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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

De quem é a cidade?


Juliana Brito
 em 26/06/12

Em tempos de eleições municipais espera-se ouvir dos candidatos seus projetos para enfrentarem os principais problemas da cidade. Apesar de saber que promessa de político é abandonada em primeiro de janeiro, a população tem nos projetos apresentados um dos critérios de escolha para o voto ou deveria ter.
Ciente de que vivemos em uma sociedade do espetáculo, onde só existe o que “passa na televisão” é preciso então provocar para que as demandas sociais tenham alguma visibilidade. Por isso, destaco aqui uma dessas demandas _ a ocupação social dos espaços da nossa querida cidade, “Joia do sertão baiano”, “Terra das rosas”. De quem será a cidade de Vitória da Conquista? Será dos carros que tornam o trânsito cada vez menos ágil? Será dos traficantes que mandam organizadamente em todos os pedaços? Será dos moradores de rua, invisíveis e incômodos como socos no estômago para os defensores da tese de que essa cidade “desenvolve-se a olhos vistos”? Será ainda das enxurradas que alagam as ruas com o menor chuvisco de cinco minutos? Serão as ruas domínio dos proprietários dos sons automotivos, cada vez mais potentes, que estacionam nas portas dos bares e fazem mais barulho do que um show no Maracanã? Será do cimento e do asfalto que impermeabilizam todo o solo diminuindo os poucos espaços para o verde? Será dos loteamentos que tornam tudo tão igual e tão feio?
Encontrar respostas para as perguntas acima é fundamental para retomarmos os espaços públicos. A violência que enluta tantas famílias conquistenses poderia ser minorada se nossas crianças, jovens e velhos pudessem morar numa cidade que as acolhesse e permitisse o convívio. Há muito que tal desejo se constitui em uma utopia saudosista, é verdade. Alguns podem dizer que os tempos são outros, mas será que queremos e realmente precisamos desse tempo, dessa realidade onde o convívio é impossibilitado por todos os motivos e justificativas?
Não podemos mais sentar na porta de nossas casas e simplesmente bater papo com os vizinhos, sequer conhecemos os vizinhos! Entramos e saímos de nossas garagens amedrontados e tremendo quando ouvimos uma moto se aproximando. Nossos filhos não podem ficar brincando de bola na rua com os meninos da sua idade, os entregamos então ao computador e fingimos desconhecer os perigos virtuais. Os bares e restaurantes não são mais espaços para os bate-papos, o som é tão alto que ninguém consegue ouvir o companheiro, é melhor então ficar com os aparelhos eletrônicos ligados, enviando e recebendo mensagens. Aqueles que se propõe a caminhar e a fazer exercícios tem que fazê-lo dividindo o ar com os gases dos escapamentos dos carros, somente os desavisados e os sem-espaço se habilitam a caminhar-respirar na Av. Integração. No trânsito, seguimos para nossos afazeres, sozinhos, cercados de carros e carrões que conduzem apenas uma pessoa, também sozinha e apressada como nós. Por isso, não damos preferência ao transporte coletivo, avançamos sobre as faixas de pedestre, justificamos cinicamente dizendo que não se compra um carro potente para ficar preso no trânsito.
Fora de casa há poucos espaços de convívio que atendem a um contingente considerável, os bares e as igrejas, agora, rivalizam com as bocas de fumo. Não temos parquinhos para as crianças, não temos praças para os idosos, não temos salas de teatro nos bairros, não temos bibliotecas acessíveis. Os lugares dos “babas” espontâneos são tragados pela especulação imobiliária, as poucas quadras são insuficientes para uma população de mais de 300 mil habitantes. Quem quiser praticar outras modalidades como natação, atletismo etc. só pagando e muito caro.
Entre os resultados dessa falta de convivência urbana estão: a solidão, a depressão, as síndromes de todo tipo, as doenças cardíacas, a dificuldade dos nossos jovens em “achar graça” em coisas simples como conversar, brincar ou contemplar algo bonito, para muitos deles diversão é apenas sinônimo de consumo. No corre-corre diário, ouvimos reclamações de ricos e pobres, pois, se o dinheiro compra a cultura e o lazer de outro lado isola os seres humanos e o isolamento mutila, mata. O consumo de drogas lícitas e ilícitas que o diga, talvez esses artigos estejam se constituindo entre os gêneros de “primeira necessidade” nas compras de muitas das nossas famílias respeitáveis.
Senhores candidatos, violência não se combate com mais violência e exclusão, violência se combate com convívio humano e solidário, com fraternidade, com oportunidade de fruir o que a vida tem de melhor: arte, lazer, cultura, companhia. Ou preferem garantir para os conquistenses apenas “os sete palmos de terra sob o chão”, a parte que nos cabe desse latifúndio? Pensemos nisso.

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