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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Repressão policial criminosa na Bahia


Umas  perguntinhas que a Polícia Militar deve à sociedade: será coincidência que seus modos "ordeiros" e "pacíficos", mantenedores da ordem só se deem  no subúrbio, na periferia? Por que não mostra sua ação de eugenia social, sua valentia e coragem,nos bairros ricos ou nos antros das grandes quadrilhas de colarinho branco? Por que? Dão razão à ONU quando esta alude à sua extinção. Especializou-se em exterminar pobres.

Nesta quarta-feira, 29 de agosto, quatro homens encapuzados entraram no bairro do Boiadeiro, no Subúrbio Ferroviário de Salvador e mataram dois jovens. A comunidade, na certeza de que não eram marginais, resolveu fazer uma manifestação. A Polícia Militar do Estado da Bahia, segundo relato dos moradores, reprimiram a passeata agredindo os manifestantes e muitos estão bastante machucados.
HOJE, às 18h, os moradores novamente irão fazer uma nova manifestação contra a violência policial na própria comunidade. A ideia é também superar o medo e contestar a versão oficial da mídia, que veiculou a informação de que os rapazes teriam morrido em decorrência de um confronto entre facções criminosas rivais. No entanto, a denúncia dos moradores é a de que as mortes foram covardes através de uma execução sumária nitidamente empreendida por ação de um grupo policial ou paramilitar de extermínio.
A comunidade exige imediata investigação dos fatos; apoio psicológico e proteção às Famílias dos Mortos e aos Manifestantes; audiência com o Secretário de Segurança Pública e com o Secretario de Justiça e Direitos Humanos; atuação firme do Ministério Público ouvindo o Movimento Social.

Camillo de Jesus Lima - 100 anos


O maior poeta do Sudoeste baiano, Camillo de Jesus Lima, comemoraria no próximo dia 08 de setembro 100 anos de idade e é em face disso que toda a região pauta-se na expectativa de um reconhecimento definitivo e do resgate histórico daquele que tanto contribuiu e tem contribuído, com a sua obra e histórias de lutas e movimentos em prol da cultura.
Camillo de Jesus Lima nasceu em Caetité, aos 08 de setembro de 1912 e mudou-se para o município de Vitória da Conquista em 1939. Nesta cidade abraça causas sociais e inicia movimentos literários. Comunista convicto e assumido foi preso durante a Ditadura Militar de 64, e veio a falecer em Itapetinga, no dia 28 de fevereiro de 1975, de forma nunca totalmente explicada. Dentre as suas principais obras, publicou: As Trevas da Noite Estão Passando ("O Combate", em colaboração com Laudionor Brasil, poemas, 1941); Poemas ("O Combate", 1942 - vencedor do Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras); Viola Quebrada ("O Combate", poesia, 1945); Novos Poemas ("O Combate", id., ib.); Cantigas da Tarde Nevoenta ("Edição de Artes Gráficas - Salvador", poesia); Memórias do Professor Mamede Campos (romance); A Mão Nevada e Fria da Saudade ("Edições MAR", poesia), A Bruxa do Fogão Encerado (contos); Vícios (contos); Bonecos (Perfis); O Livro de Miriam (Poesia, 1973, impresso na gráfica de "O Jornal de Conquista" para "edições MAR"); Cancioneiro do Vira-mundo (Poesia) e outros ainda inéditos.
O Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, nos dias 04, 05 e 06 de Setembro, realizará justas homenagens a esse grande artista.
No dia 04, coquetel de abertura com projeção de vídeos e exposição de poemas pintados de Júlio Veredas. No dia 05, acontecerá a apresentação “Agora é a sua vez” do ballet Lorena Albuquerque. E para encerrar, no dia 06, o show “Destina de cigarra” de Gutemba. Toda a programação começará as 20h.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Total de tributos pagos pelos brasileiros chega hoje a R$ 1 trilhão

Charge:  motoseviagens.com.br

E o mais revoltante nessa espoliação levada a cabo pelo Estado burguês é que não vemos retorno social. Saúde e Educação sistematicamente sucateadas; uma elite tecnocrata, parasitária e corrupta corroendo esses recursos e enriquecendo-se ilicitamente; um bando de parasitas especuladores de banco e bolsa que é reminerado pelo Estado burguês com quase a metade daquilo que é produzido pela classe trabalhadora. Até quando vamos sustentar essa situação vexatória? (Almoço das Horas)
InfoMoney – qua, 29 de ago de 2012 09:00

SÃO PAULO – Os brasileiros vão desembolsar, desde o primeiro dia de 2012 até as 16h30 desta quarta-feira (29), R$ 1 trilhão com o pagamento de tributos federais, estaduais e municipais, de acordo com dados do Impostômetro da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Com o total arrecadado até esta quarta, é possível pagar mais de 1,609 bilhão de salários mínimos ou fornecer medicamentos para todos os brasileiros por mais de 387 mil meses.
Outras aquisições
O dinheiro ainda permite comprar mais de 37 milhões de carros populares, mais de 834 milhões de notebooks e mais de 909 milhões de geladeiras simples.
Ainda seria possível construir mais de 28,5 milhões de casas populares de 40 metros quadrados, quase 73 milhões de salas de aula equipadas, mais de 3,4 milhões de postos de saúde equipados ou mais de 20 milhões de postos policiais.
Além disso, poderiam ser construídos mais de 10,8 milhões de quilômetros de redes de esgotos e serem pagas mais de 7,1 bilhões de Bolsas Família, considerando o benefício no valor de R$ 70, e plantar mais de 200 bilhões de árvores.

Impostômetro
O painel do Impostômetro foi inaugurado em 20 de abril de 2005 e está instalado no prédio da sede da ACSP. Também pela internet (www.impostometro.com.br), qualquer cidadão pode acompanhar o total de impostos pagos pelos brasileiros aos governos federal, estadual e municipal, de acordo com os estados e municípios.
O sistema informa ainda o total de impostos pagos desde janeiro do ano 2000 e faz estimativas de quanto será pago até a data escolhida pelo usuário.
Fonte: Br.Finanças

Número de homicídios de mulheres continua a crescer


Em uma lista com 84 países, o Brasil está em 7º lugar nas taxas de homicídio feminino

