Artigo do WSJ relaciona violência policial a desigualdades sociais e afirma que desenvolvimento econômico brasileiro também é bastante desigual.Marcelo Camargo/ABr |
Em extenso artigo sobre a violência no Brasil, "The Wall Street Journal" mostra o quanto índice de morte de suspeitos por policiais no Brasil é elevado
Foto: Polícia Militar de São Paulo
aborda moradores
São Paulo - A edição do último sábado (13) do jornal americano "The Wall Street Journal" dedicou um
longo artigo à violência policial no Brasil, afirmando que matar suspeitos está
se tornando rotina entre policiais brasileiros. Segundo o jornal, a Polícia de
São Paulo matou um suspeito para cada 229 presos no ano passado, em comparação
com o índice de um suspeito para cada 31.575 presos nos Estados Unidos em 2011.
No entanto, o artigo sublinha
que o fenômeno não é restrito a São Paulo, afirmando que a polícia paulista é
uma das menos letais do país. De acordo com o texto, apesar dos experimentos
com polícia comunitária, o Rio de Janeiro tem uma polícia que mata quatro vezes
mais suspeitos que a de São Paulo. "O símbolo da polícia tática do Rio é
um crânio com duas pistolas e uma faca atravessada", destaca o jornal, referindo-se
ao símbolo do Batalhão de Operações Policiais Especiais do estado fluminense, o
Bope.
"Mas o que acontece em São
Paulo é crucial: se o estado mais rico, cosmopolita e desenvolvido do Brasil
não consegue modernizar sua polícia, dizem especialistas, é improvável que
outros estados consigam", diz o texto.
O artigo rememora a morte do
servente Paulo Nascimento, na periferia de São Paulo em novembro de 2012,
suspeito de roubo de carro. O caso ganhou repercussão na época porque imagens
feitas pelo celular de um vizinho mostraram o momento em que os policiais
detiveram o servente e aparentemente o executaram. As imagens foram exibidas no
"Fantástico" da TV Globo.
"Em um país onde muitos,
cansados de crimes violentos, justificam a postura justiceira da polícia, o
vídeo e o julgamento iminente movimentam os reformadores que dizem que a
política de reduzir o número de presos da polícia brasileira está em descompasso
com as aspirações de uma democracia emergente buscando elevar uma vasta classe
baixa à prosperidade. Eles [o vídeo e o julgamento policial] são lembretes do
desenvolvimento desigual do Brasil. Apesar de a economia ter tomado impulso,
outras áreas, como a justiça criminal, permanecem firmes no Terceiro
Mundo", diz o texto do WSJ.
O artigo diz ainda que as
autoridades brasileiras reconhecem o problema: cita que, em entrevista, o
secretário de Estado da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira,
disse que a capital tem uma "categoria de criminalidade" que vai
sempre levar a alguns tiros justificados por parte dos policiais, mas que não
vai "tolerar abusos por parte da polícia".
Outra questão de segurança
pública mencionada pelo WSJ são os grupos de extermínio, descritos como
"esquadrões da morte freelancers". O jornal lembra pesquisa do
Instituto Datafolha que revela, no entanto, que 53% dos moradores de São Paulo
acreditam que policiais que matam criminosos como parte de um grupo de extermínio
não devem ser presos.
Ao descrever os tipos de crimes
que acometem a população paulistana, o jornal diz que "Poucos desses
crimes são solucionados, enquanto os processos que são abertos podem levar anos
para serem julgados. Criminosos presos vão para prisões dominadas pelo Primeiro
Comando da Capital, ou PCC, uma facção grande o bastante para desafiar a
polícia." E completa: "A conclusão de muitos é que o sistema de
justiça criminal está completamente falido".
Outro ponto apontado pelo texto
é que muitos dos tiroteios e execuções ocorrem nas periferias de São Paulo.
"Lá, a aceitação da violência policial é um duro lembrete de que o
preconceito de classe e a desigualdade persistem no Brasil apesar dos ganhos
econômicos", diz o texto.
Fonte: Exame
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