Diego Ruas*
In memoriam.
E
agora, Amarildo?
o
Papa voltou,
a
noite chegou,
o
gigante dormiu,
você
sumiu,
onde
está, Amarildo?
onde
está, você?
Você
que é pedreiro
sem
paradeiro,
você
que faz casas
que
ama, pesca?
Onde
está, Amarildo?
Está
sem documentos
está
sem direitos
está
sem voz
já
não pode trabalhar,
já
não pode pescar,
amar
já não pode,
a
noite passou,
o
dia não veio,
você
não veio,
o
riso não veio,
não
veio a verdade,
Cabral
não ouviu
a
mídia se calou
a
PM não viu
cadê,
Amarildo?
Cadê
Amarildo?
sua
força de Boi,
seu
tijolo de bronze,
seu
barraco pequeno,
sua
grande família,
seu
pouco salário,
sua
pele proibida,
seu
bom coração,
sua
justiça — cadê?
Com
a vara na mão
quer
abrir o mar,
mas
não existe mar;
quer
morrer no mar,
mas
o mar secou;
quer
ir para Rocinha,
Rocinha
não há mais.
Amarildo,
e agora?
Se
você gritasse,
se
você gemesse,
se
você cantasse
o
samba portelense,
se
você corresse,
se
você fugisse,
se
você morresse...
Mas
você não morre
você
vive, Amarildo!
Unidos
no escuro
qual
bichos-do-mato,
sem
democracia,
sem
justiça, de fato,
para
se confiar,
sem
polícia montada
que
fuja a galope,
nós
marchamos, Amarildo!
Amarildo,
para onde?
*Estudante
de Engenharia SOS Código Florestal e militante de esquerda. Baseado no poema
"José" de Carlos Drummond de Andrade, em apoio à família, amigos/as e
vizinhas/os de Amarildo.
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