Natasha Pitts
30/08/2012
Adital
Neste mês de agosto foi divulgada a atualização do Mapa da Violência 2012, com informações sobre homicídios de mulheres no Brasil. O documento, de autoria de Julio Jacobo Waiselfisz com o apoio do Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos (Cebela) e da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), foi produzido para somar esforços no enfrentamento à violência contra a mulher.
"O Mapa é um grito de alerta para as autoridades brasileiras. É uma forma de mostrar que o problema é mais grave do que o que se imaginava”, aponta o autor do documento.
O Mapa da Violência atualizado incorporou dados de homicídios e de atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS), que no relatório anterior eram preliminares. O documento oferece informações de 1980 a 2010 sobre casos de assassinatos de mulheres, detalha a faixa etária das vítimas, os locais onde os crimes acontecem, os principais tipos de armas usadas e os estados brasileiros com as taxas mais elevadas de homicídios de mulheres.
Entre os dados mais relevantes, Jacobo destaca o crescimento dos assassinatos de mulheres após 2010. "Mecanismos como a Lei Maria da Penha ainda não estão dando o resultado pretendido. Os esforços ainda são insuficientes para estagnar a espiral de violência contra a mulher”, denuncia o autor do Mapa da Violência, apelando para que se redobrem os trabalhos e esforços.
A gravidade deste problema está marcada também no contexto internacional. Em uma lista com 84 países, o Brasil está em 7º lugar nas taxas de homicídio feminino (4,4 em 100 mil mulheres) e perde apenas para El Salvador (10,3), Trinidad e Tobago (7,9), Guatemala (7,9), Rússia (7,1), Colômbia (6,2) e Belize (4,6).
"Há uma falta de consciência com relação ao problema e existe ainda a tolerância institucional que torna a vítima culpada. Existem mecanismos que justificam os crimes contra as mulheres, como por exemplo, dizer que algumas mulheres se vestem como vadias e por isso acabam sendo estupradas. É como se uma dose de violência contra a mulher fosse aceitável e até necessário”, critica o autor do Mapa.

Mapa da Violência em números
A partir de dados do Sistema de Informações de Mortalidade, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde - fonte básica para a elaboração do Mapa - registrou-se o assassinato de 92.100 mulheres no Brasil entre 1980 e 2010, 43,7 mil apenas na última década. O número de mortes em 1980 passou de 1.353 para 4.465 em 2010, cifras que representam aumento de 230%.
O Mapa mostra que as maiores taxas de vitimização de mulheres está no intervalo entre 15 e 29 anos, com ascendência para a faixa de 20 a 29, que é o que mais cresceu na década analisada. Já no grupo acima dos 30, a tendência foi de queda.
Estas mulheres continuam sendo vitimadas em sua residência (41%) e o principal instrumento utilizado são armas de fogo. Eles também são mortas com meios que exigem contato direto, como a utilização de objetos cortantes, penetrantes, contundentes e sufocação, deixando clara maior incidência de violência passional.
Os pais são identificados como agressores quase exclusivamente até os 9 anos das meninas e na faixa dos 10 aos 14, como principais responsáveis pelas agressões. A partir dos 10 anos, se sobressai a figura paterna como responsável pela agressão. Já com o passar dos anos, este papel vai sendo substituído pelo parceiro, namorado ou os respectivos ex, que predominam a partir dos 20 anos da mulher até os 59. A partir dos 60, os filhos são os responsáveis pela violência contra a mulher.

No Brasil, o Espírito Santo está no topo da lista de homicídios femininos. Sua taxa de 9,6 homicídios em cada 100 mil mulheres, mais que duplica a média nacional e quase quadruplica a taxa de Piauí, estado com o menor índice do país.
Veja o Mapa da Violência na íntegra neste link.

Na Argentina, uma condenação histórica contra o agrotóxico assassino

Imagem:  desacato.info

A Justiça de Córdoba condenou a três anos de prisão (que serão cumpridos em trabalhos sociais) um latifundiário e o piloto de um avião que fumigou plantações de soja numa região urbana. Dois componentes químicos – endosulfán e glifosato – foram espalhados, em 2004 e 2008, nas plantações de soja de Francisco Parra, vizinhas ao bairro de Ituzaingó, em Córdoba. Foi a primeira vez que a Argentina condena o uso de glifosato, produzido pela Monsanto. O artigo é de Eric Nepomuceno.

Eric Nepomuceno - Buenos Aires

Buenos Aires - A Argentina é um país de julgamentos. Agora mesmo estão sendo julgados antigos ditadores, generais que ordenaram assassinatos e roubos de recém-nascidos, agentes das forças armadas e da polícia que participaram do terrorismo de Estado durante a ditadura cívico-militar que imperou entre 1976 e 1983. E, como se fosse pouco, um ex-presidente, o frouxo e confuso Fernando de la Rúa (dezembro 1999-dezembro 2001), aquele que foi posto para fora por manifestações populares e escapou da Casa Rosada pelo telhado, está no banco dos réus, acusado de subornar senadores peronistas, de oposição, para que votassem a favor da nova legislação trabalhista.
Com tanto vai-vem, com tanto entra e sai de tribunais, uma sentença determinada por um tribunal de Córdoba, a segunda província e a segunda maior cidade do país, abriu espaço e conquistou atenções: num julgamento considerado histórico num país de julgamentos históricos, a Justiça cordobesa condenou a três anos de prisão (que serão cumpridos em trabalhos sociais) um latifundiário e o piloto de um avião que fumigou plantações de soja numa região urbana. Dois componentes químicos – endosulfán e glifosato – foram espalhados, em 2004 e 2008, nos inseticidas fumigados pelo piloto Edgardo Pancello nas plantações de soja de Francisco Parra, vizinhas ao bairro de Ituzaingó, em Córdoba.
Foi a primeira vez que a Argentina condena o uso de glifosato, produzido pela multinacional envenenadora Monsanto – a mesma que desenvolveu o ‘agente laranja’ utilizado pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã e produz sementes transgênicas utilizadas em vários países, o Brasil inclusive.
É o resultado de uma luta de dez anos dos moradores de Ituzaingó e de outras localidades argentinas, que denunciam as conseqüências do uso do glifosato nos agrotóxicos produzidos pela Monsanto e fumigados a torto e a direito país afora. O embriologista argentino Andrés Carrasco, que há anos denuncia os altíssimos riscos de contaminação do agrotóxico Roundup, fabricado pela Monsanto à base de glifosato, já havia antecipado, à exaustão, o que o tribunal de Córdoba agora concluiu: quem usa esse produto comete crime ambiental gravíssimo.
Contra todos os argumentos da envenenadora multinacional, o tribunal de baseou em dados inquestionáveis: de 142 crianças moradoras de Ituzaingó que foram examinadas, 114 contêm agroquímicos em seu organismo, e em altas quantidades. Foram constatados ainda 202 casos de câncer provocados pelo glifosato, dos quais 143 foram fatais num lapso curtíssimo de tempo. Houve, em um ano, 272 abortos espontâneos. E dos nascidos, 23 sofrem deformações congênitas. Moram em Ituzaingó pouco mais de cinco mil pessoas, o que dá uma dimensão clara dos males sofridos.
A cada ano que passa cerca de 280 milhões de litros de Rondup – ou seja, de glifosato – são despejados nos campos argentinos. São cerca de 18 milhões de hectares aspergidos ou fumigados nas plantações de soja transgênica, que significam 99% de tudo que o país produz. O mais brutal é que essa soja nasce de sementes geneticamente modificadas, produzidas pela própria Montanto. O glifosato contido no Roundb destrói tudo – menos a semente.
Ou seja, a multinacional do veneno criou uma semente que é a única que resiste ao agrotóxico produzido pela mesma indústria. Até agora, as denúncias de Andrés Carrasco, diretor do Laboratório de Embriologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, haviam esbarrado num muro aparentemente intransponível: em 1996, o glifosato foi autorizado por lei na Argentina, durante o governo de Carlos Menem.
Detalhe: a lei foi aprovada a toque de caixa tomando como base estudos financiados pela própria Monsanto. Das 135 páginas do tal estudo, 108 estavam escritas em inglês. Sequer se deram o trabalho de traduzi-las.
Há outras denúncias, há outros processos. Também em Córdoba foram detectados casos assustadores na localidade de Matabrigo, cercada de plantações de soja transgênica fumigadas com glifosato.
O glifosato continua sendo usado em campo aberto. Mas, na Argentina, já não poderá mais ser aplicado em áreas próximas às zonas urbanas. Além de abrir jurisprudência no país, a sentença do tribunal cordobês abre um precedente importante para milhares de processos em andamento em toda a América Latina.
Aqui no Brasil, nada muda. O veneno continua sendo um dos motores principais do agronegócio. Em nosso país, o volume de pesticidas e agrotóxicos utilizados no campo é mais de três vezes superior ao da Argentina. Somos campeões mundiais de veneno, e tudo continua igual. A Monsanto continua, impávida, envenenando o dia a dia de milhões de brasileiros.
Aliás, e por falar em Monsanto: alguém se preocupou em saber como anda a questão da soja transgênica semeada no Paraguai e fumigada ou aspergida com glifosato? Ou seja, alguém se preocupou em saber até onde a reforma agrária defendida pelo deposto presidente Fernando Lugo afetaria os interesses da Monsanto no país?
Fonte: Carta Maior

