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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O fracasso do personalismo do PT


Ricardo Henrique Andrade*
É apenas aparente o contraste entre a aprovação da presidenta Dilma e o malogro indicado nas pesquisas de intenções de voto para petistas nas capitais. Desde que Lula se acreditou capaz de eleger um poste, o PT não investe em sua identidade coletiva. Não mais se organiza a partir das bases e uma oligarquia decide tudo sozinha. Setoriais, secretarias, diretórios do partido têm atualmente um papel figurativo, sequer opinam na condução dos governos. Os militantes que o fundaram hoje ocupam funções comissionadas e nomearam parentes e amigos para afinarem o coro dos contentes. Alguns sindicatos e movimentos sociais foram também cooptados com cargos e verbas, arrefecendo o ímpeto de suas reivindicações históricas.
Escândalos de corrupção, submissão passiva a lógica neoliberal (privatização, arrocho fiscal e todas as medidas do receituário do Banco Mundial), retaliação aos servidores grevistas, filiação oportunista de figuras espúrias que não possuem qualquer afinidade com a história do PT estão liquidando o que restou da imagem de partido austero. O espírito de esquerda foi exorcizado, esvaziando o conteúdo filosófico das diversas tendências que o compõe em favor do personalismo de suas lideranças mais ladinas. A atuação tragicômica de Lula nas campanhas de 2012 é a face emblemática do desespero petista para se manter no poder.
O mérito das políticas sociais do PT tem se convertido em crédito pessoal dos seus supostos mentores. Já não discutem programas de governo, já não demarcam diretrizes e projetos; pretendem apenas que o carisma dos candidatos e suas peripécias eleitorais dêem conta do jogo. É triste ver um partido – que um dia sintetizou as expectativas de mudanças profundas no país – se tornar uma legenda eleitoreira como outra qualquer. O PT já foi considerado radical e politicamente intransigente, mas parece que não foi suficiente abrir-se ao diálogo democrático com outras visões de mundo; optou por render-se, covardemente, a um pragmatismo demagógico que, ao que tudo indica, está se provando ridículo e ineficaz.
*Professor de Filosofia da UFRB – Amargosa. Email: reseandrade@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

caraca mano, parabéns ai ao professor ricardo, texto bem escrito e precisa ser bem lido também.