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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Panis et Circensis

Por Walter Hupsel

Os recentes imbróglios de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo e Adriano no Corinthians são bem reveladores da estrutura do futebol brasileiro, se não da sua própria história. Adriano foi contratado por quase seu peso em ouro, e passou mais tempo longe dos gramados que da sua própria fisioterapia. Ronaldinho, depois de ser um dos protagonistas da queda do técnico Vanderlei Luxemburgo, e da contratação do "paizão" Joel Santana, rescindiu o contrato com o Flamengo que, segundo o jogador, lhe deve cerca de 40 milhões de reais.
Menos de um ano e meio de clube, dívida alegada de 40 milhões. É muito dinheiro. É dinheiro demais. Há de se ver se os valores e reclamações do jogador, ex-craque, são verídicas. Mas isso é coisa que a Justiça determinará.
Por enquanto, uso estes 40 milhões para uma breve reflexão: o Flamengo fez um contrato nestas bases? Prometeu valores desta ordem? Tudo indica que sim.  A Justiça decidirá quem tem direito ao que. Se Ronaldinho reclama esta bolada, Patrícia Amorim, presidenta do clube, disse que o "Flamengo será implacável na busca pelos seus direitos". Briga de cachorro grande. Mas isso diz respeito apenas ao Flamengo, Ronaldinho e à Justiça, certo?
Não. Errado, redondamente errado. A dívida do Flamengo diz respeito a todos nós. O que quer que o ex-craque Ronaldinho ganhe do Flamengo, este dinheiro saiu — ou deixou de entrar — dos cofres públicos.
Os times brasileiros devem imensas fortunas ao Estado. Contratam jogadores, pagam salários altíssimos a técnicos porque deixam de pagar os impostos devidos. Jogam para a plateia, jogam para a política (muitos dirigentes de clubes foram e são deputados estaduais, federais).
O Flamengo, pego aqui apenas como exemplo, deve cerca de 140% de sua receita anual aos cofres do Estado. Seria como um trabalhador devesse dezesseis vezes o seu salário. Este trabalhador já teria todas suas contas fechadas, estaria com nome sujo e qualquer patrimônio teria sido penhorado para quitar as dívidas.
Mas isso não ocorre com os clubes de futebol. Eles continuam devendo milhões de reais e, mesmo assim, contratando jogadores a peso de ouro, repatriando ídolos, em um exercício grotesco de irresponsabilidade.
Espero, sentado, claro, que a frase da presidenta Patrícia Amorim pudesse ser por nós usada: "Vamos ser implacáveis na busca de nossos direitos", inclusive aqueles de cobrar o que um clube deve ao país.
Fonte: Br.notícias

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