CARTA ABERTA (E DESESPERADA!) À PRESIDENTE DILMA


De como o Estado burguês, hoje no Brasil presidido pelo PT e capitaneado por uma mulher, não muda seus mecanismos de repressão, dominação, exploração e expropriação dos oprimidos. Um excompanheiro de luta armada da Presidente continua lutando e esperando que se cumpra as decisões judiciais tomadas pelo próprio Estado. Assim caminha o Brasil ainda hoje, com um Estado lacaio do capital financeiro e governado por enganadores da classe trabalhadora...

CARTA ABERTA (E DESESPERADA!) À PRESIDENTE DILMA
Julgamento de Dilma Rousseff

Presidente Dilma,

faz muito tempo – quase 43 anos! – que nos conhecemos naquele turbulento congresso da VAR-Palmares em Teresópolis, de triste lembrança para mim e, presumo, também para si. Quantos participantes logo não estariam mais conosco, sofrendo mortes que os usurpadores do poder tudo faziam para tornar mais sofridas, pois a força era seu único argumento e eles se viam obrigados a intimidar uma nação inteira!
Estávamos à beira do abismo e não sabíamos. Animados pelas notícias que nos chegavam sobre o sequestro do embaixador Charles Elbrick pela ALN, ainda nos dividíamos em discussões apaixonadas sobre os rumos da nossa luta, como se bastasse discernirmos as melhores linhas de ação para a vitória se tornar viável.
Hoje sabemos que tanto a postura mais moderada dos que permaneceram na VAR (seu caso), quanto a mais radicalizada dos refundadores da VPR (meu caso), conduziam ao mesmo martírio, face à extrema inferioridade de nossas forças.  O poder de fogo acabou prevalecendo sobre a justeza da causa.
Então, visto retrospectivamente, aquele congresso coincide com o início da agonia dos movimentos de resistência que confrontaram o arbítrio no auge do terrorismo de estado em nosso país. A partir de outubro de 1969 vimos as desgraças aumentarem dia a dia, as mortes e prisões se tornando tão frequentes que até temíamos abrir um novo jornal.
Nós dois, presidente Dilma, descemos ao inferno e dele conseguimos retornar, mas reconstruímo-nos de formas diferentes, sob diferentes circunstâncias. Temos, contudo, em comum o sentimento de débito em relação aos companheiros que tombaram, a percepção de que nos cabe, como sobreviventes de uma epopeia que tragou algumas das pessoas mais idealistas e generosas já produzidas por este país, honrarmos seu sacrifício.
Então, no momento mesmo de sua vitória na eleição presidencial de 2010, eu já escrevia que "a dívida social (...) está muito longe de ser zerada, como o foi o débito com o FMI", daí os votos que de que aproveitasse bem "seu grande momento", continuando a ser, no poder, "a aguerrida companheira que, como Chaplin, queria chutar o traseiro dos ociosos; como Cristo, trouxe uma espada para combater a injustiça; e como Marx, pretendia proporcionar a cada trabalhador o necessário para a realização plena como ser humano".
Mais especificamente sobre o fato de o Brasil ser presidido pela primeira vez por quem pegou em armas contra uma ditadura, eu comentei:
"Talvez seja o que estivesse faltando para a superação, de uma vez por todas, das dores e rancores remanescentes de um dos períodos mais sombrios de nossa História.
E para nós, os que preparamos o caminho da amizade, passarmos a ser vistos com mais bondade..."
Julgamento de Celso Lungaretti.
A referência a uma poesia famosa de Bertolt Brecht e ao tema musical da peça Arena conta Zumbi (dela derivado) tinha um forte motivo: a mágoa que todos os antigos resistentes carregamos, por muitos brasileiros e boa parte da grande imprensa desmerecerem a luta quase suicida que travamos, contra um inimigo bestial e absolutamente sem escrúpulos.
Arriscamos tudo: nossas vidas, nossa integridade física, nossa sanidade mental e nossas carreiras. E vimos nossos entes queridos covardemente retaliados, pois foram também submetidos a torturas, a intimidações, a humilhações, à estigmatização e até a abusos sexuais.
Como a Resistência Francesa, não fomos nós que realmente derrotamos os totalitários. Mas, se os franceses, orgulhosamente, reverenciam aqueles que salvaram a honra nacional, evitando que o país ficasse identificado com os colaboracionistas de Vichy, há brasileiros para quem nada significa termos sido os filhos seus (do Brasil)  que não fugiram à luta.
Sem os poucos milhares de combatentes que seguimos o exemplo de Tiradentes, a imagem que ficaria do dos nossos  anos de chumbo  seria a dos deslumbrados com o milagre econômico, preocupados exclusivamente em enriquecer enquanto as piores atrocidades eram cometidas.
Sei que não estou falando nada de novo para si, presidente Dilma. Acredito, contudo, que não tenha chegado ao seu conhecimento o fato de que a União há muito descumpre a Lei n.º 10.559/2002, cujos artigos art. 12, § 4º e 18 estabelecem a obrigatoriedade de rápido pagamento das reparações retroativas às vítimas da ditadura militar.
§4º As requisições e decisões proferidas pelo Ministro de Estado da Justiça nos processos de anistia política serão obrigatoriamente cumpridas no prazo de sessenta dias, por todos os órgãos da Administração Pública e quaisquer outras entidades a que estejam dirigidas, ressalvada a disponibilidade orçamentária.
Art.18. Caberá ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão efetuar, com referência às anistias concedidas a civis, mediante comunicação do Ministério da Justiça, no prazo de sessenta dias a contar dessa comunicação, o pagamento das reparações econômicas, desde que atendida a ressalva do § 4º do art. 12 desta Lei.
Fica claríssimo que, havendo disponibilidade orçamentária, tais reparações deveriam ser pagas em 60 dias; e que, inexistindo disponibilidade orçamentária no ano em curso, teriam de estar contempladas no Orçamento seguinte.
Tardou demais o Estado brasileiro em oferecer-nos o que, no momento da redemocratização, teria sido um apoio para reconstruírmos nossas vidas extremamente prejudicadas e quase destruídas nos porões da ditadura, bem como pelas perseguições e estigmatizações subsequentes; agora, acaba sendo apenas uma tábua de salvação para termos, pelo menos, velhices tranquilas.
A União, contudo, reescreveu informalmente a Lei n.º 10.559/2002 ao decidir, em 2007, quitar o retroativo em  suaves prestações mensais, até 2014, quando se propõe a zerar o que ainda haja restado do seu débito.
Alguns conseguiram fazer com que a escrita da lei prevalecesse, mediante mandados de segurança. Por um destino insólito, contudo, novamente estou sendo eu a vítima da morosidade, má vontade e  sabe-se lá mais o quê  dos Poderes majestáticos e suas burocracias arrogantes --exatamente como no caso da própria concessão da anistia, que no meu caso acabou se tornando uma pequena epopeia.
Daquela vez foram 50 meses de espera, agora já estão sendo 66. Porque, como cidadão consciente dos meus direitos, não me conformei com o descumprimento da Lei n.º 10.559/2002 ao longo de todo o ano de 2006 e também em 2007, quando finalmente recorri a um mandado de segurança (nº 12.614 - DF - 2007/0022638-1) para receber o que me era devido. Logo depois a União anunciou seu plano de pagamento parcelado.
Meu processo levou inacreditáveis e exatos quatro anos para ter o mérito julgado. Houve até um pedido de unificação de jurisprudência, pois três Câmaras do Superior Tribunal de Justiça davam decisões conflitantes sobre casos idênticos.
Após a Corte Especial ter dirimido as dúvidas e fixado o paradigma a ser seguido, meu mandado de segurança foi reconhecido por 9x0.
A União interpôs um embargo de declaração, exumando um argumento (o de que tal mandado não seria o instrumento jurídico adequado) que o titular anterior da 1ª Câmara do STJ, Luiz Fux, já desconstruíra em 2007!
Inacreditavelmente, o atual acaba de modificar a decisão unânime do julgamento, fazendo tudo retornar à estaca zero!
O prosseguimento da batalha judicial me deixa em situação dramática, pois tenho muitos dependentes e muitas dívidas, empréstimos contraídos e várias vezes remanejados, e a obrigação de desocupar minha morada até o último dia do ano, pois não tive como aceitar o aumento de aluguel pleiteado pelo locador.
Sou idoso, discriminado no meu mercado de trabalho em função de idade e convicções políticas, e tenho uma criança de quatro anos morando comigo. Do que eu recebo da União depende também o sustento de uma mãe octogenária e a pensão de outra filha menor, que vive com a mãe dela.
Considero iníquo e desumano que eu e os meus dependentes estejamos em situação tão dramática quando o que nos faz tanta falta já me foi concedido por lei e assinado pelo ministro da Justiça em outubro/2005!
Então, presidente Dilma, faço-lhe um duplo e desesperado apelo:
que reconsidere a questão do pagamento do retroativo para todos os anistiados; e que determine a seus assessores a busca de uma saída emergencial para a situação terrível a que fui levado pelo trâmite kafkiano do meu processo e a criatividade dos defensores da União para desencavarem filigranas que retardem o cumprimento da lei.
Tal criatividade deveria, isto sim, servir  para minorar o sofrimento dos seres humanos; é a desumanidade que não precisa nem deve ser criativa.
Esperançosamente,
Celso Lungaretti

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

As 10 estratégias de manipulação midiática


Noam Chomsky*

1. La estrategia de la distracción
El elemento primordial del control social es la estrategia de la distracción que consiste en desviar la atención del público de los problemas importantes y de los cambios decididos por las elites políticas y económicas, mediante la técnica del diluvio o inundación de continuas distracciones y de informaciones insignificantes. La estrategia de la distracción es igualmente indispensable para impedir al público interesarse por los conocimientos esenciales, en el área de la ciencia, la economía, la psicología, la neurobiología y la cibernética.
“Mantener la Atención del público distraída, lejos de los verdaderos problemas sociales, cautivada por temas sin importancia real. Mantener al público ocupado, ocupado, ocupado, sin ningún tiempo para pensar; de vuelta a granja como los otros animales (cita del texto 'Armas silenciosas para guerras tranquilas)”.

2. Crear problemas y después ofrecer soluciones
 Este método también es llamado “problema-reacción-solución”. Se crea un problema, una “situación” prevista para causar cierta reacción en el público, a fin de que éste sea el mandante de las medidas que se desea hacer aceptar. Por ejemplo: dejar que se desenvuelva o se intensifique la violencia urbana, u organizar atentados sangrientos, a fin de que el público sea el demandante de leyes de seguridad y políticas en perjuicio de la libertad. O también: crear una crisis económica para hacer aceptar como un mal necesario el retroceso de los derechos sociales y el desmantelamiento de los servicios públicos.

3. La estrategia de la gradualidad
Para hacer que se acepte una medida inaceptable, basta aplicarla gradualmente, a cuentagotas, por años consecutivos. Es de esa manera que condiciones socioeconómicas radicalmente nuevas (neoliberalismo) fueron impuestas durante las décadas de 1980 y 1990: Estado mínimo, privatizaciones, precariedad, flexibilidad, desempleo en masa, salarios que ya no aseguran ingresos decentes, tantos cambios que hubieran provocado una revolución si hubiesen sido aplicadas de una sola vez.

4. La estrategia de diferir
Otra manera de hacer aceptar una decisión impopular es la de presentarla como “dolorosa y necesaria”, obteniendo la aceptación pública, en el momento, para una aplicación futura. Es más fácil aceptar un sacrificio futuro que un sacrificio inmediato. Primero, porque el esfuerzo no es empleado inmediatamente. Luego, porque el público, la masa, tiene siempre la tendencia a esperar ingenuamente que “todo irá mejorar mañana” y que el sacrificio exigido podrá ser evitado. Esto da más tiempo al público para acostumbrarse a la idea del cambio y de aceptarla con resignación cuando llegue el momento.

5. Dirigirse al público como criaturas de poca edad
La mayoría de la publicidad dirigida al gran público utiliza discurso, argumentos, personajes y entonación particularmente infantiles, muchas veces próximos a la debilidad, como si el espectador fuese una criatura de poca edad o un deficiente mental. Cuanto más se intente buscar engañar al espectador, más se tiende a adoptar un tono infantilizante. Por qué? “Si uno se dirige a una persona como si ella tuviese la edad de 12 años o menos, entonces, en razón de la sugestionabilidad, ella tenderá, con cierta probabilidad, a una respuesta o reacción también desprovista de un sentido crítico como la de una persona de 12 años o menos de edad (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.

6. Utilizar el aspecto emocional mucho más que la reflexión
Hacer uso del aspecto emocional es una técnica clásica para causar un corto circuito en el análisis racional, y finalmente al sentido critico de los individuos. Por otra parte, la utilización del registro emocional permite abrir la puerta de acceso al inconsciente para implantar o injertar ideas, deseos, miedos y temores, compulsiones, o inducir comportamientos…

7. Mantener al público en la ignorancia y la mediocridad
Hacer que el público sea incapaz de comprender las tecnologías y los métodos utilizados para su control y su esclavitud. “La calidad de la educación dada a las clases sociales inferiores debe ser la más pobre y mediocre posible, de forma que la distancia de la ignorancia que planea entre las clases inferiores y las clases sociales superiores sea y permanezca imposibles de alcanzar para las clases inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas)”.

8. Estimular al público a ser complaciente con la mediocridad
Promover al público a creer que es moda el hecho de ser estúpido, vulgar e inculto…

9. Reforzar la autoculpabilidad
Hacer creer al individuo que es solamente él el culpable por su propia desgracia, por causa de la insuficiencia de su inteligencia, de sus capacidades, o de sus esfuerzos. Así, en lugar de rebelarse contra el sistema económico, el individuo se autodesvalida y se culpa, lo que genera un estado depresivo, uno de cuyos efectos es la inhibición de su acción. Y, sin acción, no hay revolución!

10. Conocer a los individuos mejor de lo que ellos mismos se conocen
En el transcurso de los últimos 50 años, los avances acelerados de la ciencia han generado una creciente brecha entre los conocimientos del público y aquellos poseídas y utilizados por las elites dominantes. Gracias a la biología, la neurobiología y la psicología aplicada, el “sistema” ha disfrutado de un conocimiento avanzado del ser humano, tanto de forma física como psicológicamente. El sistema ha conseguido conocer mejor al individuo común de lo que él se conoce a sí mismo. Esto significa que, en la mayoría de los casos, el sistema ejerce un control mayor y un gran poder sobre los individuos, mayor que el de los individuos sobre sí mismos.
*Linguista e filósofo estadunidense, professor do Massachusetts Institute of  Technology (MIT).
Fonte: Nodo 50

As novas alianças do PSOL

Charge: psolriodasostras.wordpress.com

Por Adriano S. Ribeiro
O caminho da perdição. PSOL segue exemplo do PT em busca de aliados
Adoção de alianças pragmáticas nas eleições divide o partido

BRASÍLIA - Até recentemente visto como um partido radical de esquerda, o PSOL está começando a mudar. Registrada oficialmente em 2005, a legenda chega este ano à sua segunda eleição municipal com reais chances de eleger prefeitos em duas capitais — Belém e Macapá — e um acalorado debate interno sobre a ampliação das alianças pragmáticas com legendas sem qualquer afinidade programática. O cerne desse embate é justamente a campanha do candidato Clécio Vieira, pelo PSOL, à prefeitura de Macapá.
Capitaneado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), o partido se uniu na capital do Amapá com PPS, tradicional aliado dos tucanos, PV, PCB e, para surpresa de alguns, com três partidos nanicos sem qualquer definição ideológica: PTC, PRTB e PMN. Cada um dos três tem um deputado federal, todos do baixíssimo clero da Câmara. Entre eles, Jaqueline Roriz, filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz.
A aliança na capital do Amapá provocou críticas dos setores mais radicais do partido, que já tem tendências e grupos internos, como no PT. Integrante da ala Corrente Socialista dos Trabalhadores, o ex-deputado federal Babá é uma das principais vozes contrárias ao acordo, que, segundo ele, teria sido rejeitado por 40% dos participantes do congresso da legenda.
— Isso é seguir a lógica que destruiu com o PT. Esse tal arco de alianças foi se ampliando de tal forma que hoje o PT está com o Paulo Maluf em São Paulo e com Sérgio Cabral e Eduardo Paes no Rio. Na verdade, eles querem uma política que conduza a um PT disfarçado. Isso nós não queremos no PSOL. Fomos expulsos do PT por manter nossas origens de não concordarmos com alianças com partidos da burguesia ou com esses pequenos partidos que na verdade são siglas de aluguel — opinou Babá.
A opinião do ex-deputado, porém, vem se tornando crescentemente minoritária no partido. Hoje um dos principais quadros da legenda no cenário nacional, o senador Randolfe Rodrigues lidera o movimento pela ampliação das alianças. Já apontado como provável pré-candidato do partido à Presidência da República em 2014, o jovem Randolfe vem trabalhando intensamente para diminuir o radicalismo no partido.
— Desde seu nascimento, o PSOL debate sobre o “vir a ser”: se seremos um PSTU turbinado ou se seremos uma alternativa real à esquerda. Se o PSOL sair bem das eleições deste ano, poderemos ser uma síntese que represente essa alternativa — diz o senador.
Apesar de apoiar a decisão da sigla tomada semana passada de proibir alianças com PSDB, DEM, PMDB, PR, PTB e PP, Randolfe não vê problemas em firmar alianças com os nanicos:
— Alguns desses partidos cumprem esse papel de partido de aluguel e até se vendem; outros, não. O PSOL tem de ter firmeza de princípios e flexibilidade na prática. Há espaço político enorme para uma posição política de esquerda.
A expectativa no partido é que as eleições de outubro sacramentem o rumo da legenda nos próximos anos. Caso o PSOL consiga bom resultado em Macapá e Belém, onde lançou Edmílson Rodrigues em aliança com o PCdoB, a tendência é que a tese mais pragmática prospere.
Para o presidente da legenda, deputado Ivan Valente (SP), a ampliação das alianças é um processo natural.
— Em 2008, o PSOL era uma antítese do PT. Era muito pequeno, mas hoje conseguiu se afirmar nacionalmente, e aí você pode abrir algumas exceções que não comprometem o partido.
Também dirigente do partido, Milton Temer (RJ) faz parte dos entusiastas das alianças locais, mas considera fundamental a existência de críticas internas a elas:
— Existe um embate e estou entre os que se alinham inteiramente com a operação que Randolfe faz no Amapá. Isso não é nenhuma tragédia, não vai mudar a linha ideológica do Clécio. Ter um caminho mais amplo é diferente de rendição — completou Temer.
Fonte:  Advivo

Como os Estados Unidos perderam o rumo


Ao investigar impotência de Obama diante de WallStreet e guinada ultraconservadora dos republicanos, Krugman dispara: país entrou em crise com a democracia


Por Paul Krugman e Robin Wells,
Do New York Review of Books
Tradução: Hugo Albuquerque
28/08/2012.

Na primavera de 2012, a campanha de Obama decidiu ir atrás da história de seu oponente, Mitt Romney, na Bain Capital, uma firma de administração de fundos privados [private equity] que se especializou em assumir o controle de empresas e multiplicar o capital de seus investidores – às vezes, promovendo seu crescimento, mas frequentemente às custas dos seus trabalhadores. Na verdade, houve vários casos em que a Bain conseguiu lucrar mesmo quando as empresas adquiridas foram à falência.
Havia razões política claras para tal atitude. O próprio senador Ted Keneddy havia suscitado, com sucesso, a história dos trabalhadores arruinados pela Bain, em sua campanha contra Ronney em Massachussetes, em 1994. Além disso, o único discurso possível para Romney, na atual disputa pela presidência, é sua afirmação de que pode, como um homem de negócios bem- sucedido, consertar a economia. Fazia todo o sentido apontar as muitas sombras que pairam sobre a história de negócios de Romney – e fisar que o que é bom para a Bain, definitivamente não serve aos Estados Unidos.
No entanto, enquanto escrevíamos este artigo, dois políticos destacados do Partido Democrata minaram a estratégia. Primeiro, Cory Booker, o prefeito de Newark, descreveu os ataques ao private equity como “repugnantes”. Depois, ninguém menos do que Bill Clinton apressou-se a descrever a história de Romney como “legítima”, acrescentando: “Não acho que devemos ficar na posição em que dizer: ‘este é um trabalho ruim’, ou ‘este é um bom trabalho’”. (Mais tarde, ele apareceu ao lado de Obama e disse que uma presidência de Romney seria “calamitosa”).
O está acontecendo? A resposta atinge o centro das decepções — políticas e econômicas – com o governo Obama.
Quando o presidente foi eleito, em 2008, muitos progressistas esperavam uma repetição do New Deal. A situação econômica era, afinal, muito semelhante. Como em 1930, um sistema financeiro descontrolado levou primeiro a excesso de endividamento privado; e, em seguida, a uma crise financeira. A contração econômica que se seguiu (e persiste até hoje), embora não tão severa quanto a Grande Depressão, mantém uma semelhança óbvia com a do século passado. Por que as políticas deveriam seguir um script semelhante?
Mas, embora a economia de hoje mantenha forte semelhança com a dos anos 1930, o cenário político não a acompanha — pois nem os democratas, nem os republicanos são o que eram outrora. Ao chegar à presidência com Obama, boa parte do Partido Democrata foi quase capturada pelos interesses financeiros que levaram à crise. Como mostraram os incidentes com Booker e Clinton, parte do partido permanece nesta condição. Enquanto isso, os republicanos tornaram-se extremistas a um ponto que nunca se imaginou, três gerações atrás. A oposição radical que Obama tem enfrentado em questões econômicas contrasta com o fato de que a maioria dos republicanos no Congresso votou a favor, e não contra, a principal conquista de Roosevelt: a lei instituiu a Seguridade Social nos EUA, em 1935.
Essas mudanças nos partidos políticos dos EUA explicam o motivo de não ter havido um segundo New Deal; e por que a resposta política à crise econômica prolongada tem sido tão inadequada. A captura parcial do Partido Democrata por Wall Street e o efeito de distorção que ela produziu na política são os temas centrais do livro de Noam Scheiber, The Escape Artists: How Obama’s Team Fumbled the Recovery [algo como “Os Escapistas: Como a equipe de Obama se atrapalhou na recuperação”], uma visão, a partir de dentro, das ações da equipe econômica de Obama, desde os primeiros dias transição presidencial até o final de 2011.
Scheiber começa tratando da influência que Wall Street exerceu sobre o conjunto da equipe econômica. Em suas primeiras páginas, ele conta como a campanha de Obama apoiava-se nos conselhos políticos de “acadêmicos obscuros, radicais sem muitos vínculos e burocratas ultrapassados” – a exemplo de Austan Goolsbee, um jovem professor de economia da Universidade de Chicago, e Paul Volcker, o octogenário embora ainda vigoroso ex-presidente do Federal Reserve [o equivalente americano do Banco Central – Nota da tradução]. Porém, em setembro de 2008, um outro grupo havia se formado e começou a disputar influência. Era composto por endinheirados de dentro do mercado. A maioria deles tinha trabalhado para o ex-secretário do Tesouro [equivalente ao ministro da Fazenda no Brasil – nota da tradução] de Clinton, Robert Rubin — que foi sócio da Goldman Sachs antes de integrar o governo de Bill Clinton e, após sair, tornou-se diretor, conselheiro e depois presidente do Citigroup. Eram os rubinistas.
Em pouco tempo, este grupo substituiu inteiramente a equipe anterior. Por exemplo, a pessoa encarregada de estudar possíveis contratações era Jason Furmam, economista de Washington que dirigiu o Projeto Hamilton, um think tank de tendência neoliberal fundado por Rubin e mantido por financistas simpatizantes do Partido Democrata. Mike Froman – um auxiliar de Rubin durante seu mandato como secretário do Tesouro (e que o acompanhara no Citigroup) — foi o chefe pessoal da equipe de transição formada por Obama. Foi Froman quem indicou e apoiou, posteriormente, Larry Summers e Tim Geithner como principais candidatos para o departamento do Tesouro.
Summers, economista de Harvard e ex-subsecretário do Tesouro de Robert Rubin, (mais tarde, seu substituto como secretário do Tesouro e também consultor de um fundo de hedge de Wall Street), seria o principal assessor econômico de Obama, na condição de diretor do Conselho Econômico Nacional. Geithner – que havia sido o braço direito de Summers na secretaria do Tesouro de Clinton e, mais tarde, presidente do Federal Reserve de Nova York – fora uma das três pessoas que agiram, no outono de 2008, para salvar os maiores bancos do país, em termos muito favoráveis a estes. Como Scheiber escreve: “Ao escalar Mike Froman como encarregado da contratação, Obama escolheu para seu governo um staff composto por infiltrados (do mercado financeiro) e gente do establishment”
O domínio dos rubinistas no novo governo chocou muitos progressistas. Para muitos a revogação da Lei Glass-Steagall, promovida por Bill Clinton e defendida por Robert Rubin (mas contestada por Paul Volcker, presidente do FED), simbolizava as relações muito amigáveis entre o governo Clinton e Wall Street, e ajudara a disparar a crise financeira de 2008. A lei Glass-Steagall, datada da época da Grande Depressão, proibia as instituições financeiras de manter contas bancárias garantidas pelo Estado e, ao mesmo tempo, atuar nos mercados de derivativos. Ela não teria impedido a implosão de 2008 em Wall Street. O incêndio teve como combustíveis os níveis extraordinariamente elevados de alavancagem de bancos de investimento como o Lehman e Merrill Lynch e a construção de imensos portfólios de hipotecas de segunda linha, por instituições como o Bank of America. Mas os progressistas estavam certos, ao lembrar que Wall Street fora perigosamente desregulada por muito tempo, e que todo o país agora estava pagando por isso.
No entanto, o novo governo se fez de surdo a estas preocupações. Como relata Scheiber, quando um senador democrata protestou que a equipe liderada por Geithner e Summers tinha sido muito simpática com Wall Street durante a década de 1990, Obama rejeitou as preocupações, afirmando que “precisava de pessoas com quem pudesse contar em uma crise. Além disso… eles tinham mudado”.
Foi algo como uma conspiração? Não – como Scheiber explica, tudo foi menos intencional e mais complicados do que parece. Por um lado, Obama tinha necessidade de ter mãos experientes credibilidade imediata, em meio à pior crise financeira desde a Grande Depressão. Por outro, pesou a inapetência do presidente por decisões politicas fortes. Mas também é claro que a personalidade de Obama e seu temperamento foram fundamentais para alinhar a sorte do presidente com a dos pupilos de Rubin. Como Scheiber observa com correção, Obama e Tim Geithner têm, em comum, infâncias similares como expatriados e um discreto estilo auto-depreciativo, que os leva a evitar o conflito direto. Sem dúvida, a equipe econômica dos sonhos de Obama deu-lhe a “afirmação intelectual” pela qual, observa Scheiber, “ele suplicava.”
Mas essa equipe, que pode ter dado a Obama afirmação intelectual, não lhe ofereceu deu conselhos muito bons. No fim das contas, a resposta de Obama à crise financeira foi desequilibrada e inadequada. Wall Street recebeu um resgate generoso, com poucas exigências de contrapartidas; os trabalhadores e proprietários de imóveis hipotecados foram abandonados, por planos impotentes de estímulo e redução das dívidas.
