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A análise da Conjuntura da
Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do
IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos
– IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT,
parceiro estratégico do IHU, com sede em Curitiba-PR, e por Cesar Sanson,
professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, parceiro do
IHU na elaboração das Notícias do Dia.
O governo Dilma Rousseff
anunciou nos últimos dias um pacote de concessões de rodovias e ferrovias
denominado de Programa de Investimento em Logística: Rodovias e Ferrovias. O
pacote transfere para a iniciativa privada a manutenção, construção e
exploração de 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de
ferrovias. Em breve, o pacote deverá ser
ampliado com a incorporação de aeroportos e portos.
Os investimentos são da ordem
de R$ 133 bilhões para um período de 25 anos, sendo que R$ 79,5 bilhões serão
investidos nos primeiros cinco anos. O braço financeiro do Estado, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiará 80% dos
projetos. Para acompanhar a privatização foi criada uma agência reguladora: a
Empresa de Planejamento e Logística (EPL).
O governo recusa o rótulo de
privatização do programa. A presidente afirmou: “Hoje, estou tentando consertar
em ferrovias alguns equívocos cometidos na privatização das ferrovias. Estou
estruturando um modelo no qual vamos ter o direito de passagem de tantos
quantos precisarem transportar sua carga. Na verdade, é o resgate da
participação do investimento privado em ferrovias, mas também o fortalecimento
das estruturas de investimento e regulação”.
O ministro da Fazenda, Guido
Mantega, é outro que não aceita as críticas de que o setor de infraestrutura
estaria passando por um processo de privatização. Segundo ele, “em parceria
público-privada, é o setor público que vai fazer os investimentos. Privatização
é quando se vende os ativos para o setor privado. Estamos privatizando o quê?”,
questionou.
O fato incontestável,
entretanto, é que “concessão” é um eufemismo para “privatização”. No modelo de
Parceria Público-Privada (PPP) que serviu de âncora para o pacote, o Estado
realiza os investimentos e repassa a exploração para a iniciativa privada. No
caso da pura e simples privatização, o Estado vende os ativos para o setor
privado. Ambas, entretanto, redundam no fato de que o Estado investe e,
posteriormente, abre mão da propriedade dos ativos que lhe pertencem.
As Parceria Público-Privada
(PPP) sempre foram defendidas de forma entusiasmada por Antonio Palloci,
ex-homem forte no governo Lula. À frente da prefeitura em Ribeirão Preto,
Palocci imprimiu um modelo de administração fundado nas parcerias públicas-privadas
com a abertura do capital da Ceterp, a companhia telefônica municipal – medidas
essas consideradas pelo PT à época como neoliberais.
A economista da PUC-Rio, Monica
Baumgarten de Bolle, diretora do IEPE/Casa das Garças, de orientação liberal
ironicamente falou em reviravolta no governo Dilma: “O governo tardou, mas
ouviu. A presidente, em nova reviravolta, anunciou um plano ambicioso de
concessões nas áreas de transporte e logística. Um plano que, a despeito das
declarações de que não se trata de privatização, prioriza a eficiência do setor
privado e reconhece a ineficiência do setor público”.
Lula ao seu estilo e avesso ao
debate ideológico foi curto e direto: “Não interessa quem faz. Afinal de
contas, o povo muitas vezes não quer saber se quem faz é o Estado ou a
iniciativa privada. O que ele quer é o benefício”.
Parcerias
Público-Privada (PPP). O Estado como avalista da privatização
No caso das Parcerias
Público-Privada (PPP) há ainda um aspecto que se torna mais atrativo para o
capital privado: O Estado é o fiador e avalista do negócio. Isso significa que
o Estado garante que a “concessão” será lucrativa.
Isso está claro nas
“concessões-privatizações” das ferrovias. Até o momento, a estatal Valec era a
responsável pela construção das linhas férreas federais, agora, a construção,
manutenção e gerenciamento do tráfego dos 10 mil km de ferrovias ficará por
conta das empresas privadas. A Valec que continua estatal terá outro papel. Ela
comprará integralmente a capacidade de transporte de carga das novas
concessionárias e a revenderá, via leilões, aos interessados em transitar com
trens. Dessa forma, os empresários não correrão risco de prejuízo por causa de
demanda abaixo do esperado, porque o governo comprará tudo, admitindo até algum
prejuízo no início das operações.
Capital
e trabalho aplaudem o pacote
O capital privado gostou do
pacote. “Acho que é um modelo muito feliz”, disse o empresário Eike Batista que
atua fortemente no setor de infraestrutura e logística. Outro comentário,
ouvido por empresários ao avaliarem o Plano de Investimento em Logística foi:
"Demorou, mas antes tarde do que nunca”.
O pacote traz embutido ainda um
mimo para o capital que venha ganhar as privatizações. O governo deve conceder
desoneração da folha de pagamentos para os setores ganhadores dos leilões de
concessão como denomina. Para o presidente da Associação Brasileira da
Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, “a presidente já sinalizou que
entraremos nos setores beneficiados pela desoneração da folha. É uma medida que
pode ter impacto profundo na ampliação da produção nacional de trens",
comentou.
O capital aplaudiu o pacote
privatista de Dilma, mas não foi ele apenas. As principais centrais sindicais,
a Central Única dos Trabalhadores – CUT e a Força Sindical também elogiaram a
iniciativa. As medidas foram
consideradas como positivas pela CUT. O novo presidente da CUT, Vagner Freitas
disse que as medidas eram boas, mas incompletas. Para serem completas, disse
ele, o programa tinha de ter um item relacionado aos direitos dos
trabalhadores. “É preciso garantir a criação de emprego de qualidade, trabalho
e renda decente e organização no local de trabalho. E essas exigências têm de
estar no bojo do programa”, afirmou o presidente da CUT.
O presidente da Força Sindical,
Miguel Torres, disse mais ou menos a mesma coisa, mas foi ainda mais elogioso:
“Ela [a presidenta Dilma Rousseff] está acompanhando a mudança do mundo. Ser
contra a privatização por ser está caindo. Ela está vendo que tem a necessidade
de envolver o capital privado cada vez mais na economia”, disse Miguel Torres,
e em seguida, como o presidente da CUT “cobrou a inclusão de contrapartidas
para os trabalhadores, como a criação de empregos e qualificação”.
Governo
Dilma assume viés cada vez mais conservador
O modelo de privatização
anunciado por Dilma nos últimos dias não chega a ser uma novidade. À época que
esteve à frente da Casa Civil, Dilma foi muito elogiada por Lula pelo modelo
que arquitetou na entrega de lotes de rodovias federais para o capital privado.
Em 2007, a hoje presidente Dilma Rousseff liderou a “concessão” da entrega de
36 postos de pedágio em vias importantes como a Fernão Dias (que conecta São
Paulo a Belo Horizonte) e a Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba).
Entretanto, aquilo que no
governo Lula parecia um evento isolado, assume agora o caráter de programa de
governo. Faz poucos meses Dilma privatizou os três maiores aeroportos do país,
os terminais de Cumbica (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF) – o filé mignon do
setor.
Durante o anúncio do pacotão de
privatização de rodovias e ferrovias, foi anunciado que em breve portos e
aeroportos sob controle do Estado também serão contemplados com privatizações.
A retomada das privatizações por Dilma estaria associada a novas convicções da
presidente, a de que o enfrentamento à crise mundial exige uma espécie de
“choque de capitalismo” – Dilma não usa essa expressão, mas de certa forma as
medidas anunciadas vão por aí.
O pêndulo do governo oscila
entre o liberalismo e o keynesianismo. O ziguezague das medidas é enorme,
entretanto, as últimas têm oscilado mais para uma orientação liberal: aumento
do superávit primário, a criação do Funpresp (fundo de pensão dos funcionários
públicos federais), o fim da aposentadoria integral dos servidores,
congelamento de salários do funcionalismo que perdurou até o forte movimento
grevista e subsídios ao capital na forma de redução de alíquotas de encargos
sociais a determinados setores do capital privado manifestam certa ortodoxia no
governo.
