O sociólogo Francisco de
Oliveira. Fabio Braga/Folhapress |
RICARDO MENDONÇA
09/11/2013 - 03h03
DE SÃO PAULO
Socialista inveterado,
acadêmico prestigiado, parceiro rompido de Fernando Henrique Cardoso e Luiz
Inácio Lula da Silva, o sociólogo Francisco de Oliveira completou 80 anos
quinta-feira passada (dia 7) sem demonstrar qualquer sinal de afrouxamento da
energia crítica.
Em entrevista realizada no seu
apartamento no bairro da Lapa, em São Paulo, ele falou com entusiasmo dos
protestos de junho ("a sociedade mostrou que é capaz ainda de se
revoltar") e, sem rodeios, criticou as principais figuras do atual cenário
político.
A presidente Dilma Rousseff é
uma "personagem trágica" que deu uma "resposta idiota" às manifestações.
Lula "está fazendo um serviço sujo" ao atuar como apaziguador de
tensões sociais. Marina Silva é uma "freira trotiskista" adepta de um
"ambientalismo démodé". O Bolsa Família, "uma declaração de
fracasso". E por aí vai.
O sociólogo não tem receio de
expor suas ideias "revolucionárias". Uma delas é separar o Brasil
como forma de resolver a questão indígena: "Há um Estado indígena [...]
Ninguém tem coragem de dizer isso. Então todo mundo quer integrar",
afirma.
Três trechos (amostra grátis da polêmica entrevista):
Que
avaliação o senhor faz do movimento "black bloc"?
Faço uma boa avaliação. Se eles
se constituem como novos sujeitos da ação social, é para saudar. Vamos ver se,
com a ajuda deles, a gente chacoalha essa sociedade que é conformista. Parece
que tudo no Brasil vai bem. Não é verdade. Vai tudo mal. Porque o Estado não
age no sentido de antecipar-se à sociedade que está mudando rapidamente. Você
tem uma sociedade como a brasileira em que a questão operária tornou-se
central. E aí vem o Lula e ele está fazendo um trabalho sujo, que é aquietar
aquilo que é revolta. Essa sociedade não aguenta esse tranco.
Trabalho
sujo?
Ah, tá. A questão operária tem
a capacidade de transformar o Brasil e ele está acomodando. De certa forma,
está matando a rebeldia que é intrínseca a esse movimento. Rebeldia não quer
dizer violência, sair para a rua para quebrar coisa. Rebeldia é um
comportamento crítico.
Onde
o senhor vê isso no Lula?
Em tudo. Lula é um conservador,
ele nunca quis ser personagem desse movimento [operário]. Ele foi contra a
vontade dele. Mas ele, no fundo, é um conservador. Ele age como. Na
Presidência, atuou como conservador. Pôs Dilma como uma expressão conservadora.
Porque você não vende uma personalidade pública como gerente. Gerente é o
antípoda da rebeldia. Ele vendeu a Dilma como gerente. Uma gerentona que sabe
administrar. É péssimo. O Brasil não precisa de gerentes. Precisa de políticos
que tenham capacidade de expressar essa transformação e dar um passo a frente.
Ele empurrou a Dilma goela abaixo. Não se pode nem ter uma avaliação mais séria
dela, pois ele não deixa ela governar. Atrapalha ela, se mete, inventa que ele
é o interlocutor. Aí não dá. E ela não pode nem reclamar. É uma cria dele, né?
Para acompanhar a entrevista
por completo, clicar Folha de S.Paulo
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