Novos dados revelam: famílias que controlam linhas de ônibus em todo o país são campeões de calote na Justiça do Trabalho. Grupos acumulam milhares de processos
Por
Adamo Bazani*
Do blog Onibus Brasil
20
de junho de 2013
As
empresas e donos de companhias de transportes figuram entre os principais
devedores trabalhistas de todo o País. Os dados fazem parte de uma lista
oficial divulgada pelo TST – Tribunal Superior do Trabalho. Mas os processos
trabalhistas contra estes empresários são bem maiores, já que também existem
ações nos tribunais regionais e outras em andamento.
Além
disso, os dados se referem a processos ganhos, ou seja, dívidas mesmo que não
foram quitadas de processos que não cabem recursos mais. A lista exclui ações
que ainda estão sendo analisadas.
Entre
as pessoas físicas, encabeçam a lista os integrantes da família Canhedo.
Wagner
Canhedo Azevedo perdeu 1 mil 173 processos. Wagner Canhedo Azevedo Filho teve 1
mil 126 processos perdidos e não pagos. Eles são respectivamente o primeiro e
segundo lugares da lista de maiores devedores trabalhistas.
A
maior parte de processos se refere ainda à Vasp – Viação Aérea de São Paulo,
que ocupa o primeiro lugar entre as pessoas jurídicas, com 4 mil 913 processos
perdidos.
Mas
há empresas de ônibus da família no ranking, como a Viplan – Viação Planalto
Limitada, que figura na 15ª posição das 100 empresas mais devedoras de todo o
País com 1424 processos já julgados cujos trabalhadores tiveram ganho de causa
mas não receberam ainda um centavo sequer, segundo o Tribunal Superior do
Trabalho.
Nesta
quarta-feira, dia 20 de fevereiro de 2013, a Justiça desocupou um prédio e um
terreno da Wandel Transportes, também da família. Os imóveis foram leiloados no
ano passado para quitar dívidas trabalhistas. A data limite da desocupação era
nesta quarta, mas nada havia sido retirado. A Justiça retirou caminhões,
caminhões- tanque e ônibus antigos da Viplan. Mas os veículos continuam sendo
da família Canhedo.
A
família Niquini, dos transportes em São Paulo, também está na lista dos maiores
devedores trabalhistas do Brasil. Romero Teixeira Niquini aparece em sétimo
lugar com 609 processos perdidos.
Antônio
Eroles, que atuava nos transportes coletivos de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo, desde os anos de 1960, cuja empresa foi cassada pela prefeitura em 2009,
é o 12º da lista, com 476 processos devidos, seguido por Marli Eroles, que
ocupa a 13ª posição com 472 processos, e por Antônio Alexandre Eroles cno 14º
lugar com 468 ações perdidas e não pagas, segundo a classificação do TST.
Outros integrantes da família também fazem parte da lista.
Empresário na ativa devem bastante
Mas
não são apenas donos de empresas de ônibus cassadas ou que pararam de operar
que figuram entre os inadimplentes da Justiça.
O
poderoso empresário de ônibus da capital paulista, que detém quase metade do
sistema de São Paulo e é dono da encarroçadora Caio, José Ruas Vaz, está em 34º
lugar no ranking dos devedores na justiça federal trabalhista. Ele não pagou
274 ações que perdeu e não pode recorrer mais.
A
encarroçadora de Ruas Vaz, Companhia Americana Industrial de Ônibus – Caio,
está na 34ª posição entre as cem maiores pessoas jurídicas devedoras do País.
São 1062 processos nos quais os trabalhadores deveriam ter já recebido, segundo
lista do TST, elaborada no segundo semestre do ano passado.
O
empresário do ABC Paulista, Baltazar José de Sousa, também está entre os
empresários que mais desrespeitam decisões judiciais trabalhistas no Brasil.
Segundo a lista do Tribunal Superior do Trabalho, entre todos os empresários no
País que perderam ações trabalhistas federais, Baltazar está na posição de
número 71. São 189 processos que Baltazar perdeu na última instância e que não
pagou, segundo o TST.
Uma
das práticas de Baltazar, para driblar fiscalizações e apreensões, é passar as
empresas para os nomes de outras pessoas (parentes ou não) ou mesmo trocar os
nomes das empresas. A prática também é uma manobra para participar de
licitações. Não é possível fazer parte de certames com este tipo de débito,
julgado e não pago depois de todos os recursos.
Com
a mudança de nomes de empresas ou de controladores, a prática também consegue
ludibriar fornecedores de peças, combustível e até fabricantes que sofrem com a
inadimplência de muitos destes empresários.
Viação
Barão de Mauá virou Viação Cidade de Mauá. Mas esta também já está com
notificações judiciais. Viação São Camilo virou Empresa Urbana Santo André.
Como a Viação Januária não poderia participar da licitação do lote 02 de Mauá,
Baltazar criou as empresas TransMauá e Viação Estrela de Mauá, ambas não estão
mais em nome de Baltazar.
O
Tribunal Superior do Trabalho acha importante a divulgação destes nomes para
despertar a atenção de muitos trabalhadores que estão em dúvida para buscarem
seus direitos. Todas as ações que estão na lista foram ganhas e a Justiça pode
usar bens como garagens, ônibus e materiais para garantir o direito ao
trabalhador.
Para
a sociedade é importante para saber que tipo de empresário presta serviços de
transportes em suas cidades ou regiões metropolitanas e para os fornecedores de
carrocerias, chassis, peças e combustíveis é uma forma de identificar os riscos
a possíveis financiamentos para estes empresários.
É
importante destacar que não se deve generalizar ao erroneamente taxar todos os
empresários de ônibus.
Há
donos de viações honestos, que trabalham corretamente e que não podem ser
confundidos com esta minoria.
Mas
é dever jornalístico deste espaço tornar público o que muitos órgãos de
imprensa não têm coragem ou interesse de divulgar.
Os
passageiros, trabalhadores, fornecedores e bons empresários agradecem.
*Jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
Fonte:
Outras
Palavras
Nenhum comentário:
Postar um comentário