Mas não é apenas na economia
que o governo tem se mostrado conservador, também no social. A reação virulenta
do governo ao movimento grevista de categorias federais revela autoritarismo. O
governo num gesto de endurecimento contra os servidores publicou o Decreto nº
7.777, que permite a substituição dos funcionários parados por servidores das
mesmas carreiras em Estados e municípios e, ato contínuo, pediu o corte de
ponto dos servidores em greve e sinalizou até mesmo com novos concursos.
Agora, nos últimos dias o
governo iniciou uma ofensiva jurídica para declarar ilegais as greves. A
despeito do mérito do método e das ações ensejadas pelo movimento grevista é
incontestável a mão de ferro do governo contra os trabalhadores.
A ponta de lança no ataque – do
ponto de vista jurídico – contra o movimento grevista vem da Advocacia-Geral da
União – AGU. O ministro Luís Inácio Adams, advogado geral da União, vem se
tornando um homem forte no governo Dilma. É cada vez mais onipresente e palpita
sobre tudo. É também da AGU, parecer de Adams, a portaria 303 que causou
inédita indignação no movimento indígena.
O viés conservador do governo
revela-se ainda na pouca apetência do governo para enfrentar a morosidade na
reforma agrária e na demarcação das terras indígenas. Por outro lado, o governo
tem sido tolerante com o agronegócio como se vê nas negociações do Código
Florestal.
Neodesenvolvimentismo.
Um desenvolvimentismo às avessas
As privatizações anunciadas
para rodovias e ferrovias somam-se aos vultosos recursos destinados a outros
grandes projetos como a transposição do rio S.Francisco, as hidrelétricas, as
obras da Copa. Em muitos desses projetos, o Estado alavanca o negócio para
benefício do capital privado ou mesmo posterior gestão do capital.
A concepção do governo é que o
Estado deve ser o indutor do crescimento econômico, mas não necessariamente o
gestor. Inverte-se desse modo o modelo desenvolvimentista inaugurado por Vargas
em que o Estado alavancava o crescimento e assumia a gestão das empresas
constituídas. Agora, o (neo)desenvolvimentismo funciona de outro modo, o Estado
entra majoritariamente com os recursos e posteriormente repassa o ativo para o
capital como se viu no pacote das rodovias e ferrovias. Assiste-se dessa forma
a uma desnacionalização da economia brasileira como afirma o economista Adriano
Benayon em entrevista ao sítio do IHU.
Esse modelo se faz ainda de
forma autoritária. É conduzido com mão de ferro. A construção das hidrelétricas
é emblemática. Faz poucos dias, a justiça determinou a paralisação das obras de
Belo Monte e afirmou que os indígenas precisam ser consultados.
O governo Dilma Rousseff
reedita em outro contexto o que aconteceu no período em que o país esteve sob mando
dos militares. Grandes obras de infraestrutura levadas a “ferro e fogo”. Agora,
também em nome do Brasil Grande, os que se opõem ao modelo são desqualificados
e vistos como aqueles que não compreendem ou não querem compreender o que
precisa ser feito para o país não perder o “bonde da história”.
Esse modelo conduzido com mão
forte não se dá conta ainda de outro elemento não existente na época da
ditadura: a emergência do tema da ecologia. O modelo desconsidera, menospreza,
desdenha, dá as costas para a problemática ambiental. Um exemplo, entre muitos,
foi a recém-edição da Medida Provisória nº 558 que manifesta que o governo não
está nem aí para que possa vir acontecer num futuro não muito distante.
PT
e PSDB cada vez mais iguais
As medidas anunciadas por Dilma
Rousseff de caráter privatista, o tratamento parcimonioso para com as demandas
dos movimentos sociais, os investimentos parcos nas áreas sociais contrastando
com recursos volumosos despendidos para o pagamento dos encargos da dívida
pública, o tratamento duro com os movimentos grevistas, a tolerância para com o
agronegócio, a sempre e cada vez mais ampla política de alianças em que até o
Maluf cabe, entre outros exemplos, demonstram que o PT agora no poder, pouco se
distingue do seu principal adversário: o PSDB.
A diferença, talvez uma das
principais, reside no fato de que o PT tem base social, coisa que o PSDB nunca
teve. O PT mantém ao seu lado importantes setores do movimento sindical, das
pastorais sociais, do movimento social.
O modus operandi do PT em tudo
vai se aproximando sempre mais do PSDB, na política e na economia. A diferença
fica ainda por conta da relação com o movimento social. O PSDB nunca escondeu o
seu desprezo para com o movimento social, o PT que está no governo dá mostras
que vai se cansando da parcela do movimento social que cobra e crítica.
O
mais do mesmo no modo petista de governar
No poder, o modo petista de
governar foi se tornando mais do mesmo. Na revista IHU On-Line da semana
passada que tem como tema de capa a política de alianças, o sociólogo Luiz
Werneck Vianna afirma que governabilidade, derivada do atual sistema de
coalizão, é limitada, pois “não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a
inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um
salto, esbarram nessa larguíssima coalizão, que atinge várias dimensões, desde
a economia e a política até a sociedade”. Para Vianna, o país se encontra numa
verdadeira “feira” ideológico-político-partidária, que favorece um sistema decisionista,
vertical, dirigido pelo Executivo, que é quem lidera frente ao desencontro das
forças políticas.
Pelo fato do país contar com
este cenário, muitos justificam ou toleram as alianças do PT, compensando-as
com os resultados que o governo petista tem alcançado no campo das políticas
sociais. É, de fato, indiscutível que atualmente muitas famílias tenham saído
da pobreza ou miséria, que muitos tenham alcançado um emprego com todas as
garantias trabalhistas e que as políticas de cotas tenham levado, de forma
inédita, jovens da periferia para o ensino superior.
Contudo, nenhuma dessas medidas
é capaz de romper com as raízes mais profundas das desigualdades presentes na
sociedade brasileira. Por exemplo, na avaliação de Renato Janine Ribeiro, em
sua entrevista à IHU On-Line, “o governo Lula: foi um governo de distribuição
de renda, mas não de redistribuição de renda. Não foi um governo que tirou dos
ricos para dar aos mais pobres, o que seria inteiramente lícito. Foi um governo
que conseguiu, com o aumento do PIB brasileiro, dar uma parte maior do que foi
aumentado para os mais pobres. Mas não houve um enfrentamento do capital”.
Certamente, o caso mais
emblemático do atrelamento petista com as tradicionais práticas para conquistar
apoio e governabilidade é o mensalão. Segundo o professor e psicanalista Tales
Ab’Sáber, o que esse episódio de corrupção “demonstrou claramente foi que o PT
passou a agir como um partido tradicional brasileiro. Foi o cartão de visita e
o atestado das práticas políticas de direita que o partido passou a utilizar
para chegar e se manter no poder - entendida a direita aqui nos termos da
política brasileira. Conchavos de bastidores com partidos oportunistas e mesmo
politicamente inimigos, manipulação de processos eleitorais através de acordos
que serão pagos posteriormente a qualquer custo, concepção do Estado como uma
fonte de financiamento dos interesses particulares de grupos, tudo isso à
margem da lei”.
Esse é um dos resultados
alcançado pelo que se pode chamar de “realismo”, mas, aqui, no sentido de um
vale tudo político, em busca de um objetivo. Algo bem lembrado pelo professor
de filosofia da Unicamp, Roberto Romano, que frisou em sua entrevista à IHU
On-line: “Recordo como se fosse hoje: no dia em que o PT foi inaugurado, na
capela do Colégio Sion em São Paulo, ali estive a convite. Ao chegar no
vestíbulo da igreja, certo intelectual importante me recebeu com uma
recomendação: “devemos acabar com os principistas dentro do PT”. Não fiquei
muito tempo na cerimônia. Afinal, fui e sou principista. ... O resultado está
na foto [Lula abraçado com Maluf]: venceram os contrários ao “principismo”, ou
seja, os alérgicos aos valores éticos, programáticos, socialistas, etc”.
Segundo Romano, descrevendo o
cenário vivenciado pelo PT, “com a imposição autoritária dos quadros
dirigentes, os militantes têm apenas duas saídas: ou deixam o partido e
inauguram uma dissidência, ou dobram a espinha. Esta flexão do corpo e da alma
é mais provável quando no ápice da hierarquia partidária se encontra uma
personalidade carismática, efetiva ou fabricada pela propaganda. É o caso de
Stalin, Mao e de outros líderes. No
Brasil, Prestes e agora Luís Inácio da
Silva”. De acordo com Romano, dentro do PT, o programa socialista permaneceu
sendo proclamado, mas então “como truque de propaganda e chantagem: criticar o
governo petista passou a significar, em alguns núcleos duros do PT, tentar o
golpe contra a ‘esquerda’”. Um verdadeiro engodo político.
No momento atual, fica cada vez
mais difícil para os que ainda persistem no partido, afirmar que atuam no campo
da esquerda. O parecer do professor de Teoria Política, Marco Aurélio Nogueira
- outro entrevistado pela IHU On-line –, é bem claro em relação à postura atual
dos partidos políticos brasileiros: “Se a questão for a esquerda como força
antissistêmica, como socialismo – como movimento que luta por mudanças
estruturais direcionadas para a igualdade e a justiça social –, então talvez o
mais certo fosse dizer que todos, no Brasil, estão a se acotovelar no centro.
Com a exceção, claro, dos pequenos partidos ideológicos, que praticamente não
pesam”.
De fato, verifica-se que não
existem grandes diferenças programáticas, entre os partidos, que contribuam
para a solidificação e clareza de projetos em oposição no Brasil, o que leva
Werneck Vianna a considerar que “a política está se tornando, entre nós, mais
um campo adversarial. Inclusive porque os dois principais partidos políticos
brasileiros – PT e PSDB – têm muitas afinidades de fundo. Ambos estão com as
raízes fincadas na social-democracia”.
Para reforçar ainda mais esta
leitura sobre o marasmo no campo da disputa ideológica, o arrefecimento de
setores importantes da sociedade civil preocupa. Na visão do professor de
Ciência Política, Jairo Nicolau, “a oposição ao governo Lula foi muito tênue e
isso continua, de certa maneira, no governo Dilma. Percebo que mesmo os
movimentos sociais pisam um pouco no freio diante do governo Dilma, porque
várias das suas lideranças estão no PT, o que dificulta uma oposição mais contundente”.
Segundo Nicolau, em tal cenário, “as alianças partidárias se impõem,
restringindo a possibilidade da chamada política de classe”. E sem encarar as
verdadeiras raízes das desigualdades sociais brasileiras, que possui um corte
de classe, não há políticas compensatórias que cheguem.
A Carta ao Povo Brasileiro
feito às pressas em 2002 para sinalizar ao capital que o PT não romperia com
“acordos”, “tratados” e “compromissos” assumidos anteriormente foi e está sendo
cumprida à risca, até mais do que prometeu. A mesma carta fala em “vasta
coalizão” para abrir novos horizontes para o país. A “vasta coalizão” tem
servido a outra lógica: a da manutenção do status quo.
“Lideranças populares,
intelectuais, artistas e religiosos dos mais variados matizes ideológicos
declaram espontaneamente seu apoio a um projeto de mudança do Brasil. Prefeitos
e parlamentares de partidos não coligados com o PT anunciam seu apoio. Parcelas
significativas do empresariado vêm somar-se ao nosso projeto. Trata-se de uma
vasta coalizão, em muitos aspectos suprapartidária, que busca abrir novos
horizontes para o país”. (fragmento da Carta ao Povo Brasileiro, 22-06-2002).
Em seus aspectos gerais, a
carta foi um convite para que todas as forças se unissem em prol do genérico
“bem do Brasil”, para além das históricas diferenças de classes sociais,
existentes no país. É por esse viés que se assiste, desde 2003, os oito anos de
governo Lula e mais de um ano e meio de governo Dilma, contando com a plena
conformação do governo petista aos velhos paradigmas de governabilidade e de
manutenção do poder.
Fonte: IHU.Unisinos
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