadas com o trânsito geram prejuízos bilionários às empresas e à cidade, entre as perdas na logística e o aumento dos gastos em saúde por conta de acidentes e poluição.
Ainda assim, o governo segue a cartilha da indústria automobilística e seus sindicatos: a cada R$ 12 gastos em incentivos ao transporte particular, o governo investe R$ 1 em transporte público, conforme mostrou o estudo sobre mobilidade urbana do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. O instituto atribui a piora no trânsito a esta relação de investimentos. Por sua vez, a população nutre o velho sonho de consumo americano: quem pode continua comprando carros. Há, aqui, um aparente paradoxo: as pessoas usam carros porque não há um transporte público de qualidade ou não há um transporte público de qualidade porque se fomenta prioritariamente o uso dos carros?
O modelo que difundiu, priorizou e transformou o automóvel em objeto de desejo remonta ao início do século XX, nos Estados Unidos, ainda hoje imitado pelo Brasil. Seu efeito principal foi o sucateamento do transporte público coletivo: fim dos bondes, pouco investimento em trens e metrô, nenhum investimento em ciclovias. Quanto aos ônibus – meio de transporte mais utilizado pelos brasileiros, a entrega das concessões de exploração comercial deste serviço público a máfias empresariais (a maioria sem licitação) prestam um desserviço à população. No caso paulistano, os subsídios dados pela prefeitura às empresas e o aumento das tarifas muito acima da inflação carecem de justificativa por parte do prefeito Gilberto Kassab (ex- DEM), que a justiça paulista pediu em março deste ano.
No Brasil, o uso do transporte individual ocupa mais de 80% das vias, mas serve apenas 27% das pessoas. Isto significa que 73% dos deslocamentos (a soma de transporte público coletivo, deslocamentos a pé e por bicicleta) tem que disputar 20% do espaço que resta nas vias. Assim, aqueles que não podem ou não querem usar carros nos seus deslocamentos enfrentam os efeitos do congestionamento causado pelos privilégios dados ao automóvel; porém, quem usa automóvel também não desfruta da facilidade de deslocamento desejável.
Na cultura do automóvel, se investe mais em ampliação de vias, construção de pontes e asfaltamento do que nas calçadas, expansão do metrô, quantidade e qualidade dos ônibus e ciclovias. Ocorre que o espaço físico na cidade é limitado: não há tempo, recursos ou viabilidade para investir no viário no mesmo ritmo em que aumenta a frota de veículos. Ainda que houvesse, o volume de automóveis (em crescimento a 10% ao ano) não poderia caber em ruas e avenidas, por mais numerosas e largas que fossem. O modelo é insustentável.
Neste sentido, o problema do trânsito parece não ter solução. Porém, há incontáveisexemplos de práticas e medidas já adotadas por cidades ao redor do planeta, que se não podem ser imitadas, servem de inspiração para outra cultura de mobilidade. Pensar o trânsito é pensar todos os modos de deslocamento de maneira integrada, ou seja, uma rede de calçadas, corredores de ônibus, linhas de metrô, ciclovias, VLTs e, – por que não? – automóveis.
Cidades na França, Espanha, Dinamarca, Alemanha, Indonésia, Colômbia e Inglaterra, além da Holanda e mesmo no Brasil, elaboraram planos de mobilidade para implementar soluções que transformaram a relação da população com o espaço urbano. Algumas experiências de sucesso consistiram em restringir e reduzir o acesso de veículos particulares em determinadas áreas centrais, ao mesmo tempo que se abriu espaço nestas vias para os demais meios de transporte.
Opções políticas neste sentido tem que considerar (inventar, imaginar, arriscar) medidas simples de grande impacto, como a pintura de faixas e sinalização, na inversão de prioridades de avenida como por exemplo a 23 de Maio, em São Paulo. Uma calçada bem cuidada, uma pista exclusiva para as bicicletas, uma para os ônibus, e três pistas para os carros poderiam significar maior rapidez de deslocamento, uma vez que haveria espaço para todos. Tal inversão seria, na prática, aquilo que o Código de Trânsito Brasileiro já determina em teoria: primeiro os pedestres, seguidos pelos ciclitas, o transporte público coletivo e, por último, o transporte particular motorizado.

