Foto: Wilson Dias/ABr, para a Jovem Pan |
José Rubens
Mascarenhas de Almeida
Assisti ao pronunciamento da Presidente
Dilma Rousseff, ontem (30/12/2012), cuja razão formal foi o 1º de Maio (Dia do
Trabalhador). Prostrei-me de frente à televisão sem esperanças de ouvir nada de
novo, confesso, já que o referencial político do atual governo nada tem a ver
com a nomenclatura dos partidos (sou tentado a rotular de agremiações) que
hegemonizam.
Mas, tratava-se do 1º de Maio, dia da
maior referência da classe trabalhadora por tudo o que representa, política e
historicamente, e cedi à tentação.
Ouço cada palavra e minha indignação
cresce. Mas, isso não acontece porque tenha me surpreendido. Não. Desde o
começo dessa reflexão adiantei que não esperava nada de novo, no entanto não
esperava um discurso tão irremediavelmente miserável: o governo representante
do “Partido dos Trabalhadores” fazer um discurso no dia do Trabalhador, cujo
conteúdo nada tem daquilo que propõe. Até mesmo as raízes históricas do PT
foram desrespeitadas. Vejamos:
a) O
discurso insosso, inodoro e com gosto de chuchu que ouço não é o de um partido
que se entenda por "dos trabalhadores", aliás, não é de nenhum
partido ou de é de todas as agremiações que acompanham o fisiológico governo
neoliberal (por mais que digam que este tenha expirado) da presidente Dilma
Rousseff.
b) O
escopo lógico para um discurso do dia do trabalhador deveria ser o de
enaltecimento dos feitos da classe trabalhadora, de sua história de lutas, de
sua trajetória para não se submeter à exploração do capital e da luta
contra os mecanismos de dominação da sua classe antagônica: a burguesia. Seria
a lógica para qualquer discurso que realmente entendesse a luta dos
trabalhadores e que falasse desse locus. Mas não. O Executivo
brasileiro faz um discurso, em rede nacional de radio e televisão, no Dia do
Trabalhador para falar de um monte de coisa que nada tem a respeito da classe
que vive do trabalho. Pelo contrário, o conteúdo da sua fala é tipicamente
tecnocrático – como tem sido os governos do sindicalpetismo.
c) O discurso da chefe do Executivo brasileiro falou
da ótica gerencial de qualquer empresa, um discurso tecnocrático – daqueles que
se dão ao luxo de ver em tudo problemas técnicos e mais nada) –, subsumindo a
política pela burocracia, contendo garfes também irremediáveis, a exemplo de
“cuidar do desenvolvimento das pessoas significa lutar por uma saúde melhor
pros brasileiros pobres de classe media”; “Enxergá-lo
também, como consumidor, com condição de comprar todos os
bens e serviços que sua família precisa pra viver de maneira cômoda e feliz”.
Para a Presidente viver feliz é viver consumindo, acriticamente. Para ela o
mundo ideal – e real - é o dividido entre produtores e consumidores: “É bom
também que você consumidor faça prevalecer seus
direitos” e “Quando atingirmos esse patamar, nossos produtores vão
poder produzir e vender melhor e nossos
consumidores vão poder comprar e pagar com mais tranquilidade”.
Por fim, a fala presidencial dá a conotação que tem de uma economia sólida e
defende a fração burguesa no poder (a financeira): “Nos últimos anos, o
nosso sistema bancário é um dos mais sólidos do mundo, está
entre os que mais lucraram. Isso tem lhes dado força e estabilidade. O
que é bom para economia” [1].
Faltou-lhe o discernimento e compromisso ideológico com suas raízes para asseverar
"economia burguesa).
No discurso presidencial do Dia
Internacional do Trabalhador, a memória e a história das lutas operárias foram
as grandes ausentes, quer seja em escala nacional, quer na mundial. Sequer a
origem da comemoração foi lembrada, quando o discurso formal se justificava por
este motivo. Mas, NADA! No discurso para o 1º de Maio da chefe do Executivo
Nacional do Brasil, o Dia do Trabalhador foi transformado no Dia
do Consumidor! LAMENTÁVEL!
d)
Por outro lado, pasmem, o conteúdo do discurso presidencial da representante
maior do “partido dos trabalhadores” no 1º de Maio versou sobre o mundo ideal
da burguesia, sobre a fantasia da conciliação de classes e encenou um “ferrenho
combate” aos juros altos no Brasil. Enfim, um discurso alienado, previsível e
miserável, irremediavelmente miserável. TRISTE!
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