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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Os direitos do Papa e os meus direitos

por Maíra Kubik
23 de Julho de 2013

"Basta de rosários em nossos ovários"


A Igreja Católica é uma instituição legítima da nossa sociedade. O Papa tem todo o direito de vir ao Brasil e ser recebido como chefe de Estado. Afinal, ele comanda um país, o Vaticano. Ele pode passear pelo Rio de Janeiro da maneira como bem entender, de carro aberto ou fechado, e se reunir como achar melhor com seus milhões de seguidores jovens – sim, vou ignorar aqui o debate sobre como e com que dinheiro a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi organizada.
Mas o Papa não tem direito a tudo e sobre todxs. Ele não pode, por exemplo, espalhar por aí uma cartilha apontando que famílias homoparentais não são propícias ao desenvolvimento de uma criança. Muito menos afirmar que só é possível ser menino ou menina de acordo com o sexo designado ao nascer. Com isso ele está simplesmente ignorando todas as pessoas trans* do mundo e dizendo que elas não são, em última instância, seres humanos.
O manual da JMJ pergunta: “Recusar a adoção aos homossexuais não representaria homofobia?” E a resposta é: ”Não, porque a questão é outra. Ter um filho não é um direito!”.
Pois bem, resposta errada. Isso é sim homo-lesbo-transfobia.
Para mim, também é criminoso pregar contra o uso de preservativos em um mundo assolado por doenças sexualmente transmissíveis que podem levar à morte. Assim como acusar de assassinato as milhões de brasileiras que anualmente interrompem de maneira voluntária gestações indesejadas. Ao invés de debater isso como uma questão de saúde pública, a criminalização do aborto só empurra as mulheres cada vez mais para a clandestinidade, colocando suas vidas em risco.
Em 2010 eu pedi minha excomunhão da Igreja. Escrevi uma carta ao então Papa Bento XVI explicando que havia sido batizada involuntariamente ainda criança e que, já adulta, não tinha nenhum acordo com essa doutrina. Nunca obtive resposta.
De qualquer maneira, eu nunca poderia me considerar vinculada a uma instituição que, sob a desculpa de pregar o amor, só estimula a intolerância. É uma pena que vamos ter que aguentar isso a semana inteira.


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