Valter Pomar |
Por Raphael Di Cunto
26/09/2013
BRASÍLIA – A Câmara de Recursos
do PT arquivou na terça-feira os pedidos de investigação sobre o pagamento em
massa de filiados para votarem na eleição interna do partido, o Processo
Eleitoral Direto (PED), que ocorrerá no dia 10 de novembro. A denúncia de que
foram feitos pagamentos até para pessoas mortas gerou uma crise no partido no
início de setembro.
Candidato a presidente nacional
da legenda pela corrente Articulação de Esquerda e autor de 10 representações
sobre o pagamento em massa, Valter Pomar criticou a decisão da Câmara de
Recursos em seu blog e disse que o arquivamento foi feito sem a devida
investigação para não por em dúvida a eleição da sigla.
“Não nos resta dúvida de que
houve cotização coletiva disfarçada de individual. A extensão desta prática foi
tal que a ampla maioria dos setores do partido optou por não apresentar
questionamento, temendo as repercussões disto sobre o conjunto do processo”,
afirmou. “A atitude majoritariamente permissiva e tolerante frente a estas
condutas é parte integrante das profundas fragilidades orgânicas e políticas
existentes no partido”.
Secretário de organização do PT
e responsável pelo PED, Florisvaldo Souza reconheceu ao Valor PRO, serviço de
notícias em tempo real do Valor, que não houve investigação sobre os casos, mas
diz que o pedido era “inconsistente”. “Uma representação não pode ser alguém me
contou. Se você fizer isso em qualquer meio jurídico arquiva direto o processo,
as pessoas nem te ouvem”, afirmou. “Não cabe ao PT [investigar]. O PT não tem
papel de polícia, não vamos transformar o partido em um tribunal.”
Segundo Pomar, havia indícios
de pagamento em massa, proibido pelo estatuto do partido, em pelo menos 24
cidades do Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerias, Ceará, Rio de
Janeiro, São Paulo e Sergipe. Para votar no PED, o filiado deveria quitar uma
taxa de R$ 10 até 30 de setembro.
As representações da corrente
Articulação de Esquerda usavam três argumentos para dizer que houve pagamentos
coletivos: grande volume de boletos pagos em determinados dias; 3.740 boletos
pagos em um dia na mesma agência de Belo Horizonte; e o pagamento para pessoas
mortas, que haviam saído do partido ou mudado de cidade.
“Neste caso, salvo na hipótese
de homônimos ou de algum milagre, estamos diante de fortíssimos indícios de que
alguém pagou a cotização de terceiros, provavelmente com base numa lista geral
de filiados, sem extrair da lista pessoas mortas e desfiliadas”, disse Pomar em
seu blog.
Os três recursos foram negados,
segundo Pomar, com os argumentos de que o fluxo de pagamentos era compatível –
as pessoas deixam para pagar em cima do fim do prazo, por exemplo; que eram
apenas hipóteses e que caberia à chapa que fez a representação o ônus de
apresentar prova ou indício forte; e que não haveria como investigar os
responsáveis porque o relatório de depósitos bancários na conta do PT não
permitiria identificar hora, local e valor dos depósitos questionados.
Dos sete integrantes da Câmara
de Recursos, apenas Pomar votou a favor da representação. Outros cinco, das
correntes Construindo um Novo Brasil (CNB), PT de Lutas e de Massas (PTLM) e
Movimento PT, que apoiam a reeleição do atual presidente, Rui Falcão, votaram
contra a representação, e um, da corrente Democracia Socialista (DS), se absteve.
Florisvaldo disse ser natural,
em uma eleição que envolve 700 mil filiados, ter problemas pontuais. “Num
processo desse tamanho, você tem a situação de ter um erro ou outro, mas não
vou, por causa de uma questãozinha destas, acabar com o PED, que mobiliza a
militância, que teve mais de 200 reuniões em um mês”, afirmou.
Fonte: Valor
Econômico
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