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domingo, 30 de setembro de 2012

Deus lhe pague


Desenho: virtualia.blogs.sapo.pt
Rubens Mascarenhas

Em comício em Santo André (SP), o ex-presidente Lula diz que “Sem o PT, o Brasil não seria esse País alegre que é, nem esse País orgulhoso que é" (Tribuna Hoje). Sabendo, claro, o sentido de  justificativa das “maracutaias” (abro aqui esses parênteses para externar que, não fosse o Lula (e por extensão o PT) eu não estaria usando esse termo tão adequadamente hoje) do mensalão, fico imaginando a cabeça de tão performático personagem da política brasileira. Coisa surreal, a História do país passa a ser dividida entre antes e depois do PT - por extensão, os (des) valores morais e éticos, mesmo aqueles burgueses idem - e me vem à memória a mui significativa canção “Deus lhe pague” do Chico Buarque de Holanda, cuja letra deveria, creio, retroativamente, estar agradecendo ao “partido” por tudo o que ele nos proporciona hoje. Não me estenderei mais, apesar do tema dar “pano prá manga”, pois quem viveu a história do Brasil dos últimos 30-40 anos entenderá mui bien o contexto da música e os mais novos, que não perderam a capacidade crítica e não se enlaçaram nos cordões do pragmatismo deslavado dos dias eleitoreiros atuais, também.
Escolhi a versão cantada por Oswaldo Montenegro (do disco Oswaldo Montenegro e Sergio Chiavazzoli - Seu Francisco), pois “nunca na história desse país” alguém interpretou essa canção como ele. Claro que esta é a minha opinião, se o PT me permite. A canção fala por si só. Ouça e acompanhe a letra.


Deus lhe Pague
Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague.