Por Walter Hupsel
Os recentes imbróglios de
Ronaldinho Gaúcho no Flamengo e Adriano no Corinthians são bem reveladores da
estrutura do futebol brasileiro, se não da sua própria história. Adriano foi
contratado por quase seu peso em ouro, e passou mais tempo longe dos gramados
que da sua própria fisioterapia. Ronaldinho, depois de ser um dos protagonistas
da queda do técnico Vanderlei Luxemburgo, e da contratação do
"paizão" Joel Santana, rescindiu o contrato com o Flamengo que,
segundo o jogador, lhe deve cerca de 40 milhões de reais.
Menos de um ano e meio de
clube, dívida alegada de 40 milhões. É muito dinheiro. É dinheiro demais. Há de
se ver se os valores e reclamações do jogador, ex-craque, são verídicas. Mas
isso é coisa que a Justiça determinará.
Por enquanto, uso estes 40
milhões para uma breve reflexão: o Flamengo fez um contrato nestas bases?
Prometeu valores desta ordem? Tudo indica que sim. A Justiça decidirá quem tem direito ao que.
Se Ronaldinho reclama esta bolada, Patrícia Amorim, presidenta do clube, disse
que o "Flamengo será implacável na busca pelos seus direitos". Briga
de cachorro grande. Mas isso diz respeito apenas ao Flamengo, Ronaldinho e à
Justiça, certo?
Não. Errado, redondamente
errado. A dívida do Flamengo diz respeito a todos nós. O que quer que o
ex-craque Ronaldinho ganhe do Flamengo, este dinheiro saiu — ou deixou de
entrar — dos cofres públicos.
Os times brasileiros devem
imensas fortunas ao Estado. Contratam jogadores, pagam salários altíssimos a
técnicos porque deixam de pagar os impostos devidos. Jogam para a plateia,
jogam para a política (muitos dirigentes de clubes foram e são deputados
estaduais, federais).
O Flamengo, pego aqui apenas
como exemplo, deve cerca de 140% de sua receita anual aos cofres do Estado.
Seria como um trabalhador devesse dezesseis vezes o seu salário. Este
trabalhador já teria todas suas contas fechadas, estaria com nome sujo e
qualquer patrimônio teria sido penhorado para quitar as dívidas.
Mas isso não ocorre com os
clubes de futebol. Eles continuam devendo milhões de reais e, mesmo assim,
contratando jogadores a peso de ouro, repatriando ídolos, em um exercício
grotesco de irresponsabilidade.
Espero, sentado, claro, que a
frase da presidenta Patrícia Amorim pudesse ser por nós usada: "Vamos ser
implacáveis na busca de nossos direitos", inclusive aqueles de cobrar o
que um clube deve ao país.
Fonte: Br.notícias
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