Em 26 de novembro de 1695 morria Gregório de Matos, mais
conhecido como "O boca do inferno”. Em tempos de imprensa comprada,
intelectuais descomprometidos com as causas sociais precisamos de muitos como
"o boca do inferno" para sublinhar em letras desconcertantes o que
teimamos em ignorar. Salve Gregório de Matos! A Bahia não mudou muito desde que
ele nos deixou. (Juliana Brito).
"Que falta nesta cidade? ... Verdade.
Que mais por sua desonra? ... Honra.
Falta mais que se lhe ponha? ...
Vergonha."
Advogado e poeta, nasceu na
então capital do Brasil, Salvador, BA, em 7 de abril de 1623, numa época de
grande efervescência social, e faleceu em Recife, PE, em 1696. É o patrono da
Cadeira n. 16, por escolha do fundador Araripe Júnior.
Foram seus pais Gregório de
Matos, fidalgo da série dos Escudeiros, do Minho, Portugal, e Maria da Guerra,
respeitável matrona. Estudou Humanidades no Colégio dos Jesuítas e depois
transferiu-se para Coimbra, onde se formou em Direito. Sua tese de doutoramento,
toda ela escrita em latim, encontra-se na Biblioteca Nacional. Exerceu em
Portugal os cargos de curador de órfãos e de juiz criminal e lá escreveu o
poema satírico Marinícolas. Desgostoso, não se adaptou à vida na metrópole,
regressando ao Brasil aos 47 anos de idade. Na Bahia, recebeu do primeiro
arcebispo, D. Gaspar Barata, os cargos de vigário-geral (só com ordens menores)
e de tesoureiro-mor, mas foi deposto por não querer completar as ordens
eclesiásticas. Apaixonou-se pela viúva Maria de Povos, com quem passou a viver,
com prodigalidade, até ficar reduzido à miséria. Passou a viver existência
boêmia, aborrecido do mundo e de todos, e a todos satirizando com mordacidade.
O governador D. João de Alencastre, que primeiro queria protegê-lo, teve afinal
de mandá-lo degredado para Angola, a fim de o afastar da vingança de um
sobrinho de seu antecessor, Antônio Luís da Câmara Coutinho, por causa das
sátiras que sofrera o tio. Chegou a partir para o desterro, e advogava em
Luanda, mas pôde voltar ao Brasil para prestar algum serviço ao Governador.
Estabelecendo-se em Pernambuco, ali conseguiu fazer-se mais querido do que na
Bahia, até que faleceu, reconciliado como bom cristão, em 1696, ao 73 anos de
idade.
Como poeta de inesgotável fonte
satírica não poupava ao governo, à falsa nobreza da terra e nem mesmo ao clero.
Não lhe escaparam os padres corruptos, os reinóis e degredados, os mulatos e
emboabas, os “caramurus”, os arrivistas e novos-ricos, toda uma burguesia
improvisada e inautêntica, exploradora da colônia. Perigoso e mordaz,
apelidaram-no de “O Boca do Inferno”. Foi o primeiro poeta a cantar o elemento
brasileiro, o tipo local, produto do meio geográfico e social. Influenciado
pelos mestres espanhóis da Época de Ouro Góngora, Quevedo, Gracián, Calderón
sua poesia é a maior expressão do Barroco literário brasileiro, no lirismo. Sua
obra compreende: poesia lírica, sacra, satírica e erótica. Ao seu tempo a
imprensa estava oficialmente proibida. Suas poesias corriam em manuscritos, de
mão em mão, e o Governador da Bahia D. João de Alencastre, que tanto admirava
“as valentias desta musa”, coligia os versos de Gregório e os fazia transcrever
em livros especiais. Ficaram também cópias feitas por admiradores, como Manuel
Pereira Rabelo, biógrafo do poeta. Por isso é temerário afirmar que toda a obra
a ele atribuída haja sido realmente de sua autoria. Entre os melhores códices e
os mais completos, destacam-se o que se encontra na Biblioteca Nacional e o de
Varnhagen no Palácio Itamarati. (Cortesia da Academia Brasileira de Letras).
Fonte da reprodução: LPM
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