Como Estados Unidos podem sugar
dólares que espalharam pelo mundo, nos últimos anos. Qual a situação das
reservas brasileiras. Que riscos país enfrentará
Por Luis Nassif, em seu
blog
Ao reduzir os estímulos
monetários ao mercado, o FED (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano)
deu início a um movimento que, no âmbito das expectativas de mercado, pode
equivaler a uma espécie de “bug do milênio”. Ou não.
Como se recorda, o bug se
referia a problemas nos sistemas de computação na virada de 1999 para 2000 –
porque, até então, utilizavam-se apenas dois algarismos para marcar o ano.
Faturou-se muito em cima dessa
ameaça. E, quando o calendário virou, nada aconteceu de muito relevante.
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Em relação aos estímulos
monetários ocorre algo bastante similar, mas não tanto. Não haverá o cataclismo
previsto pelos videntes. Mas haverá problemas, sim, com países que apresentem
contas externas desequilibradas.
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Como se recorda, esse movimento
do FED consistiu em resgatar títulos do Tesouro no vencimento, injetando
dólares na economia. Foram US$ 4,5 trilhões de 2009 a 2013, que derrubaram os juros internos para
quase zero.
Os dólares entraram na
Tesouraria dos bancos e, com a economia norte-americana estagnada, criou-se um
empoçamento de liquidez. A busca de alternativas os levou aos países
emergentes, inundando-os com dinheiro barato…
A perspectiva de financiamento
dos déficits externos leva governos ao acomodamento. A apreciação da moeda cria
uma situação provisória de bem estar. Fecham-se os olhos para a perda de
competitividade da produção interna, e para a criação de déficits crescentes
nas contas externas, contando com a facilidade dos financiamentos externos.
O país experimentou dois
momentos centrais de ilusão cambial: no final dos anos 70 e no Plano Real. Em
ambos os casos, aumentou-se exponencialmente a dívida externa sob a alegação de
que havia mudanças estruturais nos mercados internacionais, garantindo a
rolagem permanente na dívida externa. Não garantia.
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Capitais têm mobilidade total.
A inversão dos fluxos pode-se dar da noite para o dia. Já o reequilíbrio das
contas externas, não. A redução da oferta de dólares provoca desvalorizações no
câmbio, e, com elas, problemas com as empresas que se endividaram em dólares,
choques de preços nas cadeias produtivas (que passaram a depender de mais
importações), demora para os exportadores reagirem e dificuldades até a
economia se ajustar ao novo quadro.
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Na semana passada, o FED
resolveu manter, mas reduzir as injeções de liquidez: de US$ 75 bilhões para
US$ 65 bilhões. Houve movimentos de aumento de taxas de juros dos principais
emergentes. No caso brasileiro, o aumento da Selic está muito mais ligado à
prevenção desse refluxo no financiamento externo do que nas metas de inflação,
apesar das atas do Copom (Comitê de Política Monetária) ocultarem essa meta.
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Há duas contas feitas pelo
mercado, uma tranquilizadora, outra, nem tanto.
A tranquilizadora é a relação
reservas cambiais x necessidade de financiamento externo. Segundo levantamentos
de André Pereira Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, ao Jornal
GGN, essa relação é de 15 dias na África do Sul, 4 meses na Argentina, 5 meses
na Turquia, 8 meses na Coreia do Sul e 18 meses no Brasil.
Por essa ótica, a situação do
país seria muito mais tranquila do que outros emergentes.
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Quando se analisa os
fundamentos da economia brasileira, a tranquilidade é menor.
Em 2006 houve saldo positivo de
US$ 13 bi nas contas externas. Depois, foi sendo corroído gradativamente até
chegar a um déficit de US$ 54 bilhões em 2012. Em 2013 o déficit saltou para
significativos US$ 81 bilhões.
Mais que isso, até 2012 a
entrada de IED (Investimento Estrangeiro Direto) superava o déficit. No ano
passado, entraram US$ 64 bilhões de IED – diferença negativa de US$ 17 bi.
Para este ano, há a projeção de
um déficit menor, em virtude de menor pressão da conta petróleo, mas ainda
assim de significativos US$ 73 bilhões – contra uma previsão de IED de US$ 57,5
bi.
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No meio de um mar de falsos
problemas levantados pela mídia, reside aí o problema central da economia
brasileira. Aliás, dois problemas. Vinte anos de apreciação cambial
praticamente desmantelaram a indústria de transformação brasileira.
Fonte: Outras
Palavras
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