O que temos é uma vasta condição de ampliação da exploração em
todo continente latino
Roberta Traspadini*
24/09/2012
América Latina segue um
território prioritário para a expansão do capital em sua era de barbárie social
extrema.
Após mais de 500 anos de
espoliação, nosso continente ainda possui enormes recursos naturais a serem
expropriados e uma população de quase 300 milhões apta a ser superexplorada
pelo capital e prontos para consumir mercadorias.
Este é o resultado
contraditório da histórica luta pela liberdade refugiada, na aparente igualdade
burguesa.
O centro do desenvolvimento
desigual e combinado traz uma análise sobre nossa América em seu movimento
permanente de dependência estrutural.
Um
panorama demográfico social
O anuário estatístico 2011 da
CEPAL mostra que nossa América está estruturada na seguinte perspectiva: dos
quase 597 milhões de pessoas, 277 milhões (163 milhões de homens e 133 milhões
de mulheres) compõem o exército formal de trabalhadores aptos a serem
explorados pelo capital no continente. A taxa de desemprego é de 7,1%.
Existem aproximadamente 50
milhões de pessoas com mais de 15 anos sem saber ler e escrever ( 8% da
população); 62% têm de 15 a 49 anos de idade e a população urbana é de 81,2%.
Outro documento, Panorama
social da América Latina, relata que nosso continente possui 73 milhões de
indigentes e 174 milhões de pobres não indigentes. Somados, temos 247 milhões
de pessoas que vivem em condições subumanas, configurando uma real barbárie social.
A relação, inversamente
proporcional entre grandes empresas e números de empregados, mostra distintas
formas de produção da intensa exploração da mão de obra no continente, como a
diferença dos salários de homens e mulheres e a ampliação da desigualdade no
interior de cada um dos gêneros.
As grandes empresas
exportadoras geram 70% do PIB da região e empregam somente 19,8% do emprego
total. As pequenas e médias empresas participam com 22,5% do produto e empregam
30% do total de trabalhadores formais. Já o setor informal, emprega quase 50%
da mão de obra e aporta 10% no produto da região.
Na conformação contraditória
entre uma América Latina com bons rendimentos salariais para uma pequena parte
dos trabalhadores e péssimos rendimentos para a maioria dos que vivem da venda
de sua força de trabalho, mulheres e jovens seguem visivelmente afetados na
dinâmica de superexploração particular adotada no continente pelo capital.
Mulheres
trabalhadoras latinas
A estratificação no interior do
gênero e a desigualdade salarial entre as mulheres são impactantes.
Enquanto 82% das mulheres
pertencentes ao grupo mais pobre da região trabalham em ramos de remuneração
baixa, apenas 33% das mulheres do grupo de melhor situação social estão nesta
condição.
Além da desigualdade de gênero
no mercado laboral, a distância salarial entre as mulheres mais pobres e menos
pobres também é central.
Quando a desigualdade da renda
e do tipo de trabalho no interior do gênero feminino leva em consideração o
tema dos filhos, a situação explicita a centralidade da desigualdade na
estrutura do capital contra o trabalho no continente.
Mulheres com crianças de 0 a 5
anos tendem a estar no mercado informal, dada a situação real do cuidado
centrado nos filhos, em comparação com as mulheres cujos filhos têm de 6 a 14
anos.
São estas trabalhadoras, mães
de crianças pequenas, as mais impactadas com a vulnerabilidade do trabalho no
continente, centrada na desigualdade de gênero e na ampliação da brecha no
interior do trabalho feminino. A concentração do desemprego é 5 vezes maior
para as mulheres de baixa renda, em comparação com as de mais alta renda.
Por um lado, o capital
apresenta para parte da classe trabalhadora uma inserção no mercado de trabalho
em condições desiguais na sua própria constituição e intensifica a centralidade
desta desigualdade no interior da classe.
Por outro lado, os Estados
nacionais de parte expressiva dos países da região empurram, via privatização
dos direitos, parte expressiva das mulheres latinas que compõem a classe
trabalhadora para uma situação cada vez mais perversa sobre seu ser e viver.
Os sentidos de pertença do
trabalho e do viver da mulher da classe trabalhadora latina perdem espaço real
na gigantesca dinâmica de morte em vida instituída pelo capital. É a aparente
vitória incontestável de um único horizonte possível de inserção laboral, em
que ser mulher se resume a ser sujeitada ao projeto de desenvolvimento
desigual. Pífia razão desordenada burguesa!
Esse panorama reforça o estado
de alerta em nossa América. Mais do que o fim da desigualdade como o centro da
dinâmica do capital sobre e contra o trabalho, o que temos é uma vasta condição
de ampliação da exploração em todo continente latino. A centralidade é a da
apropriação privada de recursos naturais que deveriam ser bem comum, combinada
com a espoliação da classe trabalhadora.
Esse tema, somado à
discrepância entre a vida no campo e a vida na cidade, à centralidade da
juventude no mundo do trabalho e no universo de precarização da educação e à
retomada da condição primário exportadora dos países economicamente mais fortes
do continente, joga um peso central na política de enfrentamento e de projeção
de um projeto popular latino-americano, como alternativa real à continuidade da
integração do capital contra os trabalhadores no continente.
Seguiremos...
*Economista, educadora popular
e integrante da Consulta Popular/ES
Fonte: Brasil de Fato
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