Professora Patrícia Murillo, da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, denuncia: “donos da mídia e governo querem ocultar a verdade e uniformizar notícias”
Por Leonardo Wexell Severo,
06/12/2013
Da Tegucigalpa (Honduras)
Fundadora do curso de
Jornalismo da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), em San Pedro
Sula, a professora Patrícia Murillo denuncia a sequência de assassinatos de
profissionais da comunicação – e a impunidade – como instrumentos utilizados
pelo governo contra a informação. Militante do Partido Livre (Liberdade e
Refundação), Patrícia expõe nesta entrevista como a mídia em seu país atua como
correia de transmissão dos interesses da extrema direita, profundamente
vinculados – e submissos – ao governo dos Estados Unidos.
A imprensa alternativa e a
oposição têm denunciado a brutal perseguição dos jornalistas em Honduras? Qual
é a atual situação?
É uma realidade dura e as
estatísticas a refletem bem: 30 companheiros comunicadores foram assassinados
no último período (desde o golpe de 2009), de todos os gêneros de jornalismo,
até mesmo animadores de programas juvenis. A impunidade é absoluta em todos os
casos. Isso dá uma ideia da brutal perseguição, da pressão e do cerco enorme a
que vêm sendo submetidos os profissionais da imprensa, o que fez com que alguns
tivessem até mesmo de sair do país e outros a se autocensurarem. O mais grave é que estas ameaças vêm de
alguns patrões, de donos dos meios de comunicação, que têm uniformizado o
pensamento dos companheiros para que não digam o outro lado da notícia, para
que ocultem a realidade. Em Honduras não há equilíbrio, não há igualdade
informativa.
O que acaba representando uma
mordaça...
Há mil maneiras de exercer o
controle informativo. Quando se chega ao ponto de invadir a casa de alguns
profissionais para roubar computadores e seus aparelhos de comunicação...
Não há qualquer limite.
Esta é a realidade de um país
que não está em guerra, mas que é hoje o país mais perigoso do mundo para
exercer o jornalismo. Em Honduras a liberdade de expressão está ferida, mas não
está morta.
A questão da manipulação
midiática também se dá em torno aos interesses das transnacionais da
comunicação.
É algo criminoso na medida em
que estão mantendo a oito milhões de hondurenhos mergulhados, alienados,
encarcerados por este cerco midiático que buscam implementar em todo o mundo. É
algo bestial, porque somos seres humanos, não somos animais nem robôs.
Especialmente a juventude se lançou às ruas para protestar: aí estão os murais,
os grafites, os blogs, as redes sociais. Quando a população se viu bloqueada
pelos grandes meios, isso desmascarou a mídia. Isso não expôs somente os donos
dos meios, mas os jornalistas, os intermediários, os responsáveis por manter o
povo na alienação. Porque em Honduras esse tipo de mídia foi desmascarada antes
do golpe e o povo tem sido muito criativo. Há muito teatro, há muita música, há
muita arte popular, há muitas formas de expressão e jornalismo popular para se
contrapor a esse cerco midiático, que não é novo.
É uma resistência que vem de
longe...
Na década dos 80, que Honduras
era praticamente uma República alugada, eu trabalhava em Tegucigalpa onde
estavam matando dirigentes hondurenhos. Tudo era controlado e manipulado pelos
que atacavam a revolução nicaraguense, pelos que defendiam o exército salvadorenho,
que atacava a seu povo e vinha descansar em Honduras. No entanto, os
hondurenhos, em sua maioria, não haviam reagido. Apesar de todo esse perigo
para exercer a comunicação, hoje o povo despertou e enfrenta os que acreditam
que matando o mensageiro matam a verdade. Não é assim.
Qual a sua avaliação da
Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP)?
Estou muito preocupada com a
atuação da Sociedade Interamericana de Imprensa, com sede em Miami. Quando a
SIP sente que algum jornalista associado a ela é agredido ou visto com maus
olhos, ela já corre para criminalizar o movimento sindical hondurenho. Mas não
diz nada quando matam dezenas de jornalistas populares, pertencentes ou
simpatizantes do Partido Livre, quando invadem estações de rádio ou destroem
canais de televisão em nosso país.
Agindo desta forma, a SIP está revelando a sua verdadeira sina, que não
á de velar pela liberdade de expressão dos povos, mas de manter o status quo
dos donos da mídia a ela associados. Aqui e em toda a América Latina esses
proprietários pertencem a trustes transnacionais acostumados a fazer negócios
com os governos hondurenhos.
Foto: Leonardo Wexell Severo
Fonte: Brasil de
fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário