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Desde sua
eleição, Lugo vêm sofrendo grandes dificuldades em governar e aprovar leis,
pois o parlamento paraguaio ainda concentra-se sob as mãos do partido colorado.
Gustavo Menon*
22/06/2012
“Pobre Paraguai. Somos pobres e
poucos”, disse um homem que viaja com Eduardo Galeno numa viagem rumo à
Assunção. O país até hoje sofre a herança de uma guerra exterminou a população
paraguaia. Pouco restou. “A guerra maldita” dizimou inúmeros habitantes. A
indústria paraguaia que tentava se diversificar entrou em profunda
decadência. O país acabou se entregando
ao capital externo e as primeiras dívidas internacionais foram adquiridas.
Brasil, Argentina e Uruguai financiados sob o capital inglês ceifaram a única
tentativa de desenvolvimento econômico autônomo e sustentado no continente
durante o século XIX.
O genocídio com a população não
foi um ato de violência singular ao longo da história paraguaia. O ditador
Alfredo Stroessner perdurou 35 anos no governo do país impondo um governo
autoritário (54-89). A marca da ditadura paraguaia mais uma vez foi mortes,
torturas, perseguições e censura.
Passado alguns anos, Fernando
Lugo foi eleito o novo presidente do Paraguai em abril de 2008 colocando fim a
quase seis décadas de domínio do partido colorado. O teólogo e ex-bispo
católico foi recebido com entusiasmos pelas esquerdas latino-americanas e as
forças progressistas do país. Sua plataforma era realizar uma ampla reforma
agrária, combater a corrupção e lutar pela soberania enérgica revendo,
inclusive, os tratados de Itaipu.
Desde sua eleição, Lugo vêm
sofrendo grandes dificuldades em governar e aprovar leis, pois o parlamento
paraguaio ainda concentra-se sob as mãos do partido colorado. No âmbito institucional,
piorando ainda mais situação, o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico),
principal partido governista - que conta com 14 representantes no congresso -
retirou seu apoio ao presidente. O ápice dessa crise política aconteceu na
última quinta-feira (21) quando o congresso paraguaio instaurou um processo de
impeachment contra o presidente. Composta por 80 representantes, a câmara dos
deputados aprovou o julgamento de impeachment por 73 votos a favor e 1 contra.
O motivo alegado pela oposição é o fraco desempenho do presidente e a
responsabilização pela morte de camponeses e oito policiais durante um conflito
agrário na região de Curuguaty (no leste do país à 250 km de Assunção). O
problema da terra no Paraguai é antigo e, caso não seja resolvido com uma
reforma agraria radical - que vise a distribuição de terras para as classes
pobres – a violência no campo apenas se perpetuará.
A ação do partido colorado é
uma tentativa de golpe mascarada por via institucional. Vale ressaltar que o
mesmo parlamento de cunho conservador foi responsável por não aprovar o
ingresso da Venezuela no MERCOSUL. A velha classe dominante oligárquica aliada
ao latifúndio, que se articulada no interior do partido colorado, volta a dar
sinais golpistas em terras Guarani.
Até o final do ano passado os
paraguaios comemoravam o bicentenário de sua independência. De fato, ainda
falta muito para o povo paraguaio se liberte das garras das classes dominantes.
A queda de Lugo pode significar um retrocesso na correção de forças do continente,
uma vez que abre espaço para que as forças direitistas voltem assumir o
executivo. Mais do que isso, representa uma ruptura no ensaio latinoamericano
de dar respostas significativas ao neoliberalismo e a crise capitalista. Que as
vontades das urnas sejam respeitadas! Pelo bem da democracia.
*Sociólogo pela PUC-SP. Mestrando bolsista no
programa de Estudos de Pós-Graduados em Ciências Sociais pela PUC-SP.
Funcionário do Núcleo de Pesquisas Tecnológicas da PUC-SP (NPT-PUC/SP) e
docente na Faculdade de Ciências de Guarulhos – Facig.
Fonte: Brasil de
Fato
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