Polícia e PCC matam-se porque
algum acordo mútuo foi rompido. PM e governo afundam-se na lógica de vingança
do crime
Por Bob Fernandes
1 DE NOVEMBRO DE 2012
Noventa e oito policiais
militares assassinados em São Paulo neste ano. Só 5 deles mortos trabalhando.
Quando a morte é fora do trabalho, a família não recebe benefícios. Neste ano,
em todo o estado, já foram assassinados mais de 3.330 cidadãos. Só na capital,
até setembro, 919 homicídios.
Antonio Ferreira Pinto é o
Secretário de Segurança. Numa dessas coletivas para a imprensa, há pouco tempo,
ele disse que os assassinatos de PMs não tinham “nenhuma vinculação com a
facção”. A “facção”, como diz o secretário sem citar o nome, é o PCC.
Não há quem não saiba que está
em andamento uma guerra particular entre o PCC e a PM. Uma PM, pelo que se
sabe, com divisões; digamos assim. Segundo oficiais com quem falei, teriam sido
rompidos, de parte a parte, “códigos de conduta”.
Há quem negue a existência de
tais códigos, mas eles existem: a polícia tem seus códigos não escritos e os
criminosos também têm. E ambos têm um código em comum. Pela quantidade de
mortos, é evidente que algum tipo de código, ou de acordo -ou de acordos- foi
rompido.
Criminosos matam de um lado?
Vem a resposta: alguns, quase sempre em motos, com munição de uso exclusivo de
forças policiais, dão o troco e também matam. Fica no ar uma pergunta que
talvez contenha a resposta: por que, nesta guerra nas ruas, apenas policiais
militares, e não policiais civis estão sendo mortos? É certo que a Inteligência
do Estado tem informações sobre isso.
O secretário de segurança nega,
ou negava até outro dia, o que é óbvio. E, diante de câmeras e microfones atua
como se fosse o Durango Kid. Enquanto o secretario atua, e nega o óbvio, vejam
a ousadia dos ataques: um tenente trabalha na Casa Militar e na escolta do
governador Geraldo Alckimin. As iniciais do seu nome são SCS. O tenente foi
atacado; não no trabalho. Recebeu um tiro de raspão, no rosto, reagiu e matou o
agressor.
O Major Olímpio, deputado
estadual pelo PDT, em ato na Praça da Sé disse com todas as letras: “Policiais
militares estão sendo dizimados e não adianta negar e dizer que é lenda. O PCC
está matando policiais”.
O troco vem sendo dado nas
ruas. Isso nunca funcionou. Nem no Velho Oeste, nem com as milícias no Rio de
Janeiro, nem aqui, com os antigos e os novos esquadrões da morte. Isso só serve
para produzir mais mortes, muitas vezes de inocentes. Serve também para eleger
oportunistas, com discursos e práticas fascistóides.
Fato é que, antes de tomar
posse, o governador Geraldo Alckimin pensou em substituir o Secretário Ferreira
Pinto. Um importante emissário do governo sondou o jurista Walter Maierovitch.
Walter, antes até de começar a conversar, impôs algumas condições. Uma delas,
nomear os comandos das polícias militar e civil. A conversa nem andou. E
Ferreira Pinto ai está.
O bang-bang, os assassinatos,
avançam nas ruas de São Paulo. Até quando?
Fonte: Outras
Palavras
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