Se estiver associada a prêmios
ou promoções, a avaliação individual gera o medo, diz Christophe Dejours ENRIC
VIVES-RUBIO
Nos últimos anos, três
ferramentas de gestão estiveram na base de uma transformação radical da maneira
como trabalhamos: a avaliação individual do desempenho, a exigência de
"qualidade total" e o outsourcing. O fenómeno gerou doenças mentais
ligadas ao trabalho. Christophe Dejours, especialista na matéria, desmonta a
espiral de solidão e de desespero que pode levar ao suicídio. Por Ana
Gerschenfeld
Psiquiatra, psicanalista e
professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris, Christophe
Dejours dirige ali o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Ação - uma das
raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental.
Esteve há dias em Lisboa, onde,
de gravata amarela, cabeleira "à Beethoven" e olhos risonhos a
espreitar por detrás de pequenos óculos de massa redondos, falou do sofrimento
no trabalho. Não apenas do sofrimento enquanto gerador de patologias mentais ou
de esgotamentos, mas sobretudo enquanto base para a realização pessoal. Não há
"trabalho vivo" sem sofrimento, sem afeto, sem envolvimento pessoal,
explicou. É o sofrimento que mobiliza a inteligência e guia a intuição no
trabalho, que permite chegar à solução que se procura.
Claro que no outro extremo da
escala, nas condições de injustiça ou de assédio que hoje em dia se vivem por
vezes nas empresas, há um tipo de sofrimento no trabalho que conduz ao
isolamento, ao desespero, à depressão. No seu último livro, publicado há uns
meses em França e intitulado Suicide et Travail: Que Faire?, Dejours aborda
especificamente a questão do suicídio no trabalho, que se tornou muito
mediática com a vaga de suicídios que se verificou recentemente na France Telecom.
Depois da conferência, o médico
e cientista falaram com o P2 sobre as causas laborais desses gestos extremos,
trágicos e irreversíveis.
O
suicídio ligado ao trabalho é um fenómeno novo?
O que é muito novo é a
emergência de suicídios e de tentativas de suicídio no próprio local de
trabalho. Apareceu em França há apenas 12, 13 anos. E não só em França - as
primeiras investigações foram feitas na Bélgica, nas linhas de montagem de
automóveis alemães. É um fenómeno que atinge todos os países ocidentais. O
facto de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem obviamente um
significado. É uma mensagem extremamente brutal, a pior do que se possa
imaginar - mas não é uma chantagem, porque essas pessoas não ganham nada com o
seu suicídio. É dirigida à comunidade de trabalho, aos colegas, ao chefe, aos
subalternos, à empresa. Toda a questão reside em descodificar essa mensagem.
Afeta
certas categorias de trabalhadores mais do que outras?
Na minha experiência, há
suicídios em todas as categorias - nas linhas de montagem, entre os quadros
superiores das telecomunicações, entre os bancários, nos trabalhadores dos serviços,
nas atividades industriais, na agricultura.
No passado, não havia suicídios
ligados ao trabalho na indústria. Eram os agricultores que se suicidavam por
causa do trabalho - os assalariados agrícolas e os pequenos proprietários cuja
atividade tinha sido destruída pela concorrência das grandes explorações. Ainda
há suicídios no mundo agrícola.
O
que é que mudou nas empresas?
A organização do trabalho. Para
nós, clínicos, o que mudou foram principalmente três coisas: a introdução de
novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do
desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada "qualidade
total"; e o outsourcing, que tornou o trabalho mais precário.
A avaliação individual é uma
técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho,
porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais - e também os
indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças
em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão
agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera
profundamente as relações no trabalho: "O que quero é que os outros não
consigam fazer bem o seu trabalho."
Muito rapidamente, as pessoas
aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os
elos que existiam até aí - a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua
- acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para
as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida
como alvo de um assédio, ninguém se mexe...
Mas
o assédio no trabalho é novo?
Não, mas a diferença é que,
antes, as pessoas não adoeciam. O que mudou não foi o assédio, o que mudou é
que as solidariedades desapareceram. Quando alguém era assediado, beneficiava
do olhar dos outros, da ajuda dos outros, ou simplesmente do testemunho dos
outros. Agora estão sós perante o assediador - é isso que é particularmente
difícil de suportar. O mais difícil em tudo isto não é o facto de ser
assediado, mas o facto de viver uma traição - a traição dos outros. Descobrimos
de repente que as pessoas com quem trabalhamos há anos são cobardes, que se
recusam a testemunhar, que nos evitam, que não querem falar connosco. Aí é que
se torna difícil sair do poço, sobretudo para os que gostam do seu trabalho,
para os mais envolvidos profissionalmente. Muitas vezes, a empresa pediu-lhes
sacrifícios importantes, em termos de sobrecarga de trabalho, de ritmo de
trabalho, de objetivos a atingir. E até lhes pode ter pedido (o que é algo de
relativamente novo) para fazerem coisas que vão contra a sua ética de trabalho,
que moralmente desaprovam.
Qual
é o perfil das pessoas que são alvo de assédio?
São justamente pessoas que
acreditam no seu trabalho, que estão envolvidas e que, quando começam a ser
censuradas de forma injusta, são muito vulneráveis. Por outro lado, são
frequentemente pessoas muito honestas e algo ingénuas. Portanto, quando lhes
pedem coisas que vão contra as regras da profissão, contra a lei e os
regulamentos, contra o código do trabalho, recusam-se a fazê-las. Por exemplo,
recusam-se a assinar um balanço contabilista manipulado. E em vez de ficarem
caladas, dizem-no bem alto. Os colegas não dizem nada, já perceberam há muito
tempo como as coisas funcionam na empresa, já há muito que desviaram o olhar.
Toda a gente é cúmplice. Mas o tipo empenhado, honesto e algo ingénuo continua
a falar. Não devia ter insistido. E como falou à frente de todos, torna-se um
alvo. O chefe vai mostrar a todos quão impensável é dizer abertamente coisas
que não devem aparecer nos relatórios de atividade.
Um único caso de assédio tem um
efeito extremamente potente sobre toda a comunidade de uma empresa. Uma mulher
está a ser assediada e vai ser destruída, uma situação de uma total injustiça;
ninguém se mexe, mas todos ficam ainda com mais medo do que antes. O medo
instala-se. Com um único assédio, consegue-se dominar o colectivo de trabalho
todo. Por isso, é importante, ao contrário do que se diz, que o assédio seja
bem visível para todos. Há técnicas que são ensinadas, que fazem parte da
formação em matéria de assédio, com psicólogos a fazer essa formação.
Uma
formação para o assédio?
Exatamente. Há estágios para
aprenderem essas técnicas. Posso contar, por exemplo, o caso de um estágio de
formação em França em que, no início, cada um dos 15 participantes, todos eles
quadros superiores, recebeu um gatinho. O estágio durou uma semana e, durante
essa semana, cada participante tinha de tomar conta do seu gatinho. Como é
óbvio, as pessoas afeiçoaram-se ao seu gato, cada um falava do seu gato durante
as reuniões, etc.. E, no fim do estágio, o diretor do estágio deu a todos a
ordem de... matar o seu gato.
Está
a descrever um cenário totalmente nazi...
Só que aqui ninguém estava a
apontar uma espingarda à cabeça de ninguém para o obrigar a matar o gato. Seja
como for, um dos participantes, uma mulher, adoeceu. Teve uma descompensação
aguda e eu tive de tratá-la - foi assim que soube do caso. Mas os outros 14
mataram os seus gatos. O estágio era para aprender a ser impiedoso, uma
aprendizagem do assédio.
Penso que há bastantes empresas
que recorrem a este tipo de formação - muitas empresas cujos quadros, responsáveis
de recursos humanos, etc., são ensinados a comportar-se dessa maneira.
Voltando
ao perfil do assediado, é perigoso acreditar realmente no seu trabalho?
É. O que vemos é que, hoje em
dia, envolver-se demasiado no seu trabalho representa um verdadeiro perigo.
Mas, ao mesmo tempo, não pode haver inteligência no trabalho sem envolvimento
pessoal - sem um envolvimento total.
Isso gera, aliás, um dilema
terrível, nomeadamente em relação aos nossos filhos. As pessoas suicidam-se no
trabalho, portanto não podemos dizer aos nossos filhos, como os nossos pais nos
disseram a nós, que é graças ao trabalho que nos podemos emancipar e realizar
pessoalmente. Hoje, vemo-nos obrigados a dizer aos nossos filhos que é preciso
trabalhar, mas não muito. É uma mensagem totalmente contraditória.
E
os sindicatos?
Penso que os sindicatos foram
em parte destruídos pela evolução da organização do trabalho. Não se opuseram à
introdução dos novos métodos de avaliação. Mesmo os trabalhadores
sindicalizados viram-se presos numa dinâmica em que aceitaram compromissos com
a direcção. Em França, a sindicalização diminuiu imenso - as pessoas já não
acreditam nos sindicatos porque conhecem as suas práticas desleais.
Como
distinguir um suicídio ligado ao trabalho de um suicídio devido a outras
causas?
É uma pergunta à qual nem
sempre é possível responder. Hoje em dia, não somos capazes de esclarecer todos
os suicídios no trabalho. Mas há casos em que é indiscutível que o que está em
causa é o trabalho. Quando as pessoas se matam no local de trabalho, não há
dúvida de que o trabalho está em causa. Quando o suicídio acontece fora do
local de trabalho e a pessoa deixa cartas, um diário, onde explica por que se
suicida, também não há dúvidas - são documentos aterradores. Mas quando as
pessoas se suicidam fora do local do trabalho e não deixam uma nota, é muito
complicado fazer a distinção. Porém, às vezes é possível. Um caso recente - e
uma das minhas vitórias pessoais - foi julgado antes do Natal, em Paris. Foi um
processo bastante longo contra a Renault por causa do suicídio de vários
engenheiros e cientistas altamente qualificados que trabalhavam na concepção
dos veículos, num centro de pesquisas da empresa em Guyancourt, perto de Paris.
Quando
é que isso aconteceu?
Em 2006-2007. Houve cinco
suicídios consecutivos; quatro atiraram-se do topo de umas escadas interiores,
do quinto andar, à frente dos colegas, num local com muita passagem à hora do
almoço. Mas um deles - aliás de origem portuguesa - não se suicidou no local do
trabalho. Era muitíssimo utilizado pela Renault nas discussões e negociações
sobre novos modelos e produção de peças no Brasil. Foi utilizado, explorado de
forma aterradora. Pediam-lhe constantemente para ir ao Brasil e o homem estava
exausto por causa da diferença horária. Era uma pessoa totalmente dedicada, tinha
mesmo feito coisas sem ninguém lhe pedir, como traduzir documentos técnicos
para português, para tentar ganhar o mercado brasileiro para a empresa. A dada
altura teve uma depressão bastante grave e acabou por se suicidar.
A viúva processou a Renault,
que em Dezembro acabou por ser condenada por "falta imperdoável do
empregador" [conceito do direito da segurança social em França], por não
ter tomado as devidas precauções.
Foi um acontecimento importante
porque, pela primeira vez, uma grande multinacional foi condenada em virtude
das suas práticas inadmissíveis. Os advogados do trabalho apoiaram-se muito nos
resultados científicos do meu laboratório. O acórdão do tribunal tinha 25
páginas e as provas foram consideradas esmagadoras. Havia e-mails onde o engenheiro
dizia que já não aguentava mais - e que a empresa fez desaparecer limpando o
disco rígido do seu computador. Mas ele tinha cópias dos documentos no seu
computador de casa. A argumentação foi imparável.
Mesmo assim, as empresas
continuam a dizer que os suicídios dos seus funcionários têm a ver com a vida
privada e não com o trabalho.
Toda a gente tem problemas
pessoais. Portanto, quando alguém diz que uma pessoa se suicidou por razões
pessoais, não está totalmente errado. Se procurarmos bem, vamos acabar por
encontrar, na maioria dos casos, sinais precursores, sinais de fragilidade. Há
quem já tenha estado doente, há quem tenha tido episódios depressivos no
passado. É preciso fazer uma investigação muito aprofundada.
Mas se a empresa pretender provar
que a crise depressiva de uma pessoa se deve a problemas pessoais vai ter de
explicar por que é que, durante 10, 15, 20 anos, essa pessoa, apesar das suas
fragilidades, funcionou bem no trabalho e não adoeceu.
Mas como é que o trabalho pode
conduzir ao suicídio? Só acontece a pessoas com determinada vulnerabilidade?
Só muito recentemente é que
percebi que uma pessoa podia ser levada ao suicídio sem que tivesse até ali
apresentado qualquer sinal de vulnerabilidade psicopatológica. Fiquei
extremamente surpreendido com um caso em especial, do qual não posso falar
muito aqui, porque ainda não foi julgado, de uma mulher que se suicidou na
sequência de um assédio no trabalho.
A Polícia Judiciária [francesa]
tinha interrogado os seus colegas de trabalho e, como a ordem vinha de um juiz,
as pessoas falaram. Foram 40 depoimentos que descreviam a maneira como essa
mulher tinha sido tratada pelo patrão (apenas uma contradiz as restantes 39). E
o que emerge é que, devido ao assédio, ela caiu num estado psicopatológico
muito parecido com um acesso de melancolia.
Ora, o que mais me espantou,
quando procurei sinais precursores, é que não encontrei absolutamente nada. E,
pela primeira vez, comecei a pensar que, em certas situações, quando uma pessoa
que não é melancólica é escolhida como alvo de assédio, é possível fabricar,
desencadear, uma verdadeira depressão em tudo igual à melancolia. Quando essa
pessoa se vai abaixo, tem uma depressão, auto desvaloriza-se, torna-se
pessimista, pensa que não vale nada, que merece realmente morrer.
Era uma mulher hiperbrilhante,
muitíssimo apreciada, muito envolvida, imaginativa, produtiva. Tinha duas
crianças óptimas e um marido excepcional. Falei com os seus amigos, o marido, a
mãe. Não encontrei nenhum sinal precursor, nem sequer na sua infância.
Aconteceu
sem pré-aviso?
Houve um período crítico que
terá durado um mês. As pessoas à sua volta deram por isso. Viram que ela estava
muito mal, o médico do trabalho foi avisado e obrigou-a a parar de trabalhar e
pediu a alguém que a levasse para casa. Mas ela não queria parar, insistia que
queria conseguir fazer o que tinha a fazer. A família também percebeu que algo
estava a acontecer, ela consultou um psiquiatra, mas é impossível travar este
tipo de descompensação. Foi para casa da mãe, mas quando pensaram que estava a
melhorar um pouco, relaxaram a vigilância e ela atirou-se pela janela.
Nos testemunhos recolhidos pela
polícia, vê-se claramente que ninguém se atreveu a ajudá-la; todos dizem que
tinham medo. Tinham medo do patrão, que era um tirano. Também assediava
sexualmente as mulheres e esta mulher era muito bonita. Não consegui saber se
tinha havido assédio sexual, mas várias pessoas evocam no seu depoimento que
ela terá caído em desgraça porque tinha recusado a fazer o que ele queria.
O
caso da France Telecom foi muito mediático, com 25 suicídios. O suicídio é mais
frequente nas grandes empresas?
Não. Nas grandes empresas pode
ser mais visível, mas há também muitas pequenas empresas onde as coisas correm
muito mal, onde os critérios são incrivelmente arbitrários e onde o assédio
pode ser pior. Nas grandes empresas, subsiste por vezes uma presença sindical
que faz com que os casos venham a público. Foi assim na France Telecom. Mas não
acredito que a destruição atual do mundo do trabalho esteja a acontecer apenas
nalgumas grandes multinacionais. E é importante salientar que também há
multinacionais onde as coisas correm bem.
Quantas pessoas se suicidam por
ano, em França e noutros países?
Não há estatísticas do suicídio
no trabalho. Em França, foi constituída uma comissão ministerial onde pela
primeira vez foi dito claramente que é urgente aplicar ferramentas que permitam
analisar a relação entre suicídio e trabalho. Mas, por enquanto, isso não
existe. Nem na Bélgica, nem no Canadá, nem nos Estados Unidos, não existe em
sítio nenhum.
Na Suécia, por exemplo, há
provavelmente tantos suicídios no trabalho como em França. Mas não há debate.
Em muitos países não há debate, porque não existe esse espaço clínico, essa
nova medicina do trabalho que estamos a desenvolver em França. De facto, a
França é dos sítios onde mais se fala do assunto. O debate francês interessa
muita gente, mas também mete muito medo.
Em França, foi feito um único
inquérito, há quatro anos, pela Inspeção Médica do Trabalho, em três
departamentos [divisões administrativas], passando pelos médicos do trabalho, e
chegaram a um total de 50 suicídios em cinco anos. É provavelmente um valor
subestimado, mas, extrapolando-o a todos os departamentos, dá entre 300 e 400
suicídios no trabalho por ano.
Uma empresa que defendesse os
princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade conseguiria sobreviver
no atual contexto de mercado?
Hoje, estou em condições de
responder pela afirmativa, porque tenho trabalhado com algumas empresas assim.
Ao contrário do que se pensa, certas empresas e alguns patrões não participam
do cinismo geral e pensam que a empresa não é só uma máquina de produzir e de
ganhar dinheiro, mas também que há qualquer coisa de nobre na produção, que não
pode ser posta de lado. Um exemplo fácil de perceber são os serviços públicos,
cuja ética é permitir que os pobres sejam tão bem servidos como os ricos - que
tenham aquecimento, telefone, eletricidade. É possível, portanto, trabalhar no
sentido da igualdade.
Há também muita gente que acha
que produz coisas boas - os aviões, por exemplo, são coisas belas, são um
sucesso tecnológico, podem progredir no sentido da proteção do ambiente. O
lucro não é a única preocupação destas pessoas.
E, entre os empresários, há
pessoas assim - não muitas, mas há. Pessoas muito instruídas que respeitam esse
aspecto nobre. E, na sequência das histórias de suicídios, alguns desses
empresários vieram ter comigo porque queriam repensar a avaliação do
desempenho. Comecei a trabalhar com eles e está a dar resultados positivos.
O
que fizeram?
Abandonaram a avaliação
individual - aliás, esses patrões estavam totalmente fartos dela. Durante um
encontro que tive com o presidente de uma das empresas, ele confessou-me, após
um longo momento de reflexão, que o que mais odiava no seu trabalho era ter de
fazer a avaliação dos seus subordinados e que essa era a altura mais infernal
do ano. Surpreendente, não? E a razão que me deu foi que a avaliação individual
não ajuda a resolver os problemas da empresa. Pelo contrário, agrava as coisas.
Neste caso, trata-se de uma
pequena empresa privada que se preocupa com a qualidade da sua produção e não
apenas por razões monetárias, mas por questões de bem-estar e convivialidade do
consumidor final. O resultado é que pensar em termos de convivialidade faz
melhorar a qualidade da produção e fará com que a empresa seja escolhida pelos
clientes face a outras do mesmo ramo.
Para o conseguir, foi preciso
que existisse cooperação dentro da empresa, sinergias entre as pessoas e que os
pontos de vista contraditórios pudessem ser discutidos. E isso só é possível
num ambiente de confiança mútua, de lealdade, onde ninguém tem medo de arriscar
falar alto.
Se conseguirmos mostrar
cientificamente, numa ou duas empresas com grande visibilidade, que este tipo
de organização do trabalho funciona, teremos dado um grande passo em frente.
Fonte: Público,
publicado em 30/01/2010.
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