Por Claudia Gaillard e Helen Popper
BUENOS AIRES, 5 Jul (Reuters) -
A Justiça argentina condenou nesta quinta-feira a 50 anos de prisão o
ex-presidente de fato Jorge Videla e também outros militares pelo roubo
sistemático de bebês de presos políticos durante a sangrenta ditadura militar
que governou o país de 1976 a 1983.
As crianças foram roubadas de
seus pais e adotadas ilegalmente, em geral por famílias de militares, e na
maior parte dos casos continuam desaparecidas, o que converte o crime em uma
das piores caras do terrorismo de Estado que deixou cerca de 30.000 opositores
mortos.
Até o momento, apenas 102
dessas crianças descobriram sua verdadeira identidade, mas cerca de 300
continuam sem saber quem foram seus pais biológicos.
"Em alguns casos (os
criminosos) são pessoas idosas, assim, para muitos é como se fosse (condenação)
perpétua. É um dia histórico e vamos buscar mais", disse à TV argentina
Tati Almeida, membro da associação Madres de Plaza de Mayo.
Além de Videla e outros
ex-repressores, foram condenados a 15 anos de prisão o ex-ditador Reynaldo
Bignone e a 30 anos o ex-capitão de fragata Jorge "Tigre" Acosta, um
símbolo da repressão ilegal. Atualmente, todos cumprem penas perpétuas por
outros crimes contra a humanidade.
O Tribunal Oral Federal 6
considerou que Videla é "autor criminalmente responsável dos crimes de
subtração, retenção e ocultação de um menor de 10 anos" e
"participante necessário" em um total de 20 casos.
A sentença desta quinta-feira é
relacionada ao caso conhecido como "Causa Plano Sistemático", que
investigou o roubo e a adoção ilegal de 34 bebês.
Videla, que não mostra
arrependimento pelos abusos aos direitos humanos cometidos pelo Estado, se
descreveu como um "preso político" durante o julgamento e disse que
os sequestros que, sim, aconteceram não faziam parte de um plano sistemático.
"Todas as parturientes que
respeito como mães eram militantes ativas das maquinarias do terrorismo",
disse o ex-ditador em seu discurso. "Muitas delas usaram seus filhos
embrionários como escudos humanos no momento de serem combatentes."
Alguns dos bebês roubados
nasceram em centros clandestinos de tortura. As enfermeiras relataram que
muitos foram amamentados por suas mães em cativeiro durante dias, enquanto
outros foram levados imediatamente.
Não foram feitas certidões de
nascimento, o que dificultou e atrasou grande parte do trabalho de
identificação e reunião com familiares de seus pais. A maioria dos 34 bebês da
"Causa Plano Sistemático" foi identificada.
Fonte: Reuters
Brasil
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