25/09/2013
Presidente uruguaio lamentou embargo a Cuba, colonialismo nas Malvinas e a pobreza na América Latina
O presidente do Uruguai, José Mujica, criticou duramente o
consumismo durante seu discurso na 68º Assembleia Geral da ONU, em Nova York,
nesta terça-feira (24/09). “O deus mercado organiza a economia, a vida e
financia a aparência de felicidade. Parece que nascemos só para consumir e
consumir. E quando não podemos, carregamos frustração, pobreza e autoexclusão”,
afirmou.
No discurso, que durou 40 minutos, ele também elogiou a
utopia “de seu tempo”, mencionou sua luta pelo antigo sonho de uma “sociedade
libertária e sem classes” e destacou a importância da ONU, que se traduz para
ele um “sonho de paz para a humanidade”.
Aos jornais uruguaios, Mujica prometeu um “discurso exótico”
e fugiu do protocolo ao dizer que “tem angústia pelo futuro” e que nossa
“primeira tarefa é salvar a vida humana”. “Sou do Sul (...) e carrego
inequivocamente milhões de pessoas pobres na América Latina, carrego as
culturas originárias esmagadas, o resto do colonialismo nas Malvinas, os
bloqueios inúteis a Cuba, carrego a consequência da vigilância eletrônica, que
gera desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego a dívida social e a
necessidade de defender a Amazônia, nossos rios, de lutar por pátria para todos
e que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, com o dever de lutar pela
tolerância”.
A humanidade sacrificou os deuses imateriais e ocupou o
templo com o “deus mercado, que organiza a economia, a vida e financia a
aparência de felicidade. Parece que nascemos só para consumir e consumir. E
quando não podemos, carregamos a frustração, a pobreza, a autoexclusão”. No
mesmo tom, ressaltou o fracasso do modelo adotado no capitalismo: “o certo hoje
é que para a sociedade consumir como um americano médio seriam necessários três
planetas. Nossa civilização montou um desafio mentiroso”.
Agência Efe
Uruguaio criticou altos
gastos dos países com armamentos
Para o presidente, o atual modelo de civilização “é contra os
ciclos naturais, contra a liberdade, que supõe ter tempo para viver, (…) é uma
civilização contra o tempo livre, que não se paga, que não se compra e que é o
que nos permite viver as relações humanas”, porque “só o amor, a amizade, a
solidariedade, e a família transcendem”. “Arrasamos as selvas e implantamos
selvas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com
remédios. E pensamos que somos felizes ao deixar o humano”.
Paz e guerra
“A cada 2 minutos se gastam dois milhões de dólares em
insumos militares. As pesquisas médicas correspondem à quinta parte dos
investimentos militares”, criticou o presidente ao sustentar que ainda estamos
na pré-história: “enquanto o homem recorrer à guerra quando fracassar a
política, estaremos na pré-história”, defendeu.
Assim, criamos “este processo do qual não podemos sair e
causa ódio, fanatismo, desconfiança, novas guerras; eu sei que é fácil
poeticamente autocriticarmos. Mas seria possível se firmássemos acordos de
política planetária que nos garantam a paz”. Ao invés disso, “bloqueiam os
espaços da ONU, que foi criada com um sonho de paz para a humanidade”.
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O uruguaio também abordou a debilidade da ONU, que “se
burocratiza por falta de poder e autonomia, de reconhecimento e de uma
democracia e de um mundo que corresponda à maioria do planeta”.
“Nosso pequeno país tem a maior quantidade de soldados em
missões de paz e estamos onde queiram que estejamos, e somos pequenos”. Dizemos
com conhecimento de causa, garantiu o mandatário, que “estes sonhos, estes
desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos
mundiais para governar nossa história e superar as ameaças à vida”. Para isso é
“preciso entender que os indigentes do mundo não são da África, ou da América
Latina e sim de toda humanidade que, globalizada, deve se empenhar no
desenvolvimento para a vida”.
“Pensem que a vida humana é um milagre e nada vale mais que a
vida. E que nosso dever biológico é acima de todas as coisas, impulsionar e
multiplicar a vida e entendermos que a espécie somos nós” e concluiu: “a
espécie deveria ter um governo para a humanidade que supere o individualismo e
crie cabeças políticas”.
*com Vanessa Silva, do Portal Vermelho
Fonte: Opera
Mundi
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