Pedro F. Arruda
Na edição de hoje do Jornal
Nacional, uma reportagem em que os diretores finalmente reconhecem que o apoio
ao golpe de 64 e à ditadura militar foi um "erro". Afirmam que se
tratava de um "apoio editorial", mas foi muito pior: foi também um
apoio material. Desde quando andar de mãos dadas com os militares pode ser
chamado de um simples "apoio editorial"? (Na foto abaixo, vemos
Roberto Marinho e o ditador Figueiredo).
Na reportagem, faltaram algumas
coisinhas:
1. Pedir desculpas aos
familiares das pessoas assassinadas e dos desaparecidos políticos;
2. Pedir desculpas aos que
foram torturados e banidos do país, condenados ao desterro e ao afastamento
forçado dos amigos e parentes;
3. Pedir desculpas àqueles que
perderam seus empregos e sofreram sequelas das intermináveis sessões de
torturas;
4. Exigir a revogação da Lei da
Anistia e a punição de todos os criminosos da ditadura;
Joaquim Nabuco dizia, no século
XIX, que abolir a escravidão não seria suficiente. Seria necessário
"destruir a obra da escravidão", que resistiria até mesmo à
emancipação dos escravos. Por isso, parafraseando Nabuco, eu desejo que a
"obra da ditadura" também seja destruída, já que ela resistiu até
mesmo à tal da "redemocratização": afinal, ainda hoje temos uma
polícia militarizada, a violência institucional e a prática da tortura, a
manutenção da estrutura fundiária altamente concentrada, níveis absurdos de
desigualdade social, os privilégios das classes dominantes etc.
Também existe um tipo de
latifúndio que permanece intocado: o latifúndio midiático, a absurda
concentração do poder de informação nas mãos dos barões midiáticos que serviram
a ditadura e dela se serviram. Que receberam concessões justamente por
bajularem os ditadores que massacraram o povo trabalhador deste país.
Pois a "obra da
ditadura" permanece intocada: as reformas estruturais foram barradas, e os
privilégios das classes dominantes não apenas permaneceram, como foram
reforçados. E essa é a base da espoliação que o capital monopolista, local
(entreguista) e estrangeiro (imperialista), impõe sobre o conjunto das classes
subalternas. A Globo e seus donos, como diria o Brizola, são "filhotes da
ditadura", se locupletaram nos anos de chumbo e agora nos dizem, em tons
penitentes, que "erraram", como se isso fosse suficiente para apagar
da memória todo o sofrimento.
Reconhecer que
"errou", depois de MEIO SÉCULO? Agora é fácil pedir desculpas, num
momento em que as redes sociais furam o bloqueio midiático e invadem o seu
latifúndio improdutivo. Enquanto os generais sujavam as botas de sangue, os
gritos de dor nos porões da ditadura não ecoavam nos telejornais da emissora,
que não foi censurada: ela mesma se prontificou a silenciar a oposição, por
decisão consciente e voluntária.
A emissora que não admite a
regulamentação dos meios de comunicação social, como determina a Constituição,
agora pretende ser a paladina da liberdade de manifestação do pensamento. O
porta-voz do ex-ditador Figueiredo, Alexandre Garcia, nos dá "lições de
democracia" todas as manhãs, no "Bom Dia Brasil", como se
tivesse alguma autoridade para falar de democracia.
Essas são apenas algumas
palavras de ordem que estão na boca dos manifestantes:
"O povo não é bobo, abaixo
a Rede Globo"
"A verdade é dura, a Rede
Globo apoiou a Ditadura"
"Sorria, você está sendo
manipulado"
A seguir, cenas do próximo
capítulo.
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