18/12/2013
Hoje, o Congresso Nacional aprovou o
Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2014, prevendo um total de
despesas de R$ 2,4 trilhões, dos quais a impressionante quantia de R$ 1,002
trilhão (42%) é destinada para o pagamento de juros e amortizações da dívida
pública[i].
Esse
privilégio mostra que o endividamento é
o maior problema do gasto público brasileiro, e afeta todas as áreas
sociais, tendo em vista que o valor de
R$ 1,002 trilhão consumido pela dívida corresponde a 10 vezes o valor previsto
para a saúde, a 12 vezes o valor previsto para a educação, e a 4 vezes mais que
o valor previsto para todos os servidores federais (ativos e aposentados) ou
192 vezes mais que o valor reservado para a Reforma Agrária.
Diante
disso e tendo em vista as inúmeras comprovações denunciadas pela CPI da Dívida
realizada na Câmara dos Deputados (2009/2010), de falta de contrapartida dessa
dívida, além de ilegalidades e ilegitimidades, é urgente realizar completa
auditoria, conforme previsto na Constituição Federal. Conheça mais sobre o
assunto no livro Auditoria Cidadã da Dívida – Experiências e Métodos.
Servidores Públicos
O
Orçamento 2014 aprovado hoje prevê, para gastos com pessoal, apenas a segunda
parcela do reajuste anual de 5%, que sequer
cobre a inflação do período.
Comparativamente
ao PIB, os gastos com pessoal apresentam queda no PLOA 2014, de 4,3% do PIB em
2013 para 4,2% do PIB em 2014.
Desta forma, verifica-se que a proposta do
governo aos servidores mal repõe a inflação deste ano, e não recupera as perdas
históricas que levaram as categorias ao grande movimento grevista no ano
passado.
Salário Mínimo e aposentadorias
O PLOA
2014 mantém a política de reajuste do salário mínimo prevista na Lei nº
12.382/2011, segundo a qual o mínimo será reajustado pela inflação mais o
crescimento real do PIB de 2 anos atrás. Para 2014, isto significa um reajuste
de 6,8% (de R$ 678,00 para R$ 724 em 1/1/2014), correspondente à inflação
(INPC) de cerca de 6% mais um aumento real equivalente ao crescimento real do
PIB de 2012 (0,87%).
Com um aumento real de 0,87% por ano, serão
necessários mais 154 anos para que seja atingido o salário mínimo necessário,
calculado pelo DIEESE em R$ 2.729,24, e garantido pela Constituição: O
art. 7º, IV, determina que é direito “dos trabalhadores urbanos e rurais (…)
salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social…”.
O PLOA 2014 não traz nenhuma previsão de
aumento real para as aposentadorias acima do salário mínimo. O
eterno argumento oficial contra um aumento maior do salário mínimo é que a
Previdência Social não teria recursos suficientes para pagar as aposentadorias.
Porém, tal argumento é falacioso e não se sustenta em base aos dados da
arrecadação federal.
A Previdência é um dos tripés da Seguridade
Social, juntamente com a Saúde e Assistência Social, e tem sido altamente
superavitária. Em 2011, o superávit da Seguridade Social
superou R$ 77 bilhões, em 2010 R$ 56 bilhões, e em 2009 R$ 32 bilhões, conforme
dados da ANFIP. Deveríamos estar discutindo a melhoria do sistema de Seguridade
Social, mas isso não ocorre devido à Desvinculação
das Receitas desse setor para o cumprimento das metas de superávit primário,
ou seja, a reserva de recursos para o pagamento da dívida pública.
Distrito Federal, Estados e Municípios
O
orçamento 2014 aprovado sacrifica também os entes federados. Enquanto os rentistas receberão 42% dos
recursos orçamentários em 2014, os 26 estados, Distrito Federal e mais de 5.000
municípios receberão 9,9%, o que significa uma afronta ao Federalismo.
A
coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida Maria Lucia Fattorelli, a
coordenadora do Núcleo DF Eugenia Lacerda e colaboradores do movimento passaram
o dia no Senado, entregando a Carta Aberta que alerta para as limitações da proposta
contida no PLC-99/2013. Apesar de o referido PLC representar uma pífia revisão
da extorsiva remuneração nominal que vem sendo exigida dos entes federados
desde o final da década de 90, nossa equipe ouviu de alguns senadores que sua
aprovação teria sido suspensa este ano, devido à exigência de setores do
governo federal que temem a interpretação negativa dos rentistas. Esse fato
demonstra o crescente poderio do Sistema da Dívida nas esferas política,
econômica, financeira e legal em nosso país.
[i] O valor de R$ 1,002 trilhão inclui a
chamada “rolagem” ou refinanciamento da dívida, tendo em vista a comprovação de
que grande parte dos juros são contabilizados como se fossem amortizações e
incluídos na chamada “rolagem” da dívida. Esse tema está detalhado no relatório
específico elaborado pela Auditoria Cidadã da Dívida incluído no Anexo I do
livro Auditoria Cidadã da Dívida – Experiências e Métodos.
Fonte: Auditoria
Cidadã da Dívida
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