São Paulo: Diferentemente da
antiga indústria cultural, ao vincular a sua imagem a elementos simbólicos
produzidos colaborativamente, o novo empresariado da cultura aproveita-se dessa
riqueza enquanto capital simbólico coletivo, que ao final do processo haverá de
ser revertido em dinheiro.
A cultura no centro da luta de
classes em São Paulo
Um olhar panorâmico sobre o
atual cenário da cidade de São Paulo, e talvez do Brasil, indica-nos que cada
vez o tema da cultura ganha espaço e importância nas dinâmicas dos movimentos
sociais. Muito do que hoje faz parte do campo político, digamos, progressista
da cidade é constituído por grupos, coletivos e outras iniciativas que, de
alguma maneira, privilegiam a matéria arte-cultura. Sem dúvida, esta impressão
geral se deve, em grande medida, ao florescimento de um sem-número de saraus em
diversas periferias da cidade, dando origem ao que se consagrou chamar cultura
periférica. Mas é também resultado de uma longa jornada encampada por fazedores
de hip-hop, samba, teatro, produtores e distribuidores de vídeo, música,
comunicadores e mantenedores de espaços alternativos, que animam uma cena
bastante diversa e mais ou menos ligada aos interesses populares.
Igualmente, mesmo os movimentos
sociais, pequenos ou grandes, originalmente surgidos para atuarem com temas e
necessidades mais tradicionais, como habitação, saúde, transporte ou violência
urbana, têm dispensado alguma atenção ao tema. Talvez isso não ocorra tanto
porque tenham todos eles chegado à conclusão de que essa dimensão, simbólica,
da luta social seja de fato tão importante quanto a luta pela melhoria das
condições básicas de sobrevivência; infelizmente, no interior da esquerda há ainda
quem pense arte e cultura como mero reflexo das condições materiais e,
portanto, item secundário a ser trabalhado e desenvolvido. Mas é que, na falta
de processos de luta mais avançados e efetivos, a cultura apareceria como boa
opção de refúgio, um lugar para se manter unido até que a conjuntura passe, ou
então como instrumento de abordagem, uma isca através da qual se procuraria
seduzir o público-alvo e então despertá-lo para os assuntos, estes sim,
realmente importantes.
De todo modo, seja por reconhecimento
da urgência destas demandas reprimidas ou por mera imposição da conjuntura ou
pela mistura das duas coisas, o fato é que a pauta da cultura tem se colocado
na ordem do dia dos diversos segmentos de esquerda.
Por outro lado, é preciso dizer
que este movimento para a cultura também acontece por exigência das recentes
transformações do capitalismo. A etapa atingida pelo atual sistema produtivo,
sem eliminar as antigas formas de exploração, tem requerido, cada vez mais,
pessoas habilitadas para trabalharem com signos, linguagens, informação,
processos criativos. Não é raro, por exemplo, que os departamentos de recursos
humanos das empresas prefiram candidatos que tenham tido experiência com teatro
e bandas de rock aos que apresentam currículos quadrados e pragmáticos. Daí
que, junto a outras conveniências, tenham se expandido pela cidade espaços,
núcleos, fundações, ONGs e políticas públicas especializadas em atividades com
arte e cultura direcionadas principalmente para os jovens.
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