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NOTA DO COMITÊ PAULISTA MEMÓRIA
VERDADE E JUSTIÇA
O Comitê Paulista Memória
Verdade e Justiça (CPMVJ), diante dos últimos fatos relacionados à constituição
e ao início do funcionamento da Comissão Nacional da Verdade, vem a público
externar o seguinte:
1. O CPMVJ reitera seu apoio à
Comissão, espera que seus trabalhos comecem imediatamente após a posse dos seus
membros, e coloca-se à sua disposição para contribuir com as investigações das
violações praticadas pelos agentes da Ditadura Militar (1964-1985).
2. O CPMVJ considera que o sr.
Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça, não reúne as condições
necessárias para integrar a Comissão, por haver atuado como perito do Estado
brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos, tendo atuado contra os
familiares dos guerrilheiros do Araguaia cujos corpos encontram-se
desaparecidos até a presente data. A presença de Gilson Dipp, portanto,
compromete a isenção da Comissão, nos termos do artigo 2º, §1 inciso II do projeto de lei que a criou:
“Não poderão participar da Comissão Nacional da Verdade aqueles que (…) não
tenham condições de atuar com imparcialidade no exercício das competências da
Comissão”. Desse modo, exortamos a Exma. Sra. Presidenta da República, Dilma
Rousseff, a revogar a nomeação do sr. Gilson Dipp.
3. O CPMVJ estranha e repele
declarações de alguns membros da recém-nomeada Comissão Nacional da Verdade que
contrariam o elementar sentido de sua criação. Tratando-se de uma Comissão que
tem por objetivo a verdade, espanta que a própria verdade de sua criação seja
obscurecida por alguns de seus membros. A Comissão instala-se para esclarecer
violações de direitos humanos e crimes contra a Humanidade de responsabilidade
do Estado brasileiro. Nisto não há “outro lado”. Tentativas de desvio desta clara e única
finalidade devem ser imediatamente denunciadas como um golpe contra a
consciência democrática do país. Não deveria ser necessário dizer que somente
se pode buscar a verdade que está oculta: quem são os responsáveis e quais são
todos os fatos e circunstâncias relativos às barbáries praticadas pelo Estado
contra opositores políticos no período da Ditadura Militar. É isto que a
sociedade não sabe. No plano ético, a consciência democrática do país não
aceitará mais que a apuração de crimes contra a Humanidade, que marcam
indelevelmente a história de um país e jogam sombras sobre as futuras gerações,
seja obscurecida por mistificações que somente atendem os que têm medo do que o
passado vai revelar e do que o futuro lhes reservará quando a verdade ganhar a
luz do dia.
4. O CPMVJ também repudia
firmemente as inoportunas e intempestivas declarações de membros da Comissão
Nacional da Verdade de que é “impossível” a revisão da Lei de Anistia. Convém
lembrar que a persecução criminal aos responsáveis por crimes contra a
Humanidade — assassinatos, torturas, violações, desaparecimentos — é hoje
obrigação assumida pelo Estado brasileiro perante a ordem jurídica
internacional e que, neste momento, decorrido o prazo fixado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos, o Brasil somente pode ser reputado Estado
fora da lei. A criação da Comissão representa, apenas e tão somente, o
acatamento pelo Estado brasileiro do primeiro ponto daquela decisão. É
inaceitável, assim, que precisamente membros da Comissão desinformem a
sociedade e se ponham a serviço de interesses que não são os da democracia.
São Paulo, 15 de maio de 2012
ps: O Comitê Paulista Memória
Verdade e Justiça é formado por ex-presos políticos, parentes de mortos e
desaparecidos e ativistas de direitos humanos. Entre os integrantes, os jornalistas Rose Nogueira, Denise Fon, Pedro Pomar e
Antonio Carlos Fon, o procurador Marcio Sotelo Felippe e o advogado Aton Fon
Filho
Fonte: Vi o Mundo
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