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Ricardo Antunes*
Publicado em 6 de agosto de 2012 às 10:35
O ProUni fortaleceu faculdades
de fachada. Já as federais, agora produtivistas, não têm nem prédios. Mas vozes
privatistas, “de mercado”, criticam a greve.
A expansão do ensino superior
durante os governos Lula e Dilma foi quantitativamente ampla, tanto para as
universidades públicas quanto para as privadas.
O primeiro grupo vivenciou uma
expansão dos campi muito significativa, através da profusão de cursos – muitos
dos quais, entretanto, pautados pela razão instrumental, de qualidade duvidosa
e em sintonia com a era da flexibilidade.
O segundo grupo viu o governo
do PT mostrar também um lado generoso em relação aos mercados. Faculdades em
sua grande maioria de fachada, autodefinidas como “instituições do ensino
superior”, carentes de rigor científico mínimo em sua docência e pesquisa
(esta, salvo raras exceções, inexiste neste ramo empresarial), tiveram seus
cofres inflados com o ProUni.
Já que os pobres são tolhidos
em larga escala das universidades públicas -uma vez que frequentam o ensino
fundamental em escolas públicas, que se encontram destroçadas-, o governo Lula
encontrou uma saída bárbara: reuniu-os nos espaços privados do ProUni.
De outra parte, deu-se
positivamente a ampliação das universidades públicas, através da expansão dos
cursos nas instituições federais e da contratação significativa de docentes.
Mas o governo o fez deslanchando o Reuni, programa de expansão das
universidades federais.
Constrangidos pelo produtivismo
(anti)acadêmico e calibrados pela competição, há precarização de condições de
trabalho. Os salários são baixos. A carreira, mal estruturada.
Mas o governo não contava que
essa ampliação quantitativa tivesse fortes consequências qualitativas: a nova
geração de jovens professores, doutores em sua grande maioria, parece não aceitar
sem questionamentos esse lado perverso do Reuni, que quer assemelhar
universidades públicas àquelas onde viceja o ProUni.
Dando aulas muitas vezes em
galpões, sem salas de professores (quando há, sem condições de pesquisar), os
docentes, cujos adoecimentos e padecimentos, para não falar de mortes, não
param de se ampliar, decretaram uma ampla e massiva greve nas federais.
Querem melhores salários,
condições de trabalho dignas e carreira efetivamente estruturada.
Os conservadores dizem,
tentando mascarar o desejo pela completa privatização, que a greve dos docentes
públicos é uma forma de “receber sem trabalhar”. “Esquecem” algo elementar:
qual docente, no juízo razoável de suas faculdades, quer arrebentar seu calendário
e repor aulas quando deveria estar em férias?
Só mesmo as vozes conservadoras
podem identificar uma greve, com suas atividades, assembleias, debates,
desgastes, riscos e tensões, como “descanso remunerado”, argumento histórico
das direitas derrotado pela Constituição de 1988.
Para muitas dessas vozes, a
pesquisa e a reflexão livres incomodam. Elas gostariam de privatizar as
federais, convertendo-as ou em universidades profissionalizantes ou, ao menos
parte delas, em “universidades corporativas”, uma flagrante contradição, pois
universalidade não rima com corporação.
Há um segundo ponto importante:
muitos alegam que é preciso investir no ensino básico, o que os leva a recusar
o apoio à universidade pública. Mas alguém seriamente acredita que aqueles que
querem destroçar a universidade pública querem, de fato, um ensino básico
público, laico e de qualidade?
*É professor titular de
sociologia na Unicamp e autor de “O Continente do Labor” (Boitempo).
Fonte: Vi o mundo
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