data de publicação: 31
agosto, 2013
Em: WikiLeaks
O primeiro documento com tal
informação é datado de 15 de setembro, duas semanas antes do primeiro turno das
eleições gerais, em que Luiz Inácio Lula da Silva seria reeleito.
“Há coisas mais importantes a
serem discutidas e, adicionalmente, as investigações, que entram quase
automaticamente na pauta das reuniões do Comitê Executivo, não revelaram nada
relevante até o momento”, argumentou ao pessoal da embaixada dos EUA em Paris o
embaixador brasileiro, Luiz Filipe de Macedo Soares.
O embaixador disse que a
“inquisição” sobre a representação em Brasília estava gerando um clima de
“ansiedade geral”, dando a entender que havia algo errado, o que não era o
caso. Argumentou que levantar essa poeira arranha a imagem da Unesco no Brasil
e espalha “pequenas doses de veneno” que danificam a reputação e credibilidade
de instituições públicas e privadas, referindo-se ao Ministério da Educação e à
TV Globo, conclui a embaixada em Paris.
A Globo é mencionada por causa
do Criança Esperança, ONG para a qual emissora teria arrecadado cerca de 40
milhões de dólares desde 1986, ou seja, em 20 anos. A Unesco teria ficado com
10% desse montante, por conta de uma “taxa de serviço”.
Os telegramas não alegam
irregularidade nisso. Apenas citam montantes, como este outro: “É válido notar
que um terço da verba extra-orçamentária da Unesco (cerca de 124 milhões de
dólares) passa pelos cofres do escritório brasileiro”.
A visita do embaixador
brasileiro pode ter sido um tiro pela culatra, conclui a embaixada. “Em vez da
receptividade esperada por ele, seus comentários nos deram mais moviots para
questionar a posição do diretor-geral sobre a situação no Brasil”.
Um documento do início daquele
ano revela que a chefia da Unesco falava em ponderação ao debater os assuntos
brasilienses. Um representante do diretor-geral defendeu uma “estratégia de
transição para permitir uma transferência progressiva das atividades dos
projetos em questão”, a fim de “não interromper projetos de impacto nacional”.
Não se pode afirmar, no
entanto, que o “tiro pela culatra” se refere especificamente a isso. Nos
documentos vazados pelo Wikileaks sobre esse assunto, há um vácuo entre abril e
setembro.
O que procuramos fazer aqui foi
identificar os pontos mais relevantes dos telegramas e entender o que se
passava. Uma coisa é certa. Os americanos em Paris estavam impressionados com
os relatos sobre irregularidades em Brasília e a cúpula da Unesco estava
preocupada em não criar embaraços com o governo brasileiro.
Viagens
e suspeitas
O governo brasileiro, pelo
jeito, jogou para ganhar. A ponto de John Parsons, diretor do que seria a
corregedoria interna da Unesco, ter ameaçado abandonar seu posto tamanha a
campanha de difamação promovida contra ele, segundo documento de 26 de setembro
de 2006.
Outra atitude de Brasília foi
vetar o nome do americano Richard Goughnour, indicado por Matsuura, para
assumir o escritório na capital federal. Segundo a embaixada em Paris, foi uma
medida “muito inusitada”.
Inusitados também são os
números referentes a missões internacionais do escritório da Unesco em
Brasília. Em menos de um ano, o escritório teria empenhado 60 milhões de
dólares em 30 mil viagens – o que daria cerca de 80 por dia – e cancelado nada
menos que mil viagens por mês.
A agência responsável teria
sido escolhida sem licitação e pedidos de abertura de concorrência estariam
sendo ignorados desde 2001, apesar de recomendações “insistentes” do auditor.
Parsons aí levantou a hipótese de “lavagem de dinheiro”, segundo um telegrama.
O assunto começou a ganhar
corpo com o telegrama de 26 de setembro de 2006, intitulado “Novas informações
alarmantes sobre a sede da Unesco em Brasília”, que cita John Parsons, “em
off”, como fonte das informações e pede que seu nome seja protegido. O nome de
Parsons também aparece no documento que informa sobre a ação penal em curso.
Foi ele quem entregou à Embaixada dos EUA em Paris a cópia da carta endereçada
ao diretor-geral, “demonstrando mais uma vez disposição de se arriscar para
trabalhar próximo a nós”.
Agora as aflições do auditor
não são mais segredo e tudo que a diplomacia americana conjecturou sobre esse
tema está “em on”, aqui na Pública, graças ao Wikileaks.
A representação da Unesco em
Brasília disse que não se manifesta sobre documentos não oficiais e que todas
as suas ações no Brasil estão amparadas na legislação. A Unesco se recusa a
informar quanto recebe do governo.
Os documentos são parte de
2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram
analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta
semana pela agência Pública.
Fonte: http://www.apublica.org
Nota da Rede Globo
Em uma nota divulgada no dia 8
de junho de 2011 para esclarecer rumores sobre possíveis benefícios fiscais que
a emissora teria com a campanha, a Rede Globo informou que nenhuma doação do
Criança Esperança passa pela emissora. De acordo com dados da própria emissora,
já foram arrecadados mais de R$ 270 milhões até a última campanha.
Procurada pela reportagem, a
emissora carioca respondeu, em nota, que “desconhece os documentos citados [do
WikiLeaks]”, e informa que a parceria com a Unesco, que não traz nenhuma
cláusula referente a pagamento de “taxa de serviço”, teve início apenas em
2004.
Leia a nota da Rede Globo na
íntegra:
“A Globo desconhece os
documentos citados. Mas esclarece que não mantém parceria com a Unesco desde
1986, ano do lançamento do projeto Criança Esperança. A parceira com a Unesco
começou apenas em 2004. Neste acordo, não existe qualquer cláusula prevendo
pagamento de taxa de administração. Todos os custos referentes à gestão e
administração do fundo Criança Esperança, a cargo da Unesco, são integralmente
pagos pela TV Globo com recursos próprios. Há 28 anos o Criança Esperança
contribui para a mobilização da sociedade brasileira para a garantia dos
direitos de crianças e jovens e já beneficiou mais de 4 milhões de
brasileiros.”
Fonte: Anonymous
Brasil
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