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Edson Carneiro Índio*
GM lucra com isenção de IPI e
faz terrorismo com trabalhadores, demitindo milhares de funcionários. Bancos
lucram explorando os clientes e o tesouro nacional com juros e tarifas
altíssimas. E o governo federal segue aplicando um modelo econômico que privilegia
os lucros do grande capital.
Em fevereiro de 2012, diante do
recrudescimento da crise internacional, o governo Dilma anunciou cortes de R$
55 bilhões dos investimentos públicos, inclusive da saúde, o que acabou por
contribuir para o desaquecimento da economia. Em abril, Medida Provisória do
governo amplia os setores empresariais beneficiados com a desoneração da folha
de pagamentos. Em maio, concedeu isenção do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) aos fabricantes de automóveis, sob o argumento de
estimular a atividade econômica, diante da desaceleração do produto.
Após a medida, dados da
Associação Nacional dos fabricantes de Veículos Automotores apontam para um
expressivo aumento das vendas de carros. Segundo a Anfavea, no mês de junho
foram vendidos cerca de 353 mil veículos, 73 mil a mais que no mês anterior.
A medida do governo federal,
além de ser lesiva aos cofres públicos e contrariar uma necessária política de
incentivo ao transporte coletivo e público para o bem das pessoas e do planeta
- apesar de conter a desaceleração da economia - sequer garante o emprego dos
trabalhadores do setor automobilístico.
Neste contexto de aumento de
vendas e de lucratividade, a General Motors anunciou a demissão de mais 1.500
metalúrgicos apenas na planta instalada em São José dos Campos. Cabe lembrar
que a mesma GM já havia demitido nos últimos meses, apenas em SJC, mais de mil
operários.
Na semana passada, a
multinacional chegou a realizar um locaute (greve patronal), buscando com isso
fazer terrorismo sobre os trabalhadores da empresa. Além disso, a GM ameaça
fechar parte da unidade de São José dos Campos, numa clara tentativa de
chantagear os trabalhadores e o sindicato da categoria, a aceitar redução de
direitos.
A ameaça da empresa merece o
repúdio dos trabalhadores e dos setores populares. Inaceitável, também, é a
posição expressa pelo Ministro Mantega, de que as demissões fazem parte da
política interna da empresa e, por isso, o governo não deve intervir no
processo de redução dos postos de trabalho. Cabe perguntar ao governo: sua
política de isentar as empresas do pagamento de impostos, altamente
questionável, não deveria, como mínimo, exigir contrapartidas reais à
manutenção dos empregos¿
É claro que não se combate o
desemprego com desonerações fiscais. É necessário, entre outras medidas,
reduzir a jornada de trabalho, aprovar a Convenção 158 da OIT, acabar com a
precarização do trabalho e alterar, globalmente, a política econômica.
A rigor, a principal
preocupação do governo é com a garantia de um ambiente econômico favorável ao
crescimento dos lucros dos empresários e banqueiros. Basta analisar a política
econômica orientada ao favorecimento do grande capital, particularmente com o
perverso pagamento de juros e amortizações da dívida pública. A CPI da dívida,
de iniciativa do Deputado Federal Ivan Valente, do PSOL-SP, já demonstrou o
ralo de recursos públicos que significa esse modelo. A consequência disso é um
aumento espetacular do lucro dos bancos, que seguem sendo recordes, apesar de
os banqueiros esconderem parte da sua lucratividade, com manobras contábeis
como o aumento da provisão de “possíveis não pagamento de dívidas”, o PDD.
Em 2011, os cinco maiores
bancos que operam no País amealharam um lucro líquido de R$ 51 bilhões,
ranqueando-os como os mais lucrativos do mundo.
E de onde vem tanto lucro¿
Metade do lucro dos bancos vem
da intermediação financeira garantida, também, com o maior spread do mundo. O
spread bancário - diferença entre o que o banco paga para captar e o que cobra
para emprestar – que foi objeto de discurso da presidenta por ocasião do 1º de
Maio, segue elevadíssima, com o beneplácito do Banco Central, que age como um
sindicato dos banqueiros.
Outro quarto desse lucro advém
da remuneração dos títulos da dívida pública, que sangra os cofres e as
políticas públicas, como demonstra o próprio orçamento da União de 2012, que
prevê que 47% dos recursos arrecadados sigam para pagar juros e amortizações da
dívida ilegítima que alimenta a banqueirada sanguessuga.
E os outros 25% do lucro dos
bancos vêm da cobrança das tarifas bancárias, que espoliam os clientes e a
população brasileira.
Apesar dessa lucratividade
exorbitante e inaceitável, os bancos demitem os bancários e colocam os clientes
na fila. Apenas o Itaú, que recentemente adquiriu o Unibanco, demitiu nos
últimos quinze meses, cerca de 11.500 bancários, em nível nacional.
Essa situação levou os mais de
700 bancários e bancárias presentes na 14ª Conferencia Nacional da categoria,
representando mais de 90% dos trabalhadores do ramo em nível nacional,
aprovarem, por unanimidade, a proposta há muito tempo defendida por nós,
bancários e bancários da Intersindical, de estatização do sistema financeiro,
colocando-o sobre o controle público e a serviço do crédito e da economia
popular, da distribuição da renda, invertendo a lógica da concentração da
riqueza e poder que marcam a formação social brasileira.
Toda essa situação impõe às
classes trabalhadoras, aos setores populares e suas organizações sindicais e
partidárias, lutarem, nas ruas e nas urnas, para mudar, de fato, a realidade
brasileira.
*Bancário,
professor, militante do PSOL e membro da Coordenação Nacional da INTERSINDICAL.
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