29.07.2013
SÃO PAULO - É impossível viver
sem dinheiro? Depende do seu estilo de vida. O administrador irlandês Mark
Boyle é um dos grandes expoentes de um movimento de pessoas que têm um padrão
de vida confortável, mas decidem, por opção própria, viver sem dinheiro.
Criador do portal Freeconomy, um site de compartilhamento de espaços,
habilidades e ferramentas, ele decidiu passar um ano totalmente sem dinheiro ao
julgar que o modelo econômico atual estaria destruindo a natureza e arruinando
a vida dos semelhantes.
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“Eu estava em uma época de
questionamentos, pensando sobre todos os problemas do mundo: destruição das
florestas, trabalho forçado, extinção dos recursos da natureza. Estava pensando
nos problemas ecológicos e sociais, e percebi que o dinheiro era um fato muito
importante dentro disso, ele nos separa do que consumimos. Mas não adiantava
apenas falar o que eu pensava. Acredito muito na frase de Gandhi: “Seja a
mudança que você quer ver no mundo”. Então decidi que eu ia viver do jeito que
eu acreditava, sem dinheiro. Nós não vemos os efeitos de nossas compras no
ambiente e podemos muito bem viver sem que seja preciso comprar, comprar e
comprar”, afirma Boyle em seu livro “O Homem sem Grana” (editora Best Seller),
cujos lucros foram revertidos para a criação da comunidade Freeconomy.
O ativista, que após se formar
trabalhou durante seis anos gerenciando uma empresa de alimentos orgânicos no
Reino Unido, escolheu o Dia Mundial Sem Compras (celebrado em 29 de novembro)
em 2008 para abandonar quase todos os seu bens materiais e dar início ao seu
novo estilo de vida, em que dependeria do seu esforço físico e habilidades
manuais para conseguir todas as suas necessidades básicas: transporte, moradia,
saúde, higiene, alimentação. Como sua principal meta era disseminar a ideia de
que viver sem dinheiro é bom, ele optou por manter apenas um notebook (que
carregou com energia solar e conseguiu acesso a banda larga prestando serviços
a uma fazenda) e sua bicicleta.
Viver sem dinheiro fez com que
ele perdesse a namorada, já que “é difícil ter vida social e viajar para vê-la
se você só usa a bicicleta como transporte e se alimenta com o que planta”. Mas
a experiência não foi traumática. O projeto, inicialmente pensado para durar um
ano, acabou sendo aplicado para três. E Boyle afirma que só voltou a mexer com
dinheiro para poder dar forma a uma comunidade onde todos vivam 100% da terra.
“Os anos que vivi sem dinheiro foram os mais felizes e mais saudáveis da minha
vida.”
Ainda que distante da filosofia
do “mainstream”, o pensamento de Boyle vai aos poucos ganhando adeptos. Ele
conta que em 2008, quando a crise econômica estourou no mundo, o movimento teve
um período de rápido crescimento. Segundo ele, quando a economia normal se
deteriora, as pessoas começam a procurar por outros modos para viver. Quando
muita gente não tem dinheiro, também cresce o interesse por saber como viver
sem ele.
Escambo
Quem também optou por uma vida
sem dinheiro foi a família alemã Fellmer. Para protestar contra o que eles
chamam de sociedade de consumo, o jovem casal Raphael e Nieve decidiu viver
apenas de escambo, ou seja, trocando suas habilidades por coisas primordiais
para a sobrevivência. O aluguel de um pequeno porão em Berlim, por exemplo, é
pago com serviços domésticos, como cuidados com o jardim e reparos na
residência principal.
Raphael conta que sua intenção não
é convencer as pessoas a viver sem dinheiro, mas inspirá-las a enxergar no que
estão pecando pelo excesso para que façam as mudanças que melhor se encaixem em
suas vidas. Para disseminar sua mensagem, o ativista criou um site, o Forward
the (R)evolution, em que fala a respeito do problema dos resíduos sólidos e do
consumo.
Nascido em uma família de
classe média alta alemã e formado em Estudos Europeus, Raphael só usa dinheiro
quando não encontra alternativa. Recentemente o casal utilizou o “vil metal” para
o pagamento dos exames pré-natal de Nieve, que deu à luz a pequena Alma.
Também alemã, Heidemarie
Schwermer, de 70 anos, decidiu viver sem dinheiro há quase duas décadas. No
começo, a ideia era que a experiência durasse apenas 12 meses, mas, assim como
aconteceu com o administrador Mark Boyle, a vida sem dinheiro se mostrou muito
mais interessante. “Foi uma grande libertação”, afirmou em entrevista à BBC. “O
melhor é a sensação de abertura. Não sei o que acontecerá à noite, nem na manhã
do dia seguinte. Não sinto medo, e sim uma grande curiosidade.”
A experiência deu origem a três
livros, cujos lucros foram doados a instituições de caridade e à produção do
documentário “Vivendo Sem Dinheiro”, exibido em 30 países.
Professora e psicoterapeuta,
Heidemarie sempre teve uma vida confortável, e chegou a ter mais de um carro na
garagem. No entanto, ao perceber que sua vida era regida muito mais pelo ter do
que pelo ser, vendeu a casa, cancelou as contas no banco e dividiu o dinheiro
entre os filhos. Os móveis foram oferecidos a vizinhos e amigos, e fez doações
aos mais necessitados.
A partir de então, começou
trocando coisas: oferecia seus serviços, desde limpar casas até ajudar as
pessoas com problemas pessoais, em troca de teto e comida. Agora ela diz que
não se trata exatamente de trocar, mas simplesmente compartilhar. "Dou o
que quero dar e me dão o que eu preciso. Muita gente tem problemas ou está
sozinha. Eu as escuto e as ajudo a pensar sobre o que querem fazer com suas
vidas”, diz ela. "É verdade que são os outros que ganham salários para
pagar o que eu como, mas eu também trabalho todos os dias. Faço coisas para as
pessoas. No mundo ocidental há muitas pessoas que se sentem isoladas, e eu as
ajudo com minha presença. Posso ser uma mãe, uma irmã, uma amiga, o que
precisarem."
FREECONOMY
O portal Freeconomy conta hoje
com 45.414 membros em 171 países, 545.449 habilidades, 112.043 ferramentas e
716 espaços. Mas mais do que criar um site, o desejo de Mark Boyle é formar uma
comunidade em que as habilidades das pessoas sejam capazes de garantir a mesma
segurança que o dinheiro traz. O ativista defende que as pessoas precisam de
dinheiro para ter o que comer, para pagar por um tratamento médico ou até mesmo
para comprar uma cadeira.
Porém, se puderem viver em uma
comunidade na qual um dos moradores possa prestar serviços médicos, outro possa
plantar e produzir alimentos e um terceiro saiba produzir uma cadeira, não será
preciso ter dinheiro. “Não acho que devamos apenas trocar habilidades. A
intenção não é que eu só ganhe a cadeira se fizer algo para a pessoa que sabe
confeccioná-la. Minha ideia é que as pessoas passem a confiar mais umas nas
outras e comecem a se ajudar e trocar favores, sem esperar nada em troca, mas
com a certeza de que sempre haverá alguém disposto a ajudá-las, por pura
bondade.”
A
comunidade alternativa Freeconomy adota os seguintes princípios:
1) Não precisamos do dinheiro
para sobreviver, podemos compartilhar habilidades e conhecimentos práticos em
vez de dinheiro e produtos;
2) Dar sem esperar nada em
troca, criando laços afetivos com sua comunidade;
3) Caso você não decida viver
de forma tão radical, prefira produtos naturais de pequenos produtores da sua
comunidade local em substituição aos das grandes corporações.
Fonte: Yahoo
Finanças
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