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sábado, 28 de julho de 2012

Uma greve pedagógica


Foto:  elfpandora.blogspot.com

José Rubens Mascarenhas de Almeida

A greve dos professores da educação pública da Bahia tem sido uma ação sumamente pedagógica para todos seus sujeitos.
Ela não é pedagógica simplesmente por ser uma greve de professores, mas porque, em seu processo, todos aprendemos, todos passamos pela dialética relação ensino-aprendizagem cuja essência não se dissocia da práxis (relação teoria/prática). Uma prova de resistência que ensina que a dignidade não se vende ou se compra no supermercado da esquina e que deve ser defendida até o último instante e as últimas consequências, uma práxis que educa para a vida, não para o mercado e a mercantilização das relações.
Vejamos:
- Aprendem os professores que qualquer conquista só vem da luta, e de uma luta árdua de enfrentamento de seus inimigos diretos e indiretos; de uma luta em que o combate às forças que pretendem lhes submeter e submeter o seu fazer de forma plena e digna, descaracterizando-o e desconstruindo-o em essência e plenitude; de uma luta vigorosa contra todos os instrumentos de dominação: uma mídia pautada não pela ética, mas pela mercantilização absoluta de seu fazer, que se vende e esse rende às mentiras oficiais propaladas por aqueles que oprimem pelo simples fato de que são os que detém/administram os recursos expropriados da classe trabalhadora e os transfere como pagamento pelo aluguel do espaço midiático; contra pseudos representantes de sua categoria, travestidos de sindicalistas que, pernosticamente, se infiltram e aparelham as suas organizações (atropelados pela base nesta greve); contra instituições/instrumentos constitutivas/os do Estado opressor na esfera jurídica, cujos membros vendem/compram sentenças como estivessem em qualquer feira ou botequim; contra um administrador (Executivo) que governa fascista e tiranicamente no ofício da manutenção da sua servidão e da de seus governados, e cujas ações sustenta até os últimos descalabros; contra um Legislativo oportunista que só conhece/reconhece as leis que servem à opressão e age contra direitos inalienáveis (ao exercício da lei, à sobrevivência e à transparência da administração pública); contra uma máquina estatal que busca lhe submeter sob o terrorismo da quitação de seus meios de subsistência (corte dos salários).
Uma greve que ensina aos estudantes que não devem ser simplesmente alunos (sem lúmen, sem luz própria), mas fermento na massa, agente da luta por uma educação que prepare para a vida e não para o mercado, pois neste está a reprodução e realização daquilo que é mais nefasto nesta sociedade; que a luta pela dignificação da educação (para além da formal) significa a garantia de um futuro distinto; que ensina que vale a pena se lutar por aquilo que se defende, independentemente da força daqueles que se negam a ceder em sua dominação; que uma educação digna não se constrói com o suor, a paciência, a exploração e o controle absolutos do educador, mas é fruto/produto da luta diária contra as forças que a despedaça, que a atomiza mecanicamente; uma greve que desnuda as práticas de um governo travestido de “dos trabalhadores”, mas que desmonta as mínimas conquistas sociais daqueles que trabalham.
Uma greve pedagógica que ensina também aos opressores de plantão. Ensina que, como todos os opressores que lhes antecederam, sua exploração não será eterna, mas terá um fim, e que suas práticas aceleram esse processo; ensina que os oprimidos têm uma capacidade incalculável de resistência quando o que defendem ultrapassa o pragmatismo das ações sem ideais; que nem sempre os aparatos fascistas dão conta de uma resistência quando o oprimido se reconhece nela e reconhece companheiros e opressores, assim como suas práticas e mecanismos de opressão; que ensina que a mínima legitimidade que calçava sua governança, seu domínio, é posta à prova quando suas práticas são ardilosas e fogem à realidade e à verdade; ensina que a História tem razão e que a tirania – e sua governança – tem limites.
Uma greve pedagógica, que ensina a todos que ainda é possível o exercício da dignidade, da ética, dos valores que se pautam para além do pragmatismo, do individualismo liberal, da mercantilização das relações sociais, da picaretagem – institucional ou não. Ensina que é possível superar os (des)valores reinantes atualmente.
Sem dúvidas, esta é uma greve sumamente pedagógica para toda a sociedade.
Vivas aos professores da Bahia que resistem à opressão, às mentiras oficiais, ao terrorismo de Estado e de um governo pseudamente “dos trabalhadores”!

4 comentários:

Juliana Brito disse...

Quantas lições!!! Pena, que nessa escola da vida, muita gente preferiu cabular aula...Não tem problema! Isso também é aprendizagem.
O que teria acontecido se a população em peso e os professores que não aderiram/contribuíram ao movimento tivessem se juntado a nós, os que resistimos a tão cruéis e covardes investidas???

Anônimo disse...

Até que enfim um cidadão se manifesta de forma corajosa, intensa e verdadeira sobre a greve dos professores da rede pública do est. da Bahia.
Jamais esquecerei seu nome:josé Rubens Mascarenhas de Alneida.
Esta greve já passou dos limites. Beira a crueldade o procedimento do executiva da Bahia.E todos os outros poderes abolutamente silenciosos e omissos.O que está por trás de tudo isso?

Anônimo disse...

Sinceramente, sou professor, e o que a greve tem ensinado é que professor é profissional de segunda classe, que ninguém respeita, que ninguém liga, a sociedade continua sua vida cotidiana como se nada estivesse acontecendo, os alunos e pais são indiferentes ao movimento e no fim das contas, essa vai ser mais uma greve encerrada pelo desgaste, sem vencedores, apenas com vencidos.

m disse...

Só quem não esteve lá; só quem não bateu de frente com os quatro poderes que se voltaram contra os professores da Bahia; só quem não viu as dezenas de manifestações dos estudantes que do seu jeito demonstraram apoio aos professores; só quem não foi, não dormiu um dia se quer naquele maldito saguão da AL-Ba sentindo a fúria daquele psicopata do deputado Marcelo Nilo que até muriçocas mandou jogar à noite no local; com suas calúnias, injúria e difamações contra os grevistas ativos da educação consegue abrir a boca e perguntar de que adiantou a greve. Essa greve é histórica e de uma envergadura nunca antes vista; com 115 dias e 8 (oito) professoras mortas de AVC e de ataque cardíaco - divulgada em rede nacional e internacional - a que sacudiu todas as instituições até a Suprema Corte com ações e processos a serem julgados neste momento de "ESTADO DE GREVE". Prefiro até nem comentar esses que preferiram crer na imprensa marrom e subserviente ao poder econômico, ou participante virtual. Claro que se 50% de grevistas saissem do seu conforto, deixassem de ir à praia e fossem a luta - com certeza 0 abalaríamos mais os pilares do poder.