Ricardo Henrique Andrade*
É apenas aparente o contraste
entre a aprovação da presidenta Dilma e o malogro indicado nas pesquisas de
intenções de voto para petistas nas capitais. Desde que Lula se acreditou capaz
de eleger um poste, o PT não investe em sua identidade coletiva. Não mais se
organiza a partir das bases e uma oligarquia decide tudo sozinha. Setoriais,
secretarias, diretórios do partido têm atualmente um papel figurativo, sequer
opinam na condução dos governos. Os militantes que o fundaram hoje ocupam
funções comissionadas e nomearam parentes e amigos para afinarem o coro dos
contentes. Alguns sindicatos e movimentos sociais foram também cooptados com
cargos e verbas, arrefecendo o ímpeto de suas reivindicações históricas.
Escândalos de corrupção,
submissão passiva a lógica neoliberal (privatização, arrocho fiscal e todas as
medidas do receituário do Banco Mundial), retaliação aos servidores grevistas,
filiação oportunista de figuras espúrias que não possuem qualquer afinidade com
a história do PT estão liquidando o que restou da imagem de partido austero. O
espírito de esquerda foi exorcizado, esvaziando o conteúdo filosófico das
diversas tendências que o compõe em favor do personalismo de suas lideranças
mais ladinas. A atuação tragicômica de Lula nas campanhas de 2012 é a face
emblemática do desespero petista para se manter no poder.
O mérito das políticas sociais
do PT tem se convertido em crédito pessoal dos seus supostos mentores. Já não
discutem programas de governo, já não demarcam diretrizes e projetos; pretendem
apenas que o carisma dos candidatos e suas peripécias eleitorais dêem conta do
jogo. É triste ver um partido – que um dia sintetizou as expectativas de
mudanças profundas no país – se tornar uma legenda eleitoreira como outra
qualquer. O PT já foi considerado radical e politicamente intransigente, mas
parece que não foi suficiente abrir-se ao diálogo democrático com outras visões
de mundo; optou por render-se, covardemente, a um pragmatismo demagógico que,
ao que tudo indica, está se provando ridículo e ineficaz.
*Professor de Filosofia da UFRB
– Amargosa. Email: reseandrade@gmail.com
Um comentário:
caraca mano, parabéns ai ao professor ricardo, texto bem escrito e precisa ser bem lido também.
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