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domingo, 3 de junho de 2012

Para purificar a memória: sobre o esclarecimento da morte de Elson Costa


Zanira e Zailda, irmãs; Arnaldo, cunhado; 
Aglaé, esposa; Elson Costa.

01/06/2012
Colabora com AGEMT (opinião dos leitores),
direito à verdade, direitos humanos

Elson Costa nasceu em 26 de agosto de 1913, na cidade de Prata, Minas Gerais, filho de João Soares da Costa e Maria Novais Costa. Desaparecido em 1975, em São Paulo. Casou-se com Aglaé de Souza Costa.
Era o responsável pelo setor de agitação e propaganda do PCB.
Na manhã do dia 15 de janeiro de 1975, Elson foi preso no bar ao lado de sua casa, onde havia ido tomar café. Alguns vizinhos tentaram protestar contra a ordem de prisão dada por seis homens, pois, para eles, quem estava sendo preso era o aposentado Manoel de Souza Gomes que vivia na Rua Timbiras,199, bairro de Santo Amaro, em São Paulo.
Eu, Maria Helena Soares de Souza, CPF 036 173 867-68, RG 3 360 636-5, dei início a uma campanha no Facebook no dia 30/05/2012, com o objetivo de sensibilizar a Comissão da Verdade para esclarecer a morte de meu tio, irmão de minha mãe, Elson Costa, casado com Aglaé Souza Costa, desaparecido durante o tempo da ditadura.
Ele foi um pacifista, era contra a violência e a favor de uma revolução a partir de ideiais comunistas, aprendido e compreendido por ter sido militante do Partido Comunista (PCB) desde os 17 anos, até os 61 anos, idade que tinha ao desaparecer de sua casa em 14 de janeiro de 1974.
Elson Costa foi sequestrado perto de sua residência, na Rua Timbiras, 199, na cidade de São Paulo. Seu irmão Osvaldo Costa declarou o seu sequestro - relatado por vizinhos - em 26/02/1975 no 11° DP, conforme BO N°315/75, executado por seis homens em uma veraneio. O crime foi relatado em um jornal como tendo sido o sequestro de um rico comerciante da região, Manuel de Souza Gomes, nome usado na clandestinidade para que ele pudesse proteger-se da repressão.
Ele foi um dirigente experiente, que já passara em silêncio por duas prisões e tortura. Em suas palavras: “sobre tortura não se conversa”.
Seu nome correto está na lista oficial dos desaparecidos:
Elson Costa foi quadro do PCB, inicialmente no Triângulo Mineiro, desapareceu em 14 de janeiro de 1975.
A partir de 1973, depois de muitas prisões, desaparecimentos e torturas, a ditadura militar dedicou-se à caça dos militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), principalmente os de posição mais elevada no partido. Sua prisão aconteceu porque em 13 de janeiro do mesmo ano, a repressão localizou uma bem montada gráfica clandestina do PCB, debaixo de uma caixa d’água num sítio em que funcionava desde 1966.
Ele foi levado para uma casa em Itapevi, centro clandestino da repressão ligado ao DOI-CODI/SP, onde foi submetido a todo tipo de tortura. Seu corpo foi banhado em álcool, queimado e afogado no rio Avaré, segundo os depoimentos prestados à revista VEJA – e publicado em 18/11/1992 - por Marival Dias Chaves do Canto em 18/11/1992, ex- sargento e ex- agente dos órgãos de informação do Exército, que relatou terríveis e esclarecedores relatos sobre a barbárie dos porões da ditadura.
Surgiu uma notícia na Folha de São Paulo, em 1978, falando sobre absolvição – depois que ele já estava morto. Houve a publicação de um anúncio no jornal Estado de São Paulo e outra vinda da CNBB:
No entanto, as homenagens públicas não escondem que memória de Elson Costa foi manchada, pois em reportagem divulgada pela ISTO É, em 31/03/2004, ele foi acusado pelo Exército de ter fugido e buscado asilo em outros estados. Não posso deixar de pensar na ironia disso tudo: na data da publicação e na acusação de fuga e abandono total da família.
Ele foi sim, procurado pela família. Quando saiu a reportagem, sua irmã, Zailda Soares de Souza relatou o número de vezes que procurou em rostos de mendigos e pessoas com deficiência mental, nas ruas, encontrar a de seu irmão. Contou também a ida ao Manicômio Paulista para reconhecê-lo entre os doentes porque uma das pistas terminou neste local. Tudo em vão.
O telefone da casa dela foi grampeado pela polícia, que invadiu a casa numa madrugada, logo após a publicação do anúncio no jornal Estado de São Paulo, simulando uma procura pelo irmão que o Exército sabia muito bem não estar vivo. Ela exprimiu a sua dor claramente, ao dizer ao repórter “sempre tive um pouco de esperança de que ele poderia aparecer vivo, mas depois de tantos anos é triste parar de acreditar nisso”.
No início de 2002 as famílias dos desaparecidos políticos começaram a receber indenização do Estado. A esposa de meu tio também o fez, o que significa um aceite do Estado pela sua responsabilidade na morte de Elson Costa. No entanto, nunca foram esclarecidos oficialmente as causas sua morte e nem o local onde seu se encontra.
Reforço Ricupero, em seu artigo na Folha de São Paulo de 29/05/2012: não se trata de desejo de vingança, mas o de purificar a memória de Elson Costa e poder honrá-lo e sepultá-lo. E se o corpo estiver mesmo no rio Avaré, poder levar flores até lá e poder dizer a ele que sua memória está purificada e assim será preservada em nós. Por amor e humanidade, tão somente.
Fonte: AGEMT

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