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terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Jornal Nacional (Globo) e a ditadura militar no Brasil

Pedro F. Arruda

Na edição de hoje do Jornal Nacional, uma reportagem em que os diretores finalmente reconhecem que o apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar foi um "erro". Afirmam que se tratava de um "apoio editorial", mas foi muito pior: foi também um apoio material. Desde quando andar de mãos dadas com os militares pode ser chamado de um simples "apoio editorial"? (Na foto abaixo, vemos Roberto Marinho e o ditador Figueiredo).

Na reportagem, faltaram algumas coisinhas:

1. Pedir desculpas aos familiares das pessoas assassinadas e dos desaparecidos políticos;
2. Pedir desculpas aos que foram torturados e banidos do país, condenados ao desterro e ao afastamento forçado dos amigos e parentes;
3. Pedir desculpas àqueles que perderam seus empregos e sofreram sequelas das intermináveis sessões de torturas;
4. Exigir a revogação da Lei da Anistia e a punição de todos os criminosos da ditadura;

Joaquim Nabuco dizia, no século XIX, que abolir a escravidão não seria suficiente. Seria necessário "destruir a obra da escravidão", que resistiria até mesmo à emancipação dos escravos. Por isso, parafraseando Nabuco, eu desejo que a "obra da ditadura" também seja destruída, já que ela resistiu até mesmo à tal da "redemocratização": afinal, ainda hoje temos uma polícia militarizada, a violência institucional e a prática da tortura, a manutenção da estrutura fundiária altamente concentrada, níveis absurdos de desigualdade social, os privilégios das classes dominantes etc.

Também existe um tipo de latifúndio que permanece intocado: o latifúndio midiático, a absurda concentração do poder de informação nas mãos dos barões midiáticos que serviram a ditadura e dela se serviram. Que receberam concessões justamente por bajularem os ditadores que massacraram o povo trabalhador deste país.

Pois a "obra da ditadura" permanece intocada: as reformas estruturais foram barradas, e os privilégios das classes dominantes não apenas permaneceram, como foram reforçados. E essa é a base da espoliação que o capital monopolista, local (entreguista) e estrangeiro (imperialista), impõe sobre o conjunto das classes subalternas. A Globo e seus donos, como diria o Brizola, são "filhotes da ditadura", se locupletaram nos anos de chumbo e agora nos dizem, em tons penitentes, que "erraram", como se isso fosse suficiente para apagar da memória todo o sofrimento.

Reconhecer que "errou", depois de MEIO SÉCULO? Agora é fácil pedir desculpas, num momento em que as redes sociais furam o bloqueio midiático e invadem o seu latifúndio improdutivo. Enquanto os generais sujavam as botas de sangue, os gritos de dor nos porões da ditadura não ecoavam nos telejornais da emissora, que não foi censurada: ela mesma se prontificou a silenciar a oposição, por decisão consciente e voluntária.

A emissora que não admite a regulamentação dos meios de comunicação social, como determina a Constituição, agora pretende ser a paladina da liberdade de manifestação do pensamento. O porta-voz do ex-ditador Figueiredo, Alexandre Garcia, nos dá "lições de democracia" todas as manhãs, no "Bom Dia Brasil", como se tivesse alguma autoridade para falar de democracia.

Essas são apenas algumas palavras de ordem que estão na boca dos manifestantes:
"O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo"
"A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a Ditadura"
"Sorria, você está sendo manipulado"

A seguir, cenas do próximo capítulo.

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