20/1/2014
Davos, este ano, esteve mais
para estação de esqui do que para fórum mundial
Davos, este ano, a estação de
esqui recebeu mais um fórum mundial
Apenas 85 pessoas no mundo
detêm 46% de toda a riqueza produzida no planeta – mesmo percentual de metade
da população – segundo um novo relatório, divulgado nesta segunda-feira no
Fórum Econômico de Davos, na Suíça. O documento realça a incapacidade de
políticos e líderes empresariais em deter o crescimento da desigualdade
econômica.
“Os resultados apresentados no
estudo minam a democracia e tornam mais difícil a luta contra a pobreza”,
afirmou o grupo humanitário britânico Oxfam International, que assina o
relatório.
– É impressionante que, em
pleno Século XXI, metade da população mundial tenha apenas um pouco mais do que
uma elite cujos números permitem tê-los, todos, sentados confortavelmente em um
único vagão de um trem. Ampliando-se a desigualdade, cria-se um círculo vicioso
no qual a riqueza e o poder concentram-se, cada vez mais, nas mãos de poucos,
deixando o resto de nós a lutar por migalhas da mesa superior – disse Winnