Juliana Brito
em 26/06/12
Em tempos de eleições
municipais espera-se ouvir dos candidatos seus projetos para enfrentarem os
principais problemas da cidade. Apesar de saber que promessa de político é
abandonada em primeiro de janeiro, a população tem nos projetos apresentados um
dos critérios de escolha para o voto ou deveria ter.
Ciente de que vivemos em uma
sociedade do espetáculo, onde só existe o que “passa na televisão” é preciso
então provocar para que as demandas sociais tenham alguma visibilidade. Por
isso, destaco aqui uma dessas demandas _ a ocupação social dos espaços da nossa
querida cidade, “Joia do sertão baiano”, “Terra das rosas”. De quem será a
cidade de Vitória da Conquista? Será dos carros que tornam o trânsito cada vez
menos ágil? Será dos traficantes que mandam organizadamente em todos os
pedaços? Será dos moradores de rua, invisíveis e incômodos como socos no
estômago para os defensores da tese de que essa cidade “desenvolve-se a olhos
vistos”? Será ainda das enxurradas que alagam as ruas com o menor chuvisco de cinco
minutos? Serão as ruas domínio dos proprietários dos sons automotivos, cada vez
mais potentes, que estacionam nas portas dos bares e fazem mais barulho do que
um show no Maracanã? Será do cimento e do asfalto que impermeabilizam todo o
solo diminuindo os poucos espaços para o verde? Será dos loteamentos que tornam
tudo tão igual e tão feio?
Encontrar respostas para as
perguntas acima é fundamental para retomarmos os espaços públicos. A violência
que enluta tantas famílias conquistenses poderia ser minorada se nossas
crianças, jovens e velhos pudessem morar numa cidade que as acolhesse e
permitisse o convívio. Há muito que tal desejo se constitui em uma utopia
saudosista, é verdade. Alguns podem dizer que os tempos são outros, mas será
que queremos e realmente precisamos desse tempo, dessa realidade onde o
convívio é impossibilitado por todos os motivos e justificativas?
Não podemos mais sentar na
porta de nossas casas e simplesmente bater papo com os vizinhos, sequer
conhecemos os vizinhos! Entramos e saímos de nossas garagens amedrontados e
tremendo quando ouvimos uma moto se aproximando. Nossos filhos não podem ficar
brincando de bola na rua com os meninos da sua idade, os entregamos então ao
computador e fingimos desconhecer os perigos virtuais. Os bares e restaurantes
não são mais espaços para os bate-papos, o som é tão alto que ninguém consegue
ouvir o companheiro, é melhor então ficar com os aparelhos eletrônicos ligados,
enviando e recebendo mensagens. Aqueles que se propõe a caminhar e a fazer exercícios
tem que fazê-lo dividindo o ar com os gases dos escapamentos dos carros,
somente os desavisados e os sem-espaço se habilitam a caminhar-respirar na Av.
Integração. No trânsito, seguimos para nossos afazeres, sozinhos, cercados de
carros e carrões que conduzem apenas uma pessoa, também sozinha e apressada
como nós. Por isso, não damos preferência ao transporte coletivo, avançamos
sobre as faixas de pedestre, justificamos cinicamente dizendo que não se compra
um carro potente para ficar preso no trânsito.
Fora de casa há poucos espaços
de convívio que atendem a um contingente considerável, os bares e as igrejas,
agora, rivalizam com as bocas de fumo. Não temos parquinhos para as crianças,
não temos praças para os idosos, não temos salas de teatro nos bairros, não
temos bibliotecas acessíveis. Os lugares dos “babas” espontâneos são tragados
pela especulação imobiliária, as poucas quadras são insuficientes para uma
população de mais de 300 mil habitantes. Quem quiser praticar outras
modalidades como natação, atletismo etc. só pagando e muito caro.
Entre os resultados dessa falta
de convivência urbana estão: a solidão, a depressão, as síndromes de todo tipo,
as doenças cardíacas, a dificuldade dos nossos jovens em “achar graça” em
coisas simples como conversar, brincar ou contemplar algo bonito, para muitos
deles diversão é apenas sinônimo de consumo. No corre-corre diário, ouvimos
reclamações de ricos e pobres, pois, se o dinheiro compra a cultura e o lazer
de outro lado isola os seres humanos e o isolamento mutila, mata. O consumo de
drogas lícitas e ilícitas que o diga, talvez esses artigos estejam se
constituindo entre os gêneros de “primeira necessidade” nas compras de muitas
das nossas famílias respeitáveis.
Senhores candidatos, violência
não se combate com mais violência e exclusão, violência se combate com convívio
humano e solidário, com fraternidade, com oportunidade de fruir o que a vida
tem de melhor: arte, lazer, cultura, companhia. Ou preferem garantir para os
conquistenses apenas “os sete palmos de terra sob o chão”, a parte que nos cabe
desse latifúndio? Pensemos nisso.
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