É verdade, nem todos os membros da equipe agiram errado. Sabemos hoje que especialmente Christina Romer, uma professora de Berkeley nomeada para chefiar o Conselho de Assessores Econômicos de Obama, reivindicou, desde o início, um estímulo econômico muito maior que proposto pelo governo. Mas Romer foi escanteada. Quem falava ao ouvido de Obama era Larry Summers — uma pessoa que não tem vergonha em mostrar seu brilhantismo. A princípio, isso poderia não fazer muita diferença. Enquanto acadêmico, Summers defende perspectivas econômicas keynesianas não muito diferentes das de Romer (ou das nossas). Mas, em vez de transmitir uma análise econômica sóbria, ele tentou mostrar sua astúcia política antevendo o que o Congresso estaria disposto a aceitar. Como resultado, deixou de defender a causa de um estímulo econômico maior.
Mas é Tim Geithner, o secretário do Tesouro de Obama, que aparece – ainda mais que o presidente – como o elemento decisivo desta saga. Em contraste com Summers – retratado por Scheiber como um rubinista flexível, disposto a alterar seus pontos de vista diante de provas e convencido, em especial, de que os acionistas de bancos socorridos podiam e devia pagar mais para os contribuintes – Geithner é descrito como um rubinista doutrinário, que enxerga, como sua principal tarefa, restaurar a confiança do mercado financeiro. Em sua cabeça, isso significa não fazer nada que possa perturbar Wall Street.
Um pacote de socorro financeiro era, sem dúvida, necessário. Mas Geithner atropelou Summers – e até mesmo Obama – desenhando um resgate no qual: (I) os contribuintes assumiram todo o risco, sem ganhar nada em troca; (II) as investidas especulativas do Goldman Sachs contra a AIG [American International Group, que chegou a ser a maior seguradora do mundo, faliu e foi resgatada pelo FED em 2008] foram honradas na íntegra e validadas graças ao resgate da empresa pelo governo; e (III) o plano de regulação dos mercados de derivativos foi, como disse um lobista, “o que o próprio mercado gostaria de ter formulado”. Não houve, é claro, debate algum sobre responsabilidade ou dolo, sequer uma insinuação de que os banqueiros tinham feito algo errado, ao colocando a economia em tal situação. Isso, afina, poderia “minar a confiança”…
Como Geithner conseguiu dominar tão completamente as políticas econômicas? Em parte, graças sua habilidade como articulador. Mesmo quando não podia ganhar uma disputa pelo argumento, ele o fazia por outros meios. Muitas vezes, ele simplesmente esperava as pessoas desistirem – foi sua tática com Rahm Emanuel, sabendo que a atenção maníaca deste acabaria desviando-o para outro assunto. E, crucialmente, Geithner foi autorizado pela falta de vontade de Obama em resolver impasses entre seus assessores. Quando a opinião pública manifestou seu ódio diante do socorro aos bancos, David Axelrod, Robert Gibbs, e Rahm Emanuel voltaram-se para Geithner e insistiram com ele para que acionistas de bancos pagassem algum preço, pelo resgate oferecido pelo governo ao setor bancário. Geithner simplesmente recusou-se a ceder, argumentando de modo capcioso que os bancos já haviam pago um preço, por serem forçados a levantar capital no mercado. Como Scheiber aponta com precisão, esta fala ignorava o fato de que, ao respaldar os bancos durante sua implosão autoinfligida, o governo norte-americano fornecera-lhes uma apólice de seguro de bilhões de dólares. No final, Geithner ganhou.
Se Geithner foi o designer ativo do plano de resgate de Wall Street, Obama foi o facilitador passivo da intransigência do Partido Republicano. Scheiber descreve como, por inúmeras vezes, a busca de soluções bipartidárias, por parte do presidente, deixou o partido mais conservador em vantagem. Scheiber observa que “na mente de Obama, ‘partidário’ está igualado a ‘paroquial’, ou mesmo a ‘corrupto’”, o que o levou a “fazer enormes concessões, antes mesmo que a negociação [sobre o estímulo à economia] tivesse começado”. Também ressalta que o apetite do presidente para ser aceito pelos dois partidos sempre foi “profundamente confuso” e que, ao contrário da abordagem de Obama, “as pressões dos partidos podem muito bem servir ao interesse público, quando não há outro caminho para passar a legislação”.
O centrismo inato de Obama levou-o a adotar a preocupação com o déficit orçamentário de Geithner e de Peter Orszag (o chefe do Escritório de Orçamento e Gestão, outro protegido de Rubin), desprezando os protestos verbais de Summers e Romer, para quem não era o momento de se preocupar com déficits. Como resultado, Obama nunca compreendeu que o estímulo econômico original foi suficiente. Esta posição deixou-o emparedado quando se tornou claro – já no verão de 2010, ou mesmo antes — que as medidas eram, na verdade, quase insignificantes.
O ponto mais baixo, no balanço de Scheiber, foi participação inepta de Obama nas negociações de 2010 sobre o destino dos cortes de tributos para os ricos, que haviam sido decretados no governo Bush. A própria equipe econômica, profundamente preocupada porque “o presidente estava ausente” do embate, passou a agir por conta própria. Foram Geithner e o antigo braço direito político de Clinton, Gene Sperling, que arrancaram concessões dos republicanos no acordo final, enquanto Obama ainda procurava um consenso. Outra vítima desse período foi a busca real de qualquer alívio da dívida para os proprietários de imóveis hipotecados. Por volta do final de 2010, tanto Summers quanto Romer deixaram Washington frustrados.
O livro de Scheiber é, portanto, uma história deprimente a respeito de quanto a influência de Wall Street sobre os democratas livrou o sistema financeiro de pagar pelo caos que provocou e evitar, de quebra uma regulamentação eficaz de sua atividade. Também conta como Obama foi incapaz de confrontar os republicanos mais intransigentes. Mas o que tornou este partido tão extremista? Este é, de diferentes maneiras, o tema de dois outros livros recentes: Pity the Billionaire [algo como “Coitados dos bilionários”] de Thomas Frank e The Age of Austerity [“A Era da Austeridade”] de Thomas Edsall.
Frank concentra-se no que chama de “algo único na história de movimentos sociais dos Estados Unidos: uma conversão em massa para a teoria do livre mercado como resposta aos tempos difíceis”. Trata-se de algo realmente notável. Afinal, por três décadas, antes da crise financeira norte-americana, as políticas públicas e a política institucional foram crescentemente dominadas pela ideologia do laissez-faire – a crença de que os mercados (e os mercados financeiros, em particular) devem ser autorizados a correr soltos. Depois, veio a queda inevitável. Mas, longe de exigir um retorno a uma maior regulamentação, grande parte do eleitorado norte-americano voltou-se para a visão de que a crise foi causada, em muito, pela intervenção do Estado. Em consequência, este setor agrupou-se em torno de políticos dispostos a mergulhar ainda mais fundo nas políticas que levaram à crise.
Como isso aconteceu? A resposta de Frank é que a causa foram os próprios resgates. Ao agir à la Geithner, socorrendo os banqueiros sem rédeas e sem culpa, o governo Obama deixou grande parte público norte-americano irritado e com a sensação – correta – de que alguém estava fugindo com algo. A direita foi hábil em explorar essa sensação. O famoso discurso de Rick Santelli da CNBC, em fevereiro de 2009 – que iniciou o movimento Tea Party – foi uma denúncia do TARP, o resgate aos grandes bancos aprovado nos últimos dias da administração Bush (embora uma enormidade de eleitores acreditem que foi aprovado no governo Obama). É verdade que Santelli dirigiu toda a sua ira para uma parte ínfima do TARP – a ajuda prevista aos proprietários de imóveis em dificuldades, que, em grande parte, nunca se materializou – evitando mencionar o socorro muito maior oferecido aos bancos. Mas pelo menos ele estava culpando alguém, coisa que o governo Obama recusou-se a fazer.
E na hora em que Obama começou, timidamente, a sugerir que alguns banqueiros poderiam ter se comportado relativamente mal, já era tarde demais. Todo o Partido Republicano (e grande parte do eleitorado) já tinha aderido a uma narrativa na qual a crise financeira de 2008 – que se seguiu a 14 anos de domínio da extrema-direita republicana no Congresso e a oito anos nos quais os conservadores linha-dura controlaram todos os três ramos do governo – foi causada… por excesso de intervenção do governo, para ajudar os pobres e, especialmente, os não-brancos. Nas palavras de Frank:
O culpado, para variar, é o governo…. Os funcionários forçaram os bancos a oferecer empréstimos especiais para uma minoria de tomadores (…) e toda a crise financeira foi resultado da interferência do governo.
Desse modo, a direita consegue reposicionar-se como suposta inimiga do odiado “Big Business” – não porque ele maneja negócios, mas porque seria “insuficientemente capitalista”. Não há melhor prova da circulação deste ponto de vista, pontua Frank, que um artigo de Paul Ryan [o vice-presidente na chapa de Mitt Rommey], na Forbes de 2009. Intitulado “Abaixo o Big Business”, o texto exorta: “cabe ao povo americano – inovadores e empreendedores, pequenos empresários… tomar uma atitude”.
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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Memórias da Resistência, novo filme sobre a ditadura


João Ricardo Penteado

No esforço para restaurar verdade sobre anos de chumbo, documentário aborda luta estudantil no CRUSP e guerrilha efêmera em Ribeirão Preto

Em meio ao início dos trabalhos da Comissão da Verdade, a filmografia nacional sobre a ditadura militar está prestes a ganhar nova contribuição. Dirigido por Marco Escrivão, o documentário Memórias da Resistência vai trazer a história de ex-presos políticos que participaram da resistência ao regime ditatorial que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. A expectativa de lançamento é para o fim do ano.
“O objetivo principal desse trabalho é justamente manter bem viva a memória sobre esse momento histórico do país e evitar que ele se repita algum dia”, diz Escrivão.
Na origem do documentário, um fato bastante curioso. Em 2007, uma pilha de documentos antigos foi encontrada por trabalhadores rurais em uma casa abandonada no meio de um canavial no município de Jaborandi, interior de São Paulo. Um dos trabalhadores, que também era estudante de História, reconheceu de imediato a relevância histórica dos documentos. Tratava-se de material do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social), um dos principais organismos de repressão política da Ditadura.
“Posteriormente, o Cleiton, estudante de História, voltou à casa abandonada no canavial juntamente com um professor de sua faculdade e eles recolheram todos os documentos que estavam espalhados por lá. Tudo foi digitalizado e entregue ao Arquivo Público do estado”, relembra Escrivão. Descobriu-se depois que a casa era de Tacito Pinheiro Machado, um ex-delegado do DOPS.
Os documentos foram analisados por membros do Instituto Práxis de Educação e Cultura, baseado em Franca-SP. Entre eles, estava Tito Bellini, o professor de história que coletou os documentos em primeira mão, e que decidiu encabeçar o projeto para a realização de um documentário.
“O Tito inscreveu um projeto para um edital de Mídias Livres do Ministério da Cultura em 2010. Em 2011 o projeto foi aceito, e o Minc liberou 100 mil reais pra que fizéssemos, além do documentário, seis boletins informativos, um livro e o site.”
A pilha encontrada no canavial trazia fichas de presos políticos, envelopes de correspondências, relatórios, e até um “Manual de Subversão e Contra-subversão”. A maior parte das fichas dizia respeito a dois IPMs (Inquérito Policial Militar) em particular.
O primeiro é o IPM 114/69, que tratava da atuação das Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN), guerrilha criada em meados de 1967 por dissidentes do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que teve uma breve atuação na região de Ribeirão Preto-SP, até ser desmantelada por agentes do regime.
O outro inquérito é o IPM-CRUSP, que tratava da resistência política na moradia estudantil dos alunos da USP (Universidade de São Paulo), outro grande polo de militantes contrários à Ditadura.

São essas duas histórias que o documentário vai contar.
“Entrevistamos no total doze ex-presos políticos, ao longo de cinco meses. Eles contaram sobre a atuação na resistência, o idealismo que compartilhavam, as torturas que sofreram”, fala Escrivão.
Perguntado sobre como se sentiu diante das histórias contadas, sobretudo dos relatos de torturas, Escrivão respondeu confiante.
“De fato, a história mexeu um pouco comigo e até aconteceu de ter pesadelos em algumas noites. Mas tenho em mente que trabalhar nesse documentário, de certa forma, é continuar a luta que essas pessoas travaram no passado, cumprindo um outro papel, o de resgate histórico. E é esse sentimento, por exemplo, que me fez enfrentar 13 horas de ônibus só para participar da primeira audiência pública da Comissão da Verdade [ocorrida no dia 30 de agosto], onde pude divulgar o documentário”.