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O comando de greve aquiesceu
com a APLB? Será?
Por Maisa Paranhos*
A greve está para acabar mesmo?
São questões que estou me
colocando nestes dias desde que saí da "assembleia fumaça" do dia 24,
que tentou apagar o ímpeto do professorado, tentando-lhe dar uma esfriada...
Perda da visibilidade sobre a
assembleia do dia 20, aonde o professorado agiu, interviu, modificou, e mudou a
direção do movimento... tornou-se dono de seu destino.
Verdadeira experiência
histórica, para os que estão do lado de cá, o da luta.
A “assembleia fumaça” do dia
24, não teve direção, serviu somente para despistar o professorado de si mesmo.
Nenhuma outra foi a sua função. “água fria na fervura”... como diria minha avó.
Sem direção, sem liderança no
movimento grevista, nós professores, estamos zanzando num vai e vem imposto
pela APLB, para que nos façam acreditar que este sindicato está fazendo algo de
producente para a greve: cenas velhas, passeatas...
Besteira. Está deixando o tempo
passar para, assim, morrermos de inanição e tudo voltar como era antes.
Retornarmos da greve sem nada.
Esta é a aposta deles. Os diretores da APLB sindicato quase nos convencem de
que são nossos verdadeiros aliados... "mas quase também é mais um
detalhe"... Explico.
Na minha compreensão, o comando
de greve, para não quebrar a tão cantada e recantada “unidade”, está fazendo,
nós professores, pagarmos um alto preço.
Em nome da “unidade” na greve,
a gente tem perdido o próprio motivo que a ela nos levou: estamos a engolir o
sapo da APLB, para tentar manter uma unidade que só tem nos amarrado.
Vejamos. As ações no poder
judiciário, que são as mais evidentes, não têm andado. Ninguém entende o que a
diretora Marilene Betros, representante do Departamento Jurídico, “explica” e
tampouco sabemos em quais instâncias essas ações estão. As informações sobre os
processos são altamente comprometidas, pois a mesma diretora não quer se fazer
entender. Quando os seus informes
terminam ficamos aliviados, pois gastamos muita energia para entender aquilo
que não querem que entendamos. E ficamos também bastante frustrados, pois
sempre pensamos em ter notícias com as quais, esperamos, no mínimo, nos situar,
nos instrumentalizar... O que não ocorre.
Tivemos reuniões zonais no dia
23, véspera da assembleia–fumaça, em que ficaram patentes nossas insatisfações
e exigimos a saída de Marilene Betros do departamento jurídico. Até mesmo
porque ela havia revelado, na assembleia do dia 20, que não caberia mais
recurso algum nas instâncias jurídicas, não nos restando nada mais a fazer.
O que fez o comando diante de
nossa insatisfação generalizada e decidida nas zonais para ser encaminhada e
seguida? Ignorou!!!
E mais! Ainda tivemos a mesma
diretora, na assembleia do dia 24, dando os informes do Departamento Jurídico
sem que ninguém compreendesse bem o seu discurso. Tentou se justificar a
respeito do dia 20, dizendo ter havido um “mal entendido”.
Como um “mal entendido”? Foi
muito bem entendido o que ela pronunciou, e serviu de gota d’água sobre a
categoria a respeitos dos males que esta diretora vem fazendo para nós. O
comando de greve, em vez de encaminhar o imediato afastamento dela, não da diretoria,
mas do Departamento Jurídico, nada fez, em nome de que “pegaria mal para o
movimento grevista um racha”...
Pergunto:
1) Por que uma intervenção administrativa
de um sindicato sobre as posições que seus diretores ocupam, seriam
interpretadas como um “racha”?
2) Não será isto utilizado como
pretexto para tentar nos convencer a aceitar Marilene Betros na função à qual
ela não corresponde? Pois a alegação é a de que a imprensa diria que “eles
(nós) não se entendem”...
3) Se o preço que estamos
pagando para manter uma pseudo unidade tem colocado a vitória de nosso
movimento em risco, o denominado racha, racharia o quê?
4) O comando de greve tem encaminhado
as nossas questões? Ou está aquiescendo ao dizer que nós não temos estrutura
para levarmos o movimento sem o sindicato?
5) Com o sindicato, para onde
estamos indo?
Resposta: para o fim da greve,
sem ganhos!!!
Presenciei parcialmente a
reunião de uma zonal que particularmente me deixou muito triste. Além de
constatar alguns discursos totalmente deslocados – em lugar de objetivar-se uma
discussão que apontasse para estratégias do movimento, pude perceber que se
substituiu essa discussão por uma outra, pedagógica, sempre necessária, mas não
neste momento.
Uma colega falando de projetos
pedagógicos dos governos estadual e federal desvirtuou totalmente o objetivo da
zonal... e isto tem sido uma tendência em nosso movimento. Também na
assembleia-fumaça ouvi uns argumentos temerários sobre como voltar da greve:
- se aceitando o reajuste de Wagner
(coisa que o colega que falava dizia que não seria bom, pois seria um acordo no
qual abriríamos mão de futuras lutas pelo cumprimento – acreditem! – da Lei do Piso!!!);
- ou se recusando qualquer
proposta, onde sairíamos como entramos, porém de “cabeças erguidas e com o
moral elevado”. E isto seria uma vitória! (?)
O neodiscurso da vitória é o
que mais se tem falado. Para justificar uma saída sem ganhos. Temos visto um
super-mega-hiper discurso, dos “ganhos da categoria” e seu heroísmo. Sem querer
nos desmerecer, não fizemos greve para ganhos de ordem subjetiva. Isto serve
como doce que se dá a criança, para ganhar a sua simpatia... Estão querendo nos
convencer, mais uma vez, em nossa história, que foi um ganho para a categoria,
ficar 4 meses sem salários, em greve, com mortes entre nós, com dívidas, sem a
lei ser cumprida, e retornarmos com reposições e férias comprometidas...
Colegas! Não precisarei me
estender muito para dizer que todos sabemos a complexidade da problemática da
educação pública em nosso país. Das diversas realidades...
Todos sabemos que somos vários
“brasis”...
Todos sabemos que temos uma LDB
que não foi produto de discussão aprofundada junto à sociedade brasileira.
Todos sabemos que
desenvolvimento se diferencia de crescimento de uma nação por aquele
compreender que uma nação independente, livre e soberana, para tal, deve ter um
crescimento econômico que acompanhe a garantia da qualidade de vida da
população e que isto, necessariamente, passa pela educação pública de
qualidade, e que esta última, necessariamente passa pela valorização do
trabalho docente, tanto em nível de sua formação quanto em nível salarial.
Foto: band.com.br |
Portanto, colegas, não nos
deixemos levar pelo discurso “politicamente correto” dos projetos pedagógicos,
dos quais não discordamos, mas que intencionalmente, vem num momento inoportuno.
Tentam ocupar o lugar protagonista do nosso movimento, que são as estratégias
para a nossa vitória.
Trocar a discussão, no presente
momento, sobre a greve pela discussão “maior e mais aprofundada” da educação
nacional é querer boicotar o momento político grave pelo qual estamos passando,
reflexo, obviamente, de uma estrutura colonial-oligárquica de exploração, que
recairá sobre o papel que o nosso país joga na conjuntura internacional
multilateral.
Nossa greve é a expressão material
desta conjuntura. Estamos enfrentando o monstro em sua materialidade real.
A política partidária está
agonizando em nosso Estado. A foice e o martelo – que se usa há algum tempo – deixaram
de estar ao lado dos trabalhadores. Na reorganização de uma esquerda herdeira
de um stalinismo centralizador, o partido que deveria representar os
trabalhadores, não o faz, e segue o caminho do autoritarismo improdutivo,
arcaico e anti-democrático. Estéril.
Assim o povo baiano é conduzido
a um retrocesso perigoso, ao considerar que a esquerda e a direita em nada se
diferenciam, o que leva a uma amargura política e sua maléfica consequência: um
apoliticismo que só beneficia os mantenedores/beneficiários do sistema de
exploração.
Desta forma, especificamente,
uma vez mais, o órgão de classe denominado APLB/Sindicato tendo a função de nos
representar não o faz.
Coloco que busquemos nossos
próprios caminhos.
- Encaminhamentos jurídicos sem
a APLB;
- Contratação de advogado
confiável para tais encaminhamentos;
- Propaganda organizada em
comissões;
- Cartas e emails para blogs e
jornais de todo o país;
- Otimização da utilização do
espaço midiático gratuito (que existe);
- Atos públicos nos órgãos da justiça;
- E o que vier...
A conjuntura política para nós
é a melhor possível.
Ao sindicato não interessa esta
avaliação, pois ele é base aliada do governo.
O comando de greve, em seu
conjunto, nada mais tem feito, do que referendar o sindicato, não a categoria.
Não quero ser injusta com
alguns colegas do comando, que tentam de fato encaminhar as propostas das
zonais, mas a grande maioria, inclusive os eleitos na base, não têm
correspondido à nossa expectativa, não cumprindo, desta forma, a sua função.
Lamentável que alguns colegas
comandantes estejam se deixando levar por uma falácia de que a unidade vale
qualquer preço. Colocamos que o preço não será o nosso movimento.
Estamos atentos e não permitiremos
que nossas propostas não sejam devidamente encaminhadas.
Conclamamos o nosso Comando a
seguir no comando de nossa greve e que isto não seja uma figuração e sim uma
realidade concreta.
Que este comando não ceda ao
canto da sereia da APLB/sindicato.
Que, no Comando, nossos colegas,
que esperamos sejam nossos companheiros de fato, terão nosso total apoio e
respeito ao seguir o que clama a categoria.
Pressão política, judiciário
encaminhado com segurança e confiabilidade. União, ações e informações
socializadas.
Que todos tenhamos nossos
destinos nas mãos e que assim, possamos seguir até a vitória do nosso
movimento, com dignidade, moral elevado e reajuste salarial conforme a lei
federal postula.
A vitória será nossa, se o
quisermos e isto implica compromisso nosso e do nosso Comando.
Abraço em todos,
*Maísa Paranhos, professora da
Rede Pública de Ensino do Estado da Bahia.
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