É claro que assinei o
abaixo-assinado e a carta aberta de jornalistas sobre abusos de programas
policialescos e sensacionalistas na Bahia. Foi o primeiro manifesto da
consciência depois de assistir ao vídeo onde a deprimente e faz de conta de
repórter Mirella Cunha, da TV Band Bahia, tenta, de forma desesperada e
infeliz, alçar seu “profissionalismo” através de total desrespeito ao Código de
Ética dos Jornalistas, aos direitos humanos e à Constituição Federal.
Embora acusado de roubo e
estupro, não são os possíveis crimes cometidos pelo jovem, negro, identificado
como Paulo Sérgio que gera indignação naqueles quem têm coragem e estômago de
assistir ao vídeo na íntegra. As investidas da jovem Mirella Cunha, loira,
identificada como repórter do programa Brasil Urgente (Bahia), em cima do
desconhecimento do garoto sobre temas nem tão abordados assim pela mídia, causa
repulsa. E lágrimas.
Confesso que por ser
jornalista, negro e jovem essa aversão à postura da jovem Mirella Cunha esteja
factível às influências. Mas, ao mesmo tempo, as inúmeras manifestações de
repúdio Brasil afora indicam justamente o contrário. E Mirella não está
sozinha. Ela representa, de uma das formas mais aberrante e desprezível
possível, uma grande parcela de pessoas que se julgam jornalistas, repórteres e
também de emissoras que apostam (e jogam sujo) na prática de um jornalismo
descompromissado com o desenvolvimento social. Para estes, o que vale é o
crescimento da audiência, não importando os caminhos para se chegar lá.
A boa conduta social e o
respeito ao próximo manda que cada cidadão cumpra com seus deveres e respeite
os direitos alheios. O descumprimento pode (e deve) incorrer em punições
jurídicas. Contudo, o mesmo não acontece com programas que abusam da boa
sensibilidade e extrapolam todas as fronteiras possíveis do respeito ao
cidadão. Em nome dessa tal audiência, infligem leis e ignoram as obrigações e
continuam desfrutando das concessões públicas. E o resultado mais imediato é a
criação de distorções e de heróis da miséria alheia, tal qual nossa personagem
da semana.
Josevaldo Campos, jornalista
Fonte: Retratos Avessos
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