Equipe de especialistas disse que materiais analisados não tem nenhum parentesco biológico com os estudantes e episódio acentua o debate sobre desaparecimentos forçados no país
12/11/2014
Depois de analisar as primeiras
seis valas de Cerro Viejo e os localizados pela Procuradoria Geral da República
do México, no lixão de Cocula, os peritos da Equipe Argentina de Antropologia
Forense (EAAF) chegaram a conclusão que os restos mortais encontrados não são
dos 43 estudantes desaparecidos em setembro. Até então os procuradores já davam
como certo que as valas encontradas eram dos estudantes.
Em comunicado, a EAAF revelou
que “até o momento, não tem havido identificação entre os restos mortais recuperados
e os 43 estudantes [...] nenhum deles mostrou probabilidade de parentesco
biológico”.
Foram analisados 30 restos
encontrados em Cerro Viejo, nove em La Parota e os encontrados no lixão de
Cocula, cuja quantidade não é precisada no comunicado.
O episódio acentua o debate
sobre os desaparecimentos forçados no México, já que se desconhece a quem
corresponde os restos encontrados nos locais citados acima.
O caso
Oitenta estudantes da escola
rural para professores Raúl Isidro Burgos, da cidade de Iguala, viajavam em
ônibus da empresa Costa Line. No dia 26 de setembro, estavam se organizando
para coletar fundos para pagar a escola.
Quando já iam sair dali, alguns
patrulheiros da polícia municipal quiseram parar a caravana, que não quis
parar. Os policiais, então, segundo o testemunho anônimo de um jovem presente
no local, começaram a disparar em direção aos ônibus.
A princípio, os policiais
dispararam contra os ônibus, mas, depois de algumas horas, quando os estudantes
davam uma coletiva de imprensa para denunciar o ataque contra eles, outros
homens sem uniforme, que muitas testemunhas reconheceram como policiais
municipais, dispararam outra vez e, mais tarde, balearam outro ônibus no qual
viajavam jogadores da equipe local de futebol Avispones.
O saldo foi de seis mortos,
três dos quais estudantes, e vinte feridos. Cinquenta e sete estudantes
despareceram, sendo que vinte deles, como afirmam testemunhas oculares, foram
levados à força por policiais de Iguala e do Estado de Guerrero. Quase duas
semanas depois, 43 estudantes ainda estão desaparecidos.
Fonte: Brasil de Fato
Meu filho está vivo
RESUMO
Militón Ortega é pai de Mauricio Ortega, 17, um dos 43 estudantes de uma escola rural mexicana que estão desaparecidos desde 26 de setembro, quando o ônibus em que estavam foi atacado na cidade de Iguala por narcotraficantes e por policiais para que não fossem a uma cerimônia em que a primeira-dama da cidade apresentaria sua candidatura à prefeitura; muitos creem que os alunos estejam mortos, Militón não.
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Meu irmão me ligou às 10 horas do dia 27 de setembro para dizer que meu filho Mauricio, de 17 anos, estava junto com outros 42 estudantes em um ônibus que tinha sido sequestrado por narcotraficantes no dia anterior.
Sou padeiro, estava fazendo pães e doces, a família cuida de uma pequena horta. Paramos tudo o que fazíamos. Nossa vida mudou.
Vivo na montanha, em Monte Alegre [povoado de 371 habitantes, dentro do município de Malinaltepec, a 1.720 metros de altitude e onde 86% da população fala língua indígena).
O povoado fica a sete horas de carro da escola de magistério onde meu filho estudava. A última vez que ele tinha estado em casa foi umas duas semanas antes do sequestro.
Mauricio começou na Escola Normal de Ayotzinapa em julho. Ele é o mais velho de nossos cinco filhos, e é a primeira pessoa da família a ir adiante nos estudos.
Será o primeiro professor da família, e tenho um orgulho enorme dele.
Esses jovens estão vivos. Meu filho está vivo. Acho que estão sequestrados em algum lugar. O governo que se mexa para encontrá-los.
O presidente [Enrique Peña Nieto] levou várias semanas para nos receber e o fez graças à pressão de muita gente. Ele nos disse em Los Pinos [o palácio presidencial, na Cidade do México] que sofria nossa dor e estava conosco moralmente. E disse que reforçaria as buscas pelos estudantes. Até agora não vimos resultado.
Mas falou que havia "chegado a um acordo" com os familiares, que o governador de Guerrero já tinha renunciado. Como pai, isso não me interessa. Sofrimento não se negocia. Confiança se conquista com feitos.
O governo federal já queria fechar o caso. Ouviram um delinquente dizendo que eles tinham sido mortos, incinerados e jogados no rio, mas era mentira.
Já quiseram até discutir reparação de danos em uma das nossas reuniões. Não aceitamos. Não dá para encerrar o caso ou começar a falar de dinheiro. Eles querem nos dividir?
CÚMPLICES DO PODER
Em Guerrero há muita insegurança. Os narcotraficantes são tolerados e são até cúmplices do poder. Têm vínculos com o Exército, a polícia, os servidores públicos.
Eu disse isso ao próprio procurador-geral da República. Nós sempre ouvimos falar de crimes, mas a gente não acha que algum dia isso possa acontecer com a nossa própria família.
O governo não tem credibilidade. Mas o que aconteceu em Iguala, onde o prefeito era ligado aos narcos, acontece no país inteiro.
Eles pagam as campanhas políticas, então podem fazer o que quiserem.
Vou a protestos, vigílias, ao palácio presidencial, não paro. O perigo é a chama acabar, o perigo é que as pessoas esqueçam do nosso caso, que mudem de assunto. Precisamos ser incansáveis para não deixar isso acontecer.
Mauricio reclamava muito da escola, que estava caindo aos pedaços, que não há dinheiro para reformas, nem para comprar materiais.
Meu filho já tinha participado de coletas de dinheiro em povoados para arrecadar fundos para a manutenção de Ayotzinapa.
Parte da reforma educativa do governo prevê o fechamento das escolas normais do país, que formam professores nas zonas rurais.
Sabe por que querem fazer isso? Porque delas saem professores com espírito crítico. São obstáculos para qualquer governo.
Fonte: Folha UOL
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