por Antonio Martins
Estados Unidos já abocanham 78%
das exportações mundiais — e são cada vez mais influenciados por seu próprio
“complexo industrial-militar”. Por isso, mídia norte-americana prefere falar da
China…
Há pelo menos duas décadas, os
Estados Unidos são o país com balança comercial mais deficitária do planeta. Ao
longo de 2012, suas importações superarão as exportações em cerca de 600
bilhões de dólares — algo como o PIB da Suíça ou da Arábia Saudita. Porém, um setor
de sua economia foge a esta regra. Trata-se da indústria armamentista. Além de
ser a mais poderosa do mundo, ela ampliou de forma acelerada sua influência nos
últimos cinco anos, revelou no domingo o New York Times. Tira proveito,
diretamente, das tensões crescentes que a diplomacia de Washington tem
provocado — em especial no Oriente Médio e nas disputas com o Irã.
Os números são impressionantes.
Num único ano, 2011, as vendas de armamentos por indústrias norte-americanas
mais que triplicaram, saltando de de pouco mais de 21,4 bilhões de dólares para
cerca de US$ 60 bilhões. Depois deste avanço, os EUA passaram a abocanhar 78%
do comércio mundial de armas, deixando muito atrás concorrentes como Rússia
(6%), Europa Ocidental (6%) e China (3%).
O grosso das vendas de
armamentos dirigiu-se para a região mais conflagrada do planeta. Só a Arábia
Saudita — o principal aliado estratégico dos EUA no Oriente Médio — adquiriu
US$ 33,4 bilhões em armas pesadas, inclusive 84 caças F-15 (foto) e dezenas de
helicópteros Apache e Black Hawk. Seguiram-se a ela duas outras monarquias ultraconservadoras
da Península Arábica, ambas fortemente alinhadas a Washington: Emirados Árabes
e Omã. Segundo o New York Times, a causa essencial do aumento extraordinário de
vendas foram “as preocupações com as ambições regionais de Teerã”.
O Irã, contudo, não compartilha
fronteiras com nenhum dos super-compradores de armas norte-americanas. A venda
de artefatos bélicos foi fortemente influenciada pela própria diplomacia dos
Estados Unidos, que se encarregou de demonizar o regime iraniano. Mas até
quando a indústria armamentista poderá vender tanto, em tempos de paz? Em algum
momento, ela não tentará criar condições para que os equipamentos que distribui
sejam de fato utilizados em combate?
As relações promíscuas entre
indústria de armas, comandos militares e poder político nos Estados Unidos
foram apontadas pela primeira vez pelo presidente Dwight Eisenhower — que
cunhou a expressão “complexo industrial-militar”. No discurso de despedida que
pronunciou, em 1961, ele alertou: “nossa organização militar atual parece muito
pouco com tudo o que pôde ser conhecido por qualquer um de meus antecessores em
épocas de paz, ou mesmo pelos que lutaram na II Guerra ou no conflito da
Coreia. (…) A conjunção de um imenso establishment militar e uma grande
indústria de armas é nova na experiência norte-americana. Sua influência —
econômica, política e mesmo espiritual — é sentida em cada cidade, em cada
câmara estadual, em cada escritório do governo federal. (…) Não devemos deixar
de compreender suas graves implicações. (…) Precisamos nos proteger contra a
conquista de influência, intencional ou não, pelo complexo industrial-militar”.
Um sinal da “influência espiritual”
da indústria de armamentos pôde ser sentida no sábado. Sem fazer referência
alguma aos EUA, o Washington Post destacou, numa longa matéria com chamada de
capa, “o grande crescimento das exportações chinesas de armas, na última
década”…
Fonte: Outras
Palavras
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