por Maíra Kubik
23 de Julho de 2013
"Basta de rosários em nossos ovários"
A Igreja Católica é uma
instituição legítima da nossa sociedade. O Papa tem todo o direito de vir ao
Brasil e ser recebido como chefe de Estado. Afinal, ele comanda um país, o
Vaticano. Ele pode passear pelo Rio de Janeiro da maneira como bem entender, de
carro aberto ou fechado, e se reunir como achar melhor com seus milhões de
seguidores jovens – sim, vou ignorar aqui o debate sobre como e com que
dinheiro a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi organizada.
Mas o Papa não tem direito a
tudo e sobre todxs. Ele não pode, por exemplo, espalhar por aí uma cartilha
apontando que famílias homoparentais não são propícias ao desenvolvimento de
uma criança. Muito menos afirmar que só é possível ser menino ou menina de
acordo com o sexo designado ao nascer. Com isso ele está simplesmente ignorando
todas as pessoas trans* do mundo e dizendo que elas não são, em última
instância, seres humanos.
O manual da JMJ pergunta:
“Recusar a adoção aos homossexuais não representaria homofobia?” E a resposta
é: ”Não, porque a questão é outra. Ter um filho não é um direito!”.
Pois bem, resposta errada. Isso
é sim homo-lesbo-transfobia.
Para mim, também é criminoso
pregar contra o uso de preservativos em um mundo assolado por doenças
sexualmente transmissíveis que podem levar à morte. Assim como acusar de
assassinato as milhões de brasileiras que anualmente interrompem de maneira
voluntária gestações indesejadas. Ao invés de debater isso como uma questão de
saúde pública, a criminalização do aborto só empurra as mulheres cada vez mais
para a clandestinidade, colocando suas vidas em risco.
Em 2010 eu pedi minha
excomunhão da Igreja. Escrevi uma carta ao então Papa Bento XVI explicando que
havia sido batizada involuntariamente ainda criança e que, já adulta, não tinha
nenhum acordo com essa doutrina. Nunca obtive resposta.
De qualquer maneira, eu nunca
poderia me considerar vinculada a uma instituição que, sob a desculpa de pregar
o amor, só estimula a intolerância. É uma pena que vamos ter que aguentar isso
a semana inteira.
Fonte: Território
de Maíra
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