Afonso Silvestre*
O episódio de manifestação de
homofobia por alguns professores do IFBA – Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Bahia – na semana passada em Vitória da Conquista é um
dos fatos mais lamentáveis, entre tantos que o país está vivendo. Eles mostram
que precisamos ainda amadurecer muito nossas discussões e entendimentos acerca
dos direitos humanos. Uma questão cultural, e até mesmo de educação. Como tem
havido muitas pessoas supostamente esclarecidas proferindo e incitando a
desigualdade, a violência contra perfis de característica, a inversão de
valores, conclui-se que a institucionalidade faz leis mas não prepara as
pessoas para cumpri-las.
Nesses tempos de lutas sociais,
não de classes, mas de categorias, começaram a se destacar, ou desvelar, grupos
identitários que buscam um lugar mais digno na pirâmide social, diante das
possibilidades criadas por uma série de governos que, nos últimos anos vêm
buscando cumprir os preceitos da Constituição Cidadã de 1988. Porém, um
movimento contrário, de retrocesso, vem reclamar contra os direitos desde
sempre negados a essas pessoas, usando o racismo, a homofobia e a ignorância
como medidas de proteção contra a mobilidade social.
O preconceito é uma defesa
natural do intelecto humano contra aquilo que ele considera diferente, contra o
outro, o mal conhecido. Eu tenho o direito de discordar de você, mas eu não
tenho o direito de não te aceitar. Quando o preconceito progride para atos de
ódio como racismo ou homofobia, ele passa a se configurar como um defeito deste
intelecto.
A homofobia designa um agravamento do preconceito, uma reação emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão. São reações excessivas, deslocadas e injustificadas, talvez por emanarem de um conflito interno.
A homofobia designa um agravamento do preconceito, uma reação emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão. São reações excessivas, deslocadas e injustificadas, talvez por emanarem de um conflito interno.
Quando essas atitudes partem de
professores de uma instituição federal, o fenômeno toma proporções ainda mais graves.
Isto porque o Governo Federal tem sido o principal agente na luta contra as
desigualdades, e tem buscado regular essas questões em planos, orientações,
leis e programas. É um alerta para uma situação delicada que a sociedade
brasileira vive neste momento de transição social e econômica. Ele demonstra
que agentes sociais formadores de opinião, e que mantêm relação de poder com os
beneficiários do seu trabalho, têm parco esclarecimento sobre determinadas
circunstâncias, determinados fenômenos da atual conjuntura social, econômica,
política, histórica e cultural.
Os emails do IFBA são um lixo em
todos os aspectos: trazem erros de semântica, de sintaxe, de ortografia, de
gramática e de entendimento da realidade brasileira, expondo outra ferida grave
em nossa sociedade, que é a qualidade do ensino. E estamos tratando aqui de um
instituto tecnológico reconhecido como referência. Depois, ao professar a
ignorância quanto a questões de etnia e de perfis de característica de
orientação sexual, incitam o ódio e a violência. É preciso que algo seja feito
para que professores aprendam a ler, escrever, ouvir e falar para que, então,
possam interpretar os discursos que ouvem, que lêem, que vêem. Como os assaltos
à gramática e aos direitos humanos foram feitos por professores do IFBA, é
preciso que a instituição os qualifique, ou faça um remanejamento para uma
atividade mais simples. Educar é mais difícil, exige habilidades cognitivas
mais refinadas.
Afonso silvestre. Foto: blogdopaulonunes.com |
Entre outros impropérios, os
emails dão a entender que o “cidadão comum e branco” é o “cidadão normal”. Dizem
que negro serve para engraxar sapatos. E dizem mais, mas vou parar por aqui.
Como pai de aluno da instituição, tenho consciência de que o principal
responsável pela educação do meu filho sou eu, e que a escola deve ser meu
principal parceiro. Portanto, eu exijo que sejam tomadas todas as providências
legais, e conclamo à sociedade para que seja criado um fórum permanente de
debates sobre essas questões, para que a ignorância dos “doutos” seja
combatida.
*Afonso Silvestre
é historiador e pai de aluno do IFBA.
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