Por Reinaldo Azevedo
Lula está irado com Frei Betto,
segundo conta Reinaldo Azevedo. O ministro Joaquim Barbosa teria sido uma
indicação do frei e por isso Lula. Mas a preocupação agora, já que a condenação
dos mensaleiros é dada como certa, é impedir a prisão. Leia o texto:
A
fúria de Lula não poupa nem Frei Betto. Ou: Braveza de ex-presidente vale como
medalha de honra ao mérito para os ministros do STF
Luiz Inácio Lula da Silva agora
faz saber aos seus que está mexendo os pauzinhos para evitar que os mensaleiros
condenados sejam presos. Fiquei cá a pensar com quais instrumentos opera esse
mago, e não consegui ver nenhum que não seja uma interferência indevida, ilegal
e subterrânea no Supremo. Como não dispõe de instrumentos institucionais para
fazer essa pressão, de quais outros disporia? Quando tentou intimidar Gilmar
Mendes, com uma chantagem sem lastro, deu-se mal. Teria ele condições de se dar
bem com outros? Com quais armas?
Lula não se conforma com o fato
de o Brasil ser uma República. Considera-se o quarto Poder — acima dos outros
Três, claro! — e vai, assim, metendo os pés pelas mãos.
Fiquei sabendo de algo
espantoso. O Apedeuta está bravo até com… Frei Betto! Sim, está em litígio
afetivo com esse notável pensador, que, à guisa de imaginar o cruzamento entre
o catolicismo e o comunismo, também delirou com uma transa (falo sério!) entre
Santa Tereza D’Ávila e Che Guevara, o “Porco Fedorento”. E por que a zanga com
Frei Betto? Porque foi o primeiro que lhe falou de um certo Joaquim Barbosa
para o Supremo.
Lula não estava em busca de um
ministro propriamente, mas de um elemento de propaganda. O fato de Barbosa ser
negro se lhe afigurou mais importante do que o de ter credenciais, como tem,
para assumir o posto. O Apedeuta esperava “fidelidade” daqueles que foram por ele
indicados para o STF. E esperava ainda mais de Barbosa. No íntimo, deve achar
que fez uma grande concessão.
Ou por outra: o Babalorixá de
Banânia não indicou um negro por “zelo de justiça”, como escreveu Padre Vieira,
mas por concupiscência politicamente correta. O próprio ministro percebeu isso
e afirmou, certa feita, numa entrevista, que esperavam na corte um “negro
submisso”. Indaguei, então, a quem estava se referindo; incitei-o a dar o nome
desse sujeito indeterminado. Agora já sei.
A própria figura de Barbosa, já
apontei aqui, passou por uma drástica mudança naquele submundo da Internet
alimentado com dinheiro público. De herói, passou a vilão; de primeiro negro a
chegar ao Supremo como evidência da superioridade moral do PT, passou a ser o
“negão ingrato”, que cospe na mão de que lhe garantiu tão alta distinção. Sob o
pretexto de combater o racismo, esperava-se um… negro submisso!!! Barbosa,
convenha-se, está dando uma resposta e tanto à má consciência.
Já discordei muitas vezes do
ministro — e o arquivo está aí para prová-lo. Mas nunca ataquei a sua altivez.
Altivez que deve ter não porque negro (essa qualidade não tem cor), mas porque
ministro do Supremo. Lula também está bravo com outros. Não julgava estar
indicando ministros, mas vassalos; não escolhia nomes para a mais alta corte do
país, mas procuradores de um projeto de poder. Por isso anda por aí dando murro
na mesa, inconformado com a “ingratidão”.
Em meio a tantos males, o
mensalão fez ao menos um grande bem ao país: despertou-nos para a existência de
uma corte suprema. Os deputados são 513. Os senadores são 81. Ministros de
estado, especialmente na era petista, os há a perder de vista. Mas só 11 homens
e mulheres na República podem sentar naquelas cadeiras.
Agora, a sociedade já os descobriu.
E espera que façam justiça. Um deles, dia desses, foi vaiado por um grupo num
aeroporto. Não era uma horda de militantes fardados, de camisas-negras ou de
camisas-vermelhas. Eram brasileiros que trabalham, que estudam, que repassam ao
Estado, também à Justiça, boa parte dos seus rendimentos. E que cobram dos
ministros decoro, decência e coerência.
Lula está bravo com Joaquim e
com outros “ingratos”? Vale por uma medalha de honra ao mérito.
Fonte: Publicado em 13 de
setembro de 2012 às 7:58 hs em Prosa
e Política.
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