01.07.2013
Por que milhões de pessoas vão às ruas manifestar-se, mesmo sem ter tido conhecimento dos passos mais recentes dados pelos poderes do Estado no sentido da destruição do País?
2. Claro que para revoltar-se
nem precisam estar bem informados. Basta sentir os sofrimentos decorrentes de problemas que continuam
agravando-se : 1) transporte público insuportável e, além disso, nas grandes cidades, transporte particular
inviabilizado pelo excesso de veículos; 2) acesso difícil ou inexistente a serviços públicos de saúde e de educação, de
alguma qualidade, além de, no âmbito privado,
preços absurdos sem qualidade correspondente; 3) salários baixos; 4)
preços elevados, em mercados dominados por empresas e bancos concentradores; 5)
impostos e taxas numerosos e custosos.
3. Credita-se ter desencadeado
a faísca ao Movimento do Passe Livre (MPL), baseado em São Paulo e outras
cidades, organizado há anos e voltado para objetivos justos, embora limitados
4. O momento em que surgiram os protestos
devidos ao aumento das passagens de ônibus em São Paulo, coincidiu com os jogos
da Copa das Confederações, a qual expôs os superfaturamentos e outros absurdos
ligados à construção dos estádios.
5. É compreensível que associem
esses gastos suntuários às carências no atendimento das necessidades da
população.
6. Falta, porém, elevar mais o
número dos manifestantes e motivá-los a lutar pela erradicação das verdadeiras
causas das desditas do povo. Para isso é
urgente disseminar, para dezenas de milhões de brasileiros, as informações
econômicas e políticas relevantes.
7. Dizer-lhes, por exemplo: Os
gastos com a dívida pública absorveram 43,98% dos recursos federais em 2012.
Mais de R$ 750 bilhões. Para a saúde foram destinados somente 4,17% desses
recursos;3,34% à educação; 0,7 aos transportes; 0,39% à segurança e 0,01% à
habitação.
8. Os R$ 750 bilhões para a
dívida equivalem a quase o total dos investimentos públicos e privados no mesmo
ano. Significa que se esse dinheiro fosse investido produtivamente, em vez de
dilapidado em despesas financeiras, poderiam ser dobrados os gastos realizados
na produção e na geração de empregos.
9. Desde 1988 foram gastos 10
trilhões de reais com a dívida pública. Um trilhão é mil vezes um bilhão, e um
bilhão é mil vezes um milhão, que é mil vezes mil.
10. De onde veio isso: A
indústria e os mercados são controlados por empresas estrangeiras, que remetem
dinheiro ao exterior de mais de quinze modos. Os bens e serviços que vendemos
são subfaturados, e os que compramos são superfaturados.
11. Então se acumulam as
dívidas. O produto de nosso trabalho, os
nossos minérios, a produção agrícola, tudo é mandado para o exterior por quase
nada, e o governo ainda premia os exportadores e os isenta de ICMS e
contribuições sociais.
12. Por que é assim? Os
políticos recebem dinheiro das empresas e bancos concentradores para as
eleições e dependem também das TVs comerciais e imprensa, tudo ligado aos
concentradores financeiros.
13. Por isso o problema dos
investimentos produtivos não é só serem poucos, mas serem mal escolhidos e
realizados. Tudo é desenhado, orientado para o ganho dos concentradores:
transportes, educação, saúde, telecomunicações e energia.
14. E também: O transporte está
ruim? Lógico, as ruas estão entulhadas com veículos produzidos por montadoras
estrangeiras, às quais o governo
federal, os estaduais e os municipais dão prêmios e isenções de centenas de
bilhões de reais. E não construíram linhas de metrô. Por isso o trabalhador se
desgasta durante cinco horas por dia dentro das conduções. Não se fazem
tampouco hidrovias nem ferrovias para transportar passageiros e cargas.
15. A corrupção tem efeitos
muito mais graves que os percebidos pela grande maioria dos brasileiros. Esta
se indigna diante dos casos de
enriquecimento, na ordem de milhões de reais, dos políticos e agentes públicos,
que a grande mídia resolve expor, poupando os corruptos mais ligados aos
interesses estrangeiros.
16. O povo não protesta, ainda,
com a devida força, contra as lesões praticadas pelo atual governo ao
patrimônio público nos leilões de petróleo – trilhões de dólares entregues
praticamente de graça a petroleiras estrangeiras – nem contra a gradual
destruição da Petrobrás.
17. Ainda por cima Executivo e
Legislativo fazem demagogia decretando que 75% dos royalties do petróleo sejam
carreados para a educação e 25% para a saúde.
Ora, esses percentuais incidem sobre praticamente nada, além de a
produção ainda demorar, os royalties são 10% das receitas subdeclaradas (o
governo não controla o que sai).
18. Ainda se manifesta pouco
contra as concessões de ferrovias, portos e aeroportos financiadas pelo BNDES.
Igual com os empréstimos de grande vulto para empresas concentradoras e para as
parcerias público-privadas nos investimentos de infraestrutura, em que o setor
privado tem lucros garantidos pelo Estado, sem sequer investir.
19. Não se mostra ao povo de
que modo os bancos obtêm ganhos colossais. Apenas três bancos privados - Itaú, Bradesco e Santander - somam lucros anuais de R$ 30 bilhões,
emprestando e aplicando dinheiro dos depositantes. E o art. 164 da Constituição
obriga o Banco Central a financiar somente os bancos, proibindo-o de financiar
o próprio Tesouro Nacional.
20. Ignoram-se, ainda, os
prejuízos de trilhões de reais que resultaram das privatizações de FHC, como a
da Vale, a do BANESPA, dado ao Santander, e as das siderúrgicas. E as de
serviços públicos extorsivos e deficientes, como a eletricidade e as
telecomunicações.
21. Nem falam das antigas
estradas construídas com dinheiro público, mal conservadas e entregues a
concessionárias, que se cevam através de absurdos pedágios. E ninguém constrói
novas.
22. Está, pois, na hora de o
povo ser informado do que precisa saber para exigir instituições que revertam
a lastimável situação do País.
23. Conscientizá-lo de que a
luta é árdua. A mídia condenará as manifestações quando focarem no que
interessa, e recrudescerá a repressão policial, inexistente para vândalos e
assaltantes.
24. Mas o povo terá de
enfrentar isso tudo, se não quiser, mais uma vez, servir de massa de manobra
para os interesses que o têm mantido sem perspectivas de se libertar. Libertar-se
das imposições de potências estrangeiras, brutais embora ocultadas.
25. Em suma, ter-se-á de ir ao
fundo da questão: exigir autodeterminação, só possível num sistema político em
que os governantes não sejam escolhidos, cooptados, corrompidos nem acuados
pelos concentradores.
26. Os obstáculos são muitos.
Um dos principais é o tradicional jogo do império anglo-americano, de incitar o
ódio ideológico. Para vencê-lo, os brasileiros têm de se unir em torno de
questões concretas pautadas pelo interesse nacional.
27. Por exemplo, os
manipuladores qualificam o governo de socialista ou neocomunista, quando as
políticas dele privilegiam a oligarquia financeira imperial. Enquanto isso,
partidos como o PT e PCdoB espalham o mito de serem de esquerda.
28. O programa de reconstrução
do Brasil deve priorizar a reindustrialização sob capital nacional e dar ênfase
à defesa do País. O oposto do que acabam de fazer lideranças da Câmara dos
Deputados desengavetando o acordo que cede aos EUA, potência balística, nuclear
e imperial, a base de lançamento de
foguetes em Alcântara.
*Consultor em finanças e em
biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em
Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso
de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira,
postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México.
Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica.
Depois, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na
área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas
Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no
Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras,
São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário