Até hoje a sociedade brasileira
não tem informações precisas sobre o que aconteceu com centenas de perseguidos
políticos durante a Ditadura Militar (1964-1985), mortos sob tortura e
desaparecidos depois de capturados pelos órgãos da repressão vinculados à Segurança
Pública e às Forças Armadas.
Há muitos anos – desde antes da
Lei da Anistia de 1979 – que ex presos políticos, familiares de mortos e
desaparecidos, entidades de direitos humanos e movimentos sociais diversos,
exigem o esclarecimento da verdade, que se conheçam os nomes dos carcereiros e
torturadores e que se possam localizar os restos mortais dos brasileiros
assassinados sob a tutela do Estado.
Sem a elucidação de tais
crimes, sem a identificação e a punição dos autores, o Brasil seguirá com a
mácula de um país sem memória, com passado nebuloso, com lacunas históricas,
sem compromisso com os valores da Verdade e da Justiça. Pior: um país que não
enfrenta suas mazelas tende a reproduzi-las eternamente – como acontece com a
tortura e demais violências praticadas sistematicamente por funcionários
públicos.
Seria ingênuo imaginar que o
Estado brasileiro, depois de mais de vinte anos desde o fim dos governos
militares e da Constituição de 1988, tenha sofrido mudanças tão profundas a
ponto de levar a julgamento e condenar todos os que praticaram crimes de
lesa-humanidade, que promoveram a barbárie sob o pretexto de combater o
“inimigo interno”.
Mesmo porque as classes que
derrubaram o presidente constitucional João Goulart, em 1964, e deram
sustentação ao terrorismo de Estado, são as mesmas que respaldam o atual estado
democrático de direito, que promovem a exclusão social e que aprovam a contínua
violação dos direitos humanos no campo e na cidade. Resta, portanto, aos que
não pactuam com o esquecimento e a impunidade, lutar o tempo todo – sem trégua
– para que a Verdade e a Justiça venham a prevalecer.
É com esse espírito que a
revista Caros Amigos, empenhada em fazer o jornalismo independente e crítico,
oferece esta edição especial sobre a Comissão da Verdade, na expectativa de que
a pressão da sociedade seja forte o suficiente para exigir o mais amplo e
completo resgate histórico de tudo o que aconteceu nos porões da Ditadura.
Você vai encontrar matérias
sobre quem esconde os mortos do Araguaia, os rastros da Operação Condor no
Brasil, os herdeiros do Esquadrão da Morte, as empresas que financiaram a
tortura, os torturadores que continuam impunes, onde estão os arquivos da
ditadura, por que o Judiciário impede a realização da Justiça, a cumplicidade
da imprensa empresarial, as 50 testemunhas que precisam ser ouvidas pela
Comissão da Verdade, além de outras reportagens.
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