O paquistanês Ahmet Nadim diz ter sido ameaçado por militantes do partido Amanhecer Dourado. Foto: EFE |
07 de julho de 2012
Após convencer mais de 400 mil gregos com seu discurso
xenófobo e conseguir uma histórica entrada no Parlamento de Atenas, o partido
neonazista Aurora Dourada ampliou sua presença nas ruas, com ataques a
estrangeiros e ameaças a comerciantes imigrantes.
"No sábado 23 de junho,
chegaram uns 30 ou 35 neonazistas. Alguns vinham de moto e todos estavam
armados com bastões e protegidos com capacetes. Entraram em minha loja e me
disseram: 'não queremos você aqui. Este é nosso país e não o seu. Vá embora.
Tem uma semana para fechar esta loja'", disse à agência EFE o paquistanês
Ahmet Nadim, que administra uma videolocadora no bairro ateniense de Nikea.
"Eu tenho os papéis certos, pago meu aluguel e meus impostos",
queixa-se ele, que vive na Grécia há dez de seus 35 anos.
Seu caso não é único. Os
estabelecimentos contíguos, uma barbearia e uma mercearia, administrados por
imigrantes, também foram ameaçados, enquanto a polícia, situada a 30 m, não
interveio. "Tenho vários alunos que se queixaram do mesmo. Alguns foram
ameaçados de atear fogo em seus estabelecimentos comerciais", destaca
Katerina, professora de grego em um centro social para imigrantes.
A crise econômica, as medidas
de austeridade, o elevado desemprego e a alta imigração legal e ilegal serviram
de incentivo ao crescimento do Aurora Dourada, que ganhou influência com os
bons resultados eleitorais: enquanto no pleito de 2009 a legenda tinha recebido
0,3% dos votos, dessa vez registrou quase 7%.
Nikea foi tradicionalmente um
celeiro de votos comunistas, pois não esquece a batalha que seus habitantes
travaram contra os ocupantes nazistas em 1944. A revolta foi reprimida pelas
tropas alemãs e centenas de moradores foram executados.
Ainda hoje, mais de 60% dos
votos do bairro vão para a esquerda (Syriza e Partido Comunista,
especialmente), mas o Aurora Dourada foi o terceiro partido mais votado nas
últimas eleições, com quase 9%, e desde que a inauguração do escritório local
do partido neonazista, em maio, os ataques aumentaram no bairro. Segundo Javet
Aslam, presidente da comunidade paquistanesa na Grécia, cerca de 300 imigrantes
ficaram feridos em agressões racistas nos últimos três meses.
Em um dia de meados de junho,
às 6h, o paquistanês Ghuldam Murtza estava a caminho do trabalho quando foi
visto por quatro motoqueiros. Eles mudaram o sentido para persegui-lo e o
espancaram até que sofreu severas contusões na cabeça e teve o nariz quebrado. "Se
os membros do Aurora Dourada encontram um imigrante sozinho, sobretudo de
noite, o enviam para o hospital. E isso ocorre diariamente", denuncia
Mohammed, que trabalha no mercado do bairro.
Por isso, na quinta-feira
passada, a União de Trabalhadores Imigrantes e o Movimento Unido Contra o
Racismo e a Ameaça Fascista convocaram em Nikea uma manifestação de apoio aos
imigrantes, exigindo o fim da violência e o fechamento da sede do partido
neonazista no bairro. Cerca de mil pessoas, em sua maioria paquistaneses, se
reuniram sob o lema: "Aurora Dourada é uma gangue neonazista. Nem no
Parlamento nem em nenhum lugar, fora os fascistas dos bairros".
Cerca de 200 militantes do
Aurora Dourada isolaram a rua de sua sede e, armados com bastões e escudos
pintados com o símbolo da antiga Esparta, se apertavam em formação.
"Estamos aqui para proteger nossa sede. É ridículo e inaceitável que
paquistaneses, indianos e árabes se manifestem pedindo a ilegalização de um
partido que está no Parlamento", critica Ioannis Lagos, um dos homens no
comando da legenda e guarda-costas habitual do líder neonazista, o ex-militar
Nikolaos Michaloliakos.
Outro porta-voz local do
partido, Giorgos Patelis, acusa os imigrantes de cometerem roubos e
protagonizarem episódios de violência "diariamente" no bairro e que
seus homens se limitam a "comparecer em ajuda dos cidadãos gregos quando
estes o pedem", o que implica patrulhar as ruas. Patelis nega ter ameaçado
os paquistaneses e afirma que seu partido utiliza meios "legais" para
suas ações. Além disso, ele menciona que o principal dos objetivos do grupo é
"que todos os imigrantes vão embora", pois, para os neonazistas,
"nenhum é legal".
"Não é verdade! Os que nos
ameaçaram se apresentaram abertamente como membros do Aurora Dourada. O
problema é que fomos denunciá-lo à polícia e nos disseram que eles não podiam
fazer nada", protesta Aslam.
Fonte: Terra
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