Recebi de um querido leitor o
link de um documento (que anda rodando na internet) onde são denunciadas dez
estratégias utilizadas pelos “donos do poder” para efetuar a manipulação e o
controle da opinião pública.
Por achar o texto interessante,
segui os links até um site francês, e fiz aqui um resumo do texto que passou
pelo viés da minha compreensão. Muitas publicações atribuem o texto a Chomsky.
Por tratar-se de um tema
polêmico, considero aberta a discussão, tanto sobre a validade do exposto
quanto de sua pretensa autoria. Afinal esse texto seria realmente de Chomsky?
Não o creio.
No entanto convido o leitor a
participar da pesquisa e não confiar simplesmente na compreensão desse
articulista (ou do que rola pela internet) e conferir nos livros de Chomsky. Sugiro alguns.
O Controle da Mídia (Graphia, 2002) .
Para Entender o Poder – O Melhor de Noam
Chomsky (Bertrand Brasil, 2005).
Rumo a uma nova Guerra Fria (Record, 2007).
Contendo a democracia (Record, 2003).
O lucro ou as pessoas? (Bertrand Brasil,
2002).
Uma nova geração define o limite (Record,
2003).
Mas vamos ao resumo:
AS DEZ ESTRATÉGIAS PARA A
MANIPULAÇÃO E O CONTROLE DA OPINIÃO PÚBLICA
1 – DISTRAÇÃO
Um dos principais componentes
do controle da opinião pública é a estratégia da distração fundamentada em duas
frentes:
Primeiro, desviar a atenção do
público daquilo que é realmente importante oferecendo uma avalanche de
informações secundárias e inócuas, que como uma cortina de fumaça esconde os
reais focos de incêndio.
Em segundo, distrair o público
dos temas significativos e impactantes tanto na área da economia quanto da ciência e tecnologia (tais como psicologia,
neurobiologia, cibernética, entre outras).
Quando mais distraído estiver o
público menos tempo ele terá para aprender sobre a vida e/ou para pensar.
2 – MÉTODO
PROBLEMA-REAÇÃO-SOLUÇÃO.
Cria-se um problema ou uma
situação de emergência (ou aproveita-se de uma situação já criada) cuja
abordagem dada pela mídia visa despertar uma determinada reação da opinião
pública.
Tal reação demanda a adoção de
medidas imediatas para a solução da crise.
Usualmente tais medidas já
estão praticamente prontas e são aplicadas antes que a população se dê conta de
que essa sempre fora a meta primordial.
Por exemplo:
Valer-se de atentados terroristas para
sequestrar da população seus direitos civis. (Depois de 11 de setembro qualquer
cidadão em solo norte-americano pode ser “detido para averiguações” fora ou
dentro de sua residência, sem direito a advogado, ou defesa, exatamente como o
que ocorria no Brasil durante a ditadura militar – basta que se acione a tal
lei da Segurança Nacional).
Valer-se do crescimento da violência urbana
para aprovar leis de desarmamento completo da população civil.
Valer-se de crises econômicas para fazer
retroceder os avanços conquistados nas leis trabalhistas e promover o
desmantelamento dos serviços públicos de assistência aos mais pobres.
3 – GRADAÇÃO
É uma estratégia de aplicação
de medidas impopulares de forma gradativa e quase imperceptível.
Por exemplo, entre 1980 e 1990
foram aplicadas medidas governamentais que desembocaram no perfil de estado
mínimo, privatizações dos serviços públicos, precariedade da ação do estado
(principalmente na segurança, saúde e educação), flexibilidade das leis
trabalhistas, desemprego em massa, achatamento salarial, etc.
4 – SACRIFÍCIO FUTURO
Apresentar com muita
antecedência uma medida impopular que será adotada no futuro sempre de forma
condicional, porém com contornos nefastos.
Primeiro para dar tempo para
que o público se acostume com a ideia e depois aceitá-la com resignação quando
o momento de sua aplicação chegar.
É mais fácil aceitar um
sacrifício no futuro do que um sacrifício imediato tendo-se em conta que existe
sempre uma esperança, mesmo que tênue, de que o sacrifício exigido poderá ser
evitado ou que os danos poderão ser minimizados.
Por exemplo:
Antes da aplicação de um
aumento de 10% na tarifa de energia elétrica:
Se o clima não mudar teremos
aumento de 25% no preço da tarifa de energia.
Na aplicação do aumento da
tarifa:
Devido a um esforço coletivo do
governo federal e estadual o aumento acabou se concretizando em apenas 10%.
5 – DISCURSO PARA CRIANÇAS
Emprego de um discurso
infantilizado, valendo-se de argumentos, personagens, linguagens, estratégias,
etc. como que dirigido a um público formado exclusivamente por crianças ou por
pessoas muito ingênuas.
Quando um adulto é tratado de
forma afetuosa como se ele ainda fosse criança observa-se uma tendência de uma
resposta igualmente infantil.
6 – SENTIMENTALISMO E TEMOR
Apelar para o emocional de
forma ou sentimentalista ou atemorizante com intuito de promover um atraso
tanto na resposta racional quanto do uso do senso crítico. Geralmente tal estratégia é aplicada de forma
combinada com a número 4 e/ou número 5.
A utilização do registro
emocional permite o acesso ao inconsciente e
promove um aumento da suscetibilidade ao enxerto de ideias, desejos,
medos e temores, compulsões, etc. e à indução de novos comportamentos.
Exemplo:
Para prevenirmos a ação de
terroristas todos os passageiros serão submetidos a uma rigorosa revista antes
de embarcar. Colaborem!
7 – VALORIZAR A IGNORÂNCIA E A
MEDIOCRIDADE
Manter em alta a popularidade
de pessoas medíocres e ignorantes aumentando sua visibilidade na mídia, para
que o estúpido, o vulgar e o inculto seja o exemplo a ser seguido
principalmente pelos mais jovens.
8- DESPRESTIGIAR A INTELIGÊNCIA
Apresentar o cientista como
vilão e o intelectual como pedante ao mesmo tempo em que populariza a
caricatura do “nerd” ou “CDF” como
pessoas ineptas do ponto de vista social e um exemplo a não ser seguido pelos
mais jovens — estimulando, por um lado, a negação da ciência e, por outro, o
desprestígio do uso da racionalidade e do senso crítico.
Geralmente tal realidade se
coaduna com a oferta de uma educação de menor qualidade para a população mais
pobre – que não se queixa disso por que é moda ser ignorante.
9- INCENTIVAR E INCUTIR A CULPA
Incutir, incentivar e reforçar
a culpa do indivíduo quando do seu fracasso, dividindo assim a sociedade em duas
categorias: a de vencedores e a de perdedores.
O “perdedor” (ou loser em
inglês) é o indivíduo que não possui habilidades ou competências para alcançar
o sucesso que o outro tem.
Daí a grande visibilidade que a
mídia oferece a modelos minoritários de beleza e sucesso.
Recordando que apenas alguns
poucos seres humanos podem ser enquadrados nesse modelo tão rigoroso que
categoriza, discrimina e impõe o que é belo, jovem, célebre e bem sucedido.
O restante da humanidade deve
se conformar com sua condição de perdedor e carregar com resignação esse seu
status.
Ao invés de rebelar-se contra o
sistema econômico, o individuo resigna-se e conforma-se com sua situação
pessoal, social e econômica, atribuindo seu “fracasso” à sua completa
incompetência. Culpar-se constantemente por isso, atua na formação de um
desejado estado depressivo, do qual, origina-se a apatia.
10- MONITORAÇÃO
Por meio do uso de técnicas de
pesquisa de opinião, mineração de dados em redes sociais e também dos avanços
nas áreas de psicologia e neurobiologia, os donos do poder tem conseguido
conhecer melhor o comportamento do indivíduo comum muito mais do que ele mesmo.
A monitoração deste
comportamento além de alimentar os dados que aperfeiçoam seu modelo
psicossocial, oferecem informações que facilitam o controle e a manipulação da
opinião pública.
Aí está.
Mesmo me desculpando por esta
síntese, aqui fundamentada numa tradução livre e um tanto apressada de um site
em francês eu fico tranquilo com meus ensimesmados botões, por que sei que
posso sempre contar com a ajuda e a compreensão do leitor, seja para a correção
de qualquer heterogêneo, seja para acirrar a polêmica que sempre é bem-vinda e
benéfica para o crescimento humano.
E claro, aproveitando o exposto
para incentivar mais uma vez a leitura de Chomsky. E que leitura!
Sei que para muitos, Chomsky é
um visionário genial. Para outros ele é
um anarquista com delírios antiamericanos.
Porém existe um consenso em um
dado aspecto e nesse quesito, Chomsky é uma unanimidade:
— É simplesmente impossível
ignorá-lo!
Fonte: Folha
Política
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