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Por Fabiana Ribeiro
Agência O Globo – sáb, 15 de set de 2012
RIO e SÃO PAULO - Para Letícia
Protásio, "os dias passam devagar". "Sobra tempo para ver as
coisas do bebê". Sobra tempo porque a jovem de 20 anos não está estudando,
tampouco trabalha, e muito menos procura emprego ("Quem vai empregar uma
grávida?"). Ela é um dos 5,3 milhões de jovens, entre 18 e 25 anos, que
estão fora da educação formal e do mercado de trabalho - quase a população da
Dinamarca. Um problema que atinge um em cada cinco jovens (ou 19,5% dos 27,3
milhões de pessoas dessa faixa etária), aponta o estudo exclusivo
"Juventude, desigualdades e o futuro do Rio de Janeiro", coordenado
pelo professor Adalberto Cardoso, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos
(Iesp), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele teve por base
microdados do Censo Demográfico de 2010, do IBGE.
As razões que levaram Letícia a
interromper os estudos e largar o emprego passam pela maternidade - um dos
principais motivos para as mulheres abandonarem os estudos e adiarem a entrada
no mercado de trabalho. Pelos dados do especialista do Iesp, o número de moças
que fica em casa é quase o dobro do dos rapazes: respectivamente, 3,5 milhões e
1,8 milhão. Mas a maternidade não é a única explicação. O forte desalento,
segundo Cardoso, ajuda a entender os números alarmantes. Que ficam mais graves
quando se leva em conta que, em 2010, ano do Censo, a economia brasileira
cresceu 7,5%.
- Esses jovens que ficam fora
têm qualificação muito ruim. Tão ruim que, ao abandonarem a escola, o mercado
de trabalho, mesmo em plena atividade, não os absorve. Resultado: eles
desistem, e são os pobres os mais afetados - disse Cardoso, acrescentando que
esse fenômeno é muito urbano. - Entram nesses números os jovens que foram
puxados para a criminalidade.
Na parcela mais pobre da
população brasileira, com renda per capita de até R$ 77,75, quase metade (ou
46,2%) dos jovens estava fora da escola e do mercado de trabalho.
- A escola não consegue atrair
o jovem, levando a uma elevada evasão escolar. Em consequência, ingressar no
mercado de trabalho vai ficando mais e mais difícil - explicou Cardoso.
Professor vê desalento
estrutural
O gargalo, segundo o professor
Fernando de Holanda Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), está na baixa taxa
de matrícula do ensino médio. Hoje, segundo ele, ao menos 50% dos jovens
trabalham sem ter nível médio:
- Quando vão para o mercado de
trabalho, não conseguem se colocar. Esse cenário cria um desalento estrutural,
que se complica a cada ano. É um problema de longo prazo.
O paulistano Eduardo
Victorelli, de 22 anos, não terminou o ensino médio e não buscou cursos
técnicos ou profissionalizantes depois que largou a escola, aos 17 anos. Embora
pareça ter um futuro incerto, ele afirma com segurança que será jogador de
futebol:
- Meus pais e minha família me
apoiam e conseguem pagar as contas. Acreditamos que o salário de jogador mudará
nossa vida.
Ele largou a escola para ir ao
Paraná, tentar jogar no Coritiba. Mas o salário não bastaria para comer, morar
e viver em outro estado, e voltou para São Paulo. Desde então, jogou em dois
pequenos times. Ele mora em Sapopemba, bairro simples da Zona Leste, com os
pais, avós e tios.
O afastamento dos estudos e do
trabalho vai comprometer - e muito - o futuro desses jovens, diz Cardoso:
- Parte dessas pessoas vai se
colocar como assalariado sem carteira assinada. Esse jovem de hoje vai carregar
o peso desse abandono pelo resto da vida - disse Cardoso.
Letícia vive com o namorado,
que ganha R$ 1.500 por mês como divulgador. Em Jacarepaguá, eles têm o apoio da
avó e da mãe dele.
- Sei que agora vou ter que
ficar em casa, cuidando do meu filho. Talvez por um, dois anos.
Para Hildete Pereira,
coordenadora do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero da UFF, faltam
políticas públicas de controle da natalidade e apoio para cuidar de crianças. A
cobertura de creches passou de 7% das crianças de 0 a 3 anos em 2000 para 21% em
2011:
- Melhorou, mas ainda há
déficit.
Colaborou: Roberta Scrivano
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Fonte: Br.
notícias
Um comentário:
"As razões que levaram Letícia a interromper os estudos e largar o emprego passam pela maternidade - um dos principais motivos para as mulheres abandonarem os estudos e adiarem a entrada no mercado de trabalho."
O Estado não educa, mas deseduca ao permitir ensino religioso nas escolas, tendo em vista que esse ensino é predominantemente cristão e os seguimentos mais expressivos do cristianismo são absolutamente contra métodos anticoncepcionais. Depois dessa deseducação o Estado não dá possibilidade de escolha pra mãe. Ela é obrigada e ter um filho que não possui condições de criar. Largam a escola e o emprego para cuidar dos filhos. Por terem largado a escola e o emprego, as mães não conseguem arrumar um emprego decente quando os filhos possuem idade suficiente parar irem para uma creche ou ficarem na casa das avós. Por culpa do abandono escolar e falta de experiência no currículo, essas mulheres são condenadas a aceitarem subempregos, sem carteira assinada e sem nenhum direito trabalhista.
O aborto poderia ser uma alternativa para uma gravidez indesejada, mas é criminalizado no nosso país. Isso não impede que algumas mulheres abortem, contanto que se possua dinheiro para tal. E quem sofre com isso? As mulheres pobres, é claro! Não tiveram educação, não possuem dinheiro para fazer um aborto – ou colocam sua vida em sério risco quando optam por abortar em verdadeiros “açougues” e dão entrada no SUS com hemorragia, precisando fazer coletagem e não são atendidas por causa do criminalização do ato. “Abortou? Deixa morrer! Isso é um castigo vindo de Deus por você ter assassinado uma vida inocente!” É que devem pensar as pessoas que se negam a tender uma mulher que dá entrada num hospital nesse estado.
Eu não entendo que tipo de vida os que se dizem Pró-vida estão tentando defender. Uma vida penosa para mãe e para criança. A mãe dependendo de subempregos, passando por humilhações para criar o seu filho e sem perspectiva nenhuma de melhora futura. E o filho passando pelas necessidades mais básicas: sem saúde, sem educação e condenado a repetir o mesmo processo que aconteceu com seus pais, ou empurrado para criminalidade como meio de garantir seu sustento. Porque, afinal de contas, um embrião com menos de 3 meses de existência, que não possui um sistema nervoso formado e que não sente dor, vai sofrer muito mais do que uma criança desamparada pelo Estado e condenada a miséria.
Agora vamos ao outro caso:
“O paulistano Eduardo Victorelli, de 22 anos, não terminou o ensino médio e não buscou cursos técnicos ou profissionalizantes depois que largou a escola, aos 17 anos. Embora pareça ter um futuro incerto, ele afirma com segurança que será jogador de futebol (...)”
Nosso jovens estão apenas estão se dedicando nas áreas em que o governo dedica os seus investimentos. Se o governo tira recursos da educação, mas investe recursos na Copa de 2014, os jovens tendem a repetir o processo. Por que motivos os jovens vão ficar em escolas sucateadas se estádios luxuosos estão sendo construídos? Se o Estado não se importa com educação, mas se importa com futebol, qual dos dois (escola ou estádio) vai atrair mais o interesse dos jovens? Entre ganhar 625 mil euros (salário do Neymar http://migre.me/aK3Ml) para chutar uma bola sem pisar na escola e ganhar R$ 1.451,00 (tentar ganhar, porque aqui na Bahia nem isso querem pagar), após 4 anos suados de faculdade, somados a esforços para ser aprovado em concurso público, trabalhando 40 horas semanais (sem contar o tempo para preparar aulas, corrigir provas, se atualizar, etc.) fica mais que evidente qual vai ser a escolha dos jovens. Vão seguir a grande ilusão do enriquecimento e ascensão social através do futebol. Inspirados pela repetida história explorada pela televisão do garoto pobre e negro que ficou é milionário graças ao futebol.
Só tenho a lamentar (e MUITO) por tudo isso.
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