Policia Militar - Formatura
Daia Oliver/R7
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Corporação paulista matou 6% mais que polícias americanas entre 2005 e 2009
Luciana Sarmento, do R7
publicado em 07/06/2011
Relatório da Ouvidoria da Polícia de São Paulo aponta que mais de uma pessoa foi morta por dia em São Paulo por um policial militar entre 2005 a 2009
Com uma população quase oito
vezes menor que a dos Estados Unidos, o Estado de São Paulo registrou 6,3% mais
mortes cometidas por policiais militares do que todo os EUA em cinco anos,
levando em conta todas as forças policiais daquele país. Dados divulgados pela
SSP (Secretaria de Segurança Pública), e analisados pela Ouvidoria da Polícia,
revelam que 2.045 pessoas foram mortas no Estado de São Paulo pela Polícia
Militar em confronto - casos que foram registrados como resistência seguida de
morte - entre 2005 e 2009.
Já o último relatório divulgado
pelo FBI (polícia federal americana) aponta que todas as forças policiais dos
EUA mataram em confronto 1.915 pessoas em todo o país no mesmo período. As
mortes são classificadas como justifiable homicide (homicídio justificável) e
definidas pelo "assassinato de um criminoso por um policial no cumprimento
do dever".
Para Guaracy Mingardi,
ex-subsecretário nacional de Segurança Pública e pesquisador do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, a diferença no total de mortes do Estado e dos
Estados Unidos se deve à própria cultura geral da sociedade brasileira, que
tende a apoiar os assassinatos cometidos por policiais e prega que “bandido bom
é bandido morto”.
- Nós temos uma diferença. O
júri americano tem uma tendência a inocentar [o acusado] porque ele desconfia
do Estado. Aqui, apesar de o nosso Estado ser pior, o júri tende a condenar [o
acusado] porque ele considera que, se a polícia pegou, é porque ele tem culpa
no cartório.
Mingardi ressalta, porém, que a
letalidade em São Paulo diminuiu, embora ainda esteja "fora do aceitável”.
Segundo ele, o número de mortos pela Polícia Militar caiu especialmente depois
do massacre de Carandiru, ação policial dentro do presídio na zona norte da
capital paulista que terminou com 111 presos mortos em 1992. De acordo com o
especialista, só naquele ano, foram registradas cerca de 1.400 mortes no
Estado.
- Ninguém está advogando que
aqui tem que ser como na Inglaterra, por exemplo, que a polícia mata duas, três
pessoas por ano. Estamos falando em chegar num nível mais civilizado.
“Lógica de guerra”
Especialista em polícia do
Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo afirma que existe uma diferença na
própria história da Polícia Militar brasileira, que foi consolidada no período
da ditadura e criada com o objetivo de defender o Estado de seus inimigos. Essa
“lógica de guerra”, segundo Carolina, se mantém até os dias de hoje.
- Até hoje, a Polícia Militar é
força auxiliar do Exército. Ou seja, se tiver uma guerra, a PM pode ser
acionada. Ao mesmo tempo, ela tem que estar na rua e 99% do que ela faz não é
atender crime, mas lidar com conflitos cotidianos, coisas banais.
Carolina ressalta, no entanto,
que a polícia vem mudando ao longo dos últimos anos graças ao discurso de
direitos humanos. O processo, no entanto, é lento.
- Ainda falta muito, ainda é
uma polícia formada para combater o crime numa lógica mais dura. A gente precisa
entender que a polícia está se reinventando. Aos poucos, consegue trabalhar em
parceria com a sociedade civil.
Confira também
Para cada PM, 35 civis foram assassinados
Mortes x prisões
Para o professor de direito da
FGV (Fundação Getulio Vargas) Theodomiro Dias Neto, houve um avanço, mas ainda
tímido, no combate à letalidade policial nos últimos anos. Ele compara os
números atuais com os da década de 90, quando havia uma média de quatro mortos
por policiais por dia no Estado de São Paulo, e afirma que os últimos dez anos
ficaram “entre avanços e retrocessos”.
- O número de pessoas mortas
certamente não tem nada a ver com eficiência da polícia. Uma polícia eficiente
é aquela que faz um trabalho correto na prevenção do crime, com o menor número
de mortos e feridos possível. Quanto menor a proporção entre detenções
realizadas e mortos, melhor.
O relatório Força Letal -
Violência Policial e Segurança Pública no Rio de Janeiro e em São Paulo -,
lançado em dezembro de 2009 pela ONG internacional Human Rights Watch, aponta
que a polícia do Estado de São Paulo prendeu 348 pessoas para cada morte em
2008. Já a polícia norte-americana prendeu mais de 37.000 pessoas para cada
morte em suposto confronto no mesmo ano. O índice de prisões por mortes
cometidas pela polícia é 108 vezes menor em São Paulo do que nos Estados
Unidos.
Segundo Neto, a eficácia da
polícia americana comparada à paulista se dá, entre outros motivos, porque ela
é “mais bem controlada”.
- É uma polícia que mata menos
e prende mais.
Outro lado
A reportagem do R7 entrou em
contato com as assessoria da Polícia Militar, mas até a publicação desta
notícia, a corporação não havia se pronunciado sobre os dados apresentados
nesta notícia.
Fonte: Notícias.r7
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