Para lembrar Maio de 1968


Tempos distintos, mas de uma mesma luta contra a opressão sistêmica.

Papa Cuentame Otra Vez

ISMAEL SERRANO

Papá cuéntame otra vez ese cuento tan bonito
de gendarmes y fascistas, y estudiantes con flequillo, 
y dulce guerrilla urbana en pantalones de campana, 
y canciones de los Rolling, y niñas en minifalda.
Papá cuéntame otra vez todo lo que os divertisteis 
estropeando la vejez a oxidados dictadores, 
y cómo cantaste Al Vent y ocupasteis la Sorbona 
en aquel mayo francés en los días de vino y rosas.
Papá cuéntame otra vez esa historia tan bonita 
de aquel guerrillero loco que mataron en Bolivia, 
y cuyo fusil ya nadie se atrevió a tomar de nuevo, 
y como desde aquel día todo parece más feo.
Papá cuéntame otra vez que tras tanta barricada 
y tras tanto puño en alto y tanta sangre derramada, 
al final de la partida no pudisteis hacer nada, 
y bajo los adoquines no había arena de playa.
Fue muy dura la derrota: todo lo que se soñaba 
se pudrió en los rincones, se cubrió de telarañas, 
y ya nadie canta Al Vent, ya no hay locos ya no hay parias, 
pero tiene que llover aún sigue sucia la plaza.
Queda lejos aquel mayo, queda lejos Saint Denis, 
que lejos queda Jean Paul Sartre, muy lejos aquel París, 
sin embargo a veces pienso que al final todo dio igual: 
las ostias siguen cayendo sobre quien habla de más.
Y siguen los mismos muertos podridos de crueldad. 
Ahora mueren en Bosnia los que morían en Vietnam. 
Ahora mueren en Bosnia los que morían en Vietnam. 
Ahora mueren en Bosnia los que morían en Vietnam. 

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

América Latina: os estudantes são a "bola da vez" da repressão

Estudante assassinado em Honduras
Uma semana atrás dávamos publicidade ao assassinato de estudante na Colômbia. No Chile, denúncias de tortura - nos padrões das que aplicam os EUA a presos em Guantánamo - a estudante. No momento em que a Polícia Militar invade, mais uma vez, a USP, chega esta notícia sobre o assassinato de estudantes em Honduras... perigosas coincidências...???
Manifestação estudantil


A ALAS (Associação Latinoamericana de Sociologia) se pronuncia:

Pronunciamiento
La Asociación Latinoamericana de Sociología (ALAS) expresa su indignación ante la denuncia que hace el Prof. Rudis Flores, miembro de la Directiva de ALAS, del asesinato de los estudiantes de la Universidad Nacional Autónoma de Honduras-UNAH, Rafael Alejandro Vargas Castellanos, hijo de la Rectora de la UNAH y estudiante de la Licenciatura en Sociología, y Carlos Pineda, estudiante de la Facultad de Derecho.
La ALAS se suma igualmente al pronunciamiento oficial de la Asociación Centroamericana de Sociología (ACAS), que manifestó públicamente su indignación instando las autoridades competentes a esclarecer este doble crimen.
Solicitamos también a la comunidad académica latinoamericana que se pronuncie ante este hecho de modo de evitar que esta violencia criminal quede impune.
25 Octubre 2011
Por la Directiva de ALAS
Paulo Henrique Martins, Presidente
Marcelo Arnold C., Vicepresidente 

Facebook: a maior rede de espionagem do mundo




Ademais de cada usuário passar suas informações ao Facebook, este também armazena informações pessoais ligadas à Rede Social não registradas nesta. Dentro das possíveis aplicações desta rede, não se pode excluir a de instrumento de espionagem, tanto política quanto comercial.
Autoridades irlandesas revelaram que a empresa cria perfis com dados mesmo daquelas pessoas que nunca utilizaram seus serviços. Estes dados são coletados por meio de uma variedade de fontes disponíveis na internet como a sincronização dos números de telefone, e-mails, contatos, mensagens instantâneas, chats e outros recursos. Estes "perfis nas sombras" são muito detalhados e incluem itens como crença política, religião, orientação sexual e muito mais. A informação foi revelada depois de uma inspeção em um escritório da rede social para o serviço de proteção dos dados privados da empresa Facebook, que poderá enfrentar uma multa de 100.000 € por violação de privacidade, se a investigação prospera.
Enquanto especialistas temem que os governos de vários países podem aproveitar as informações publicadas - sem o consentimento de um usuário - para espionar, os maiores sistemas de pagamento estão considerando este como um novo negócio. Então, Visa e MasterCard Inc. planejam vender o histórico de compras de clientes feitos com os cartões, o que aumentaria a eficácia da publicidade ad hoc.
Esta inovação pode se tornar uma verdadeira revolução no mundo da publicidade, uma vez que irá integrar as atividades virtuais de pessoas com as suas preferências na vida real.Os criadores deste sistema assegura que darão particular atenção à privacidade. MasterCard promete que o histórico de compras não inclui os nomes e endereços dos clientes. Mas, então surge a questão: como conseguirão os anunciantes saberem quem compra isto ou aquilo?
Fonte: RT
O Anonymous já postou na net, anunciando a data de 05/11/2011 como o dia de uma operação contra o uso do Facebook. Assista aqui.

Mais informações: oquestão

Escravidão no cerne do capitalismo de ponta


Pesquisadora que participou do estudo da OIT sobre o trabalho
escravo afirma que esse regime tem ganhado espaço na “era da globalização“.
Foto: Cícero R. C. Omena

 por Clara Roman
O trabalho escravo rural no Brasil é uma dPor as peças que constituem o desenvolvimento do capitalismo de ponta no país. Divulgado na terça-feira 26, um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) traçou um perfil dos trabalhadores e empregadores desse processo. Adonia Prado, pesquisadora Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que participou do estudo, alerta que esse tipo de trabalho, abolido em 1888, faz parte da estrutura do capitalismo avançado e da produção de commodities atuais.
“Ele é funcional a esse modo de produção globalizado altamente concetrador de renda”, explica Prado. Segundo a pesquisadora, essa exploração vem ganhando espaço no mundo todo e existe, em graus diferentes, em quase todos os países. São empreendimentos de ponta, diz ela, que produzem para exportação. Na cidade, o trabalho escravo também está ligado a grandes marcas, como foi o caso recente com a loja Zara, que comprava roupas de confecções ilegais e escravagistas. “Não é resquício de outros tempos”, diz ela.
O estudo da OIT mostrou que a maior parte dos trabalhadores era negra (18,2%) e parda (62%) e veio do nordeste para as regiões norte e centro-oste, onde acabaram “presos” em fazendas escravagistas. O endividamento e falta de localização – as fazendas são afastadas de centros urbanos e pontos de referência e em regiões estranhas aos empregados – são as principais razões para que os trabalhadores não consigam sair dessa condição. Apesar de não ter visto nenhum capataz nas visitas de fiscalização para a produção do estudo, Prado aponta que documentos de seu grupo de estudos constataram a presença dessa figura, que utiliza a violência como forma de coerção para manter a prisão, em outras visitas feitas.
Na maioria dos casos, o trabalhador é obrigado a comprar comida e equipamento do patrão. Ao final do mês, ele deve mais do que ganhou. “Na maioria dos casos o trabalhador pobre tem um senso moral muito aguçado”, comenta Prado. “E fica com a consciência culpada; acha que deve ao patrão”, diz ela.
“Vale a pena para os empregadores manter essa condição subumana”, diz ela. O empregador, cujo perfil é do homem branco e nascido na região sudeste, considera que o custo final do produto é menor que o do trabalhador que tenha seus direitos protegidos. A pesquisadora explica que até hoje nenhum empregador foi para a prisão por ter propriedades com trabalho escravo, apesar de inúmeros julgamentos que já ocorreram. “No máximo pegam pena de prestação de serviços comunitários”, conta ela.
Prado indica que há um movimento de rechaçamento deste tipo de prática. O Ministério do Trabalho disponibilizou em sua página uma lista com 245 empregadores que devem ser evitados tanto na hora de pedir emprego quanto pelos compradores de seus produtos. “Essa indicação faz com que esses empreedores percam mercado porque muitas empresas inclusive fora do Brasil deixam de se interessar”, diz ela, que aponta para a criação de dificuldades econômicas para os empreendores como uma das maneiras de se erradicar esse modo de produção desumana.
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