Pesquisar este blog

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Memórias da Resistência, novo filme sobre a ditadura


João Ricardo Penteado

No esforço para restaurar verdade sobre anos de chumbo, documentário aborda luta estudantil no CRUSP e guerrilha efêmera em Ribeirão Preto

Em meio ao início dos trabalhos da Comissão da Verdade, a filmografia nacional sobre a ditadura militar está prestes a ganhar nova contribuição. Dirigido por Marco Escrivão, o documentário Memórias da Resistência vai trazer a história de ex-presos políticos que participaram da resistência ao regime ditatorial que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. A expectativa de lançamento é para o fim do ano.
“O objetivo principal desse trabalho é justamente manter bem viva a memória sobre esse momento histórico do país e evitar que ele se repita algum dia”, diz Escrivão.
Na origem do documentário, um fato bastante curioso. Em 2007, uma pilha de documentos antigos foi encontrada por trabalhadores rurais em uma casa abandonada no meio de um canavial no município de Jaborandi, interior de São Paulo. Um dos trabalhadores, que também era estudante de História, reconheceu de imediato a relevância histórica dos documentos. Tratava-se de material do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social), um dos principais organismos de repressão política da Ditadura.
“Posteriormente, o Cleiton, estudante de História, voltou à casa abandonada no canavial juntamente com um professor de sua faculdade e eles recolheram todos os documentos que estavam espalhados por lá. Tudo foi digitalizado e entregue ao Arquivo Público do estado”, relembra Escrivão. Descobriu-se depois que a casa era de Tacito Pinheiro Machado, um ex-delegado do DOPS.
Os documentos foram analisados por membros do Instituto Práxis de Educação e Cultura, baseado em Franca-SP. Entre eles, estava Tito Bellini, o professor de história que coletou os documentos em primeira mão, e que decidiu encabeçar o projeto para a realização de um documentário.
“O Tito inscreveu um projeto para um edital de Mídias Livres do Ministério da Cultura em 2010. Em 2011 o projeto foi aceito, e o Minc liberou 100 mil reais pra que fizéssemos, além do documentário, seis boletins informativos, um livro e o site.”
A pilha encontrada no canavial trazia fichas de presos políticos, envelopes de correspondências, relatórios, e até um “Manual de Subversão e Contra-subversão”. A maior parte das fichas dizia respeito a dois IPMs (Inquérito Policial Militar) em particular.
O primeiro é o IPM 114/69, que tratava da atuação das Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN), guerrilha criada em meados de 1967 por dissidentes do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que teve uma breve atuação na região de Ribeirão Preto-SP, até ser desmantelada por agentes do regime.
O outro inquérito é o IPM-CRUSP, que tratava da resistência política na moradia estudantil dos alunos da USP (Universidade de São Paulo), outro grande polo de militantes contrários à Ditadura.

São essas duas histórias que o documentário vai contar.
“Entrevistamos no total doze ex-presos políticos, ao longo de cinco meses. Eles contaram sobre a atuação na resistência, o idealismo que compartilhavam, as torturas que sofreram”, fala Escrivão.
Perguntado sobre como se sentiu diante das histórias contadas, sobretudo dos relatos de torturas, Escrivão respondeu confiante.
“De fato, a história mexeu um pouco comigo e até aconteceu de ter pesadelos em algumas noites. Mas tenho em mente que trabalhar nesse documentário, de certa forma, é continuar a luta que essas pessoas travaram no passado, cumprindo um outro papel, o de resgate histórico. E é esse sentimento, por exemplo, que me fez enfrentar 13 horas de ônibus só para participar da primeira audiência pública da Comissão da Verdade [ocorrida no dia 30 de agosto], onde pude divulgar o documentário”.

Nenhum comentário: