por
Fabio Malini
Publicado em 20-06-2013
A imprensa soltou uma nota
afirmando que a Abin (órgão de inteligência do governo federal) passa a estar
de olho nas conversações dos perfis das redes sociais. Pelo que vejo, através
da análise de rede que faço aqui, a Abin deve estar trabalhando 24 horas sem
parar, com todo o seu pessoal mais o triplo de “voluntários”. Isso porque a
densidade da rede de tweets, com recorrência da palavra Dilma, publicados no
Twitter, só aumenta. Coletei, nos dias 16 e 17 de junho, esses tweets. Eles
somam 170 mil. Destes, 50 mil são de RTs (republicações). Peguei o arquivo e
plotei-o no Gephi, buscando saber quem são os Hubs dessa Rede. Grandes hubs são
aqueles que possuem ótimas qualidades de conexões. Autoridades são aqueles que
possuem ótimos conteúdos. O poder do segundo reside na credibilidade e na
difusão. O primeiro, nisso e no fato de obter e circular informações de
qualidade, para tantas outras autoridades. Resultado já sabido: Hubs são os
ativistas. Autoridades, os perfis mais noticiosos. Para quem quiser visualizar
no detalhe, é clicar aqui e baixar o pdf.
Explicado isso, vamos aos
verdadeiros resultados: a rede “Dilma” no Twitter possui uma densidade enorme.
Isso significa que quanto mais conexões (linhas) existirem nessa rede, mais
densa ela vai ficando (e isso não pára de acontecer). Uma alerta aí para a Abin
(rs) e uma má notícia: o trabalho de vocês vai ser impossível se o crescimento
continuar nesse nível. Essa densidade significa, em linguagem de “humanidades”,
que há muitas relações sendo produzidas. E essas relações criam, neste momento,
componentes (grupos) fortemente conectados. E os grupos estão na rua. Para se
ter uma ideia, a rede da figura acima possui 48481 componentes fortemente
conectados. E somente 5475 fracamente conectados. É um evento múltiplo de
grandes proporções.
Os três grandes grupos
Rede da Perspectiva Anti-Dilma no Twitter. |
Trocando em miúdos. De olho, o
que é possível ver? Que há três mega componentes fortemente conectados (dentro
desses 48 mil). O primeiro é o azul claro. Nele encontramos o grupo de oposição
a Dilma há anos. É uma rede cuja presença podemos visualizar: @robertofreire,
@faxinanopoder, @joapaulom, @blogdonoblat, mirandasa_, blogolhonamira,
@lidpsdbsenado, @rede45. Importante salientar que esses perfis ficam juntos
porque se retuitam. O caso do Noblat é interessante. Ele é retuitado por muitos
perfis, mas, de modo, mais recorrente por essa rede azul. Assim ele é “atraído”
para essa rede. Noblat pode dizer que não, mas a sua perspectiva acaba sendo
construída, e muito, por esse grupo.
A rede vermelha é o tradicional
grupo que blinda a Dilma na rede e constrói pontos de vista alternativos. Um
grupo que a própria Dilma passou a se manter com certa distância (em função da
aproximação da presidenta com os grupos tradicionais de mídia). O grupo é
formado por perfis tais como @zedeabreu, @stanleyburburin, @ptnacional,
@blogdilmabr, @emirsader, @rogeriocorrea. É hoje uma rede política consolidada.
E é quem está segurando o rojão da presidenta na rede. Veja: o que acontece com
a jornalista Mônica Bergamo é o mesmo que ocorre com o Noblat. Bergamo é uma
jornalista cuja perspectiva acaba sendo atraída pela rede de temas dilmistas.
Nem azul, nem vermelho, novos
atores da opinião pública em rede apresentam pontos de vistas mais conectados
com os das ruas.
Nem azul, nem vermelho, novos
atores da opinião pública em rede apresentam pontos de vistas mais conectados
com os das ruas.
Toda rede ligada a algum
político possui um certo padrão:a bipolaridade. Mas a grande novidade dessa
rede acima é a mancha verde do grafo. Compostos com grandes centralidades tais
como @iavelar, @helenapalm, @teclologoexisto, @semfimlucrativo, @matheusrg,
@personalescrito, @tsavkko, @cadulorena. Essa é uma rede que narra fatos que
nenhuma das duas outras gostam muito de discutir: a relação entre gastos
públicos e Copa, a questão indígena, a crítica do que é esquerda e direita (são
inúmeros temas). Ela tem perfil mais independente. E ganha relevância na
conversação na rede. Possui alta conexão com as redes que circundam o centro do
grafo. Isso significa que são perfis muito conectados com as ruas.
E
a velha mídia, onde está?
A velha mídia são os nós de
forte difusão. Como mostra a figura acima, que mostra o @estadao, o padrão é de
ser perfis muito retuitados pelos seus seguidores (desconectados com o resto da
rede) e por usuários de diferentes perspectivas (à direita da imagem). São
autoridades, muito em função, dessa enorme difusão de tweets. Contudo, por que
Folha, Estadão, Marcelo Tas, Rafinha Bastos – perfis muito retuitados – não
criam grandes clusteres (grupões)? Simples, porque são retuitados, mas não
retuitam. Os jornais, por exemplo, possui uma deontologia jornalística, cujo
valor reside no problemático “ver tudo de longe”. Ou seja, esses perfis não são
ativos DENTRO da conversação/manifestação, porque não criam relações. E quem
não cria relação não tem perspectiva.
Já as celebridades possuem
outro ingrediente. Quem é Rafinha Bastos ou Marcelo Tas? Uma autoridade igual
ao Estadão, do ponto de vista estrutural de rede: uma mega árvore nesse rizoma.
A força deles deriva da escala de seguidores que possuem. Se Rafinha ou Tas
assumem o risco de replicar continuamente outros perfis, eles assumirão uma
causa política do Outro. E conectar mensagens escritas por seus seguidores permitem
que discursos considerados menores sejam mega visualizados. Aqui reside um
egoísmo enorme, que também é o núcleo duro do valor capitalista desses perfis:
replicar vozes minoritárias ou não? O Marcelo Tas retuitaria – continuamente –
os fãs ou não? Por um lado, esses perfis têm tanta audiência, que não conseguem
administrar as interações via menções ao mesmo tempo em que possuem poucos
seguidores (o recado é que eles filtram as pessoas que querem estar atentos –
logo, se mantêm longe do que é notícia dentro do ativismo). Por outro lado, há
uma questão estratégica em torno da “imagem midiática” dessas grandes
autoridades. Se retuitam pessoas nos protestos, entram na causa e perdem “valor
de mercado”. A opção é tuitar algo original, próprio, para ser muito retuitado:
é o oportunismo do surfar no “assunto do momento”. O que percebo é que as
autoridades, como o Marcelo Tas. que vivem do “assunto do momento”, para obter
muitos RTs e serem mais vistos, acabam por fazer ironia sobre a dimensão
ativista, sem criar grandes musculaturas coletivas na dinâmica da rede. E, com
isso, acabam por serem simpáticos (ou antipático) ao movimento, legitimando-o
de alguma forma, mesmo que seja através de um “tirar uma casquinha para
aparecer”. É complexo, mas vejo por aí. PS: sigo ambos no Twitter. E gosto dos
dois.
A riqueza dessa rede Dilma está
nesse fim da bipolaridade e na intensidade de subgrupos que resolveram debater
se o governo da Dilma faz concessão demais ou não, é chanteado por grupo
econômicos e políticos ou não, se o governo apoia as ruas ou não, se o governo
vai manter as mudanças radicais abertas desde 2003 ou não. A questão na rede
passa muito por aí, para além da factualidade das notícias que se difundem.
C’est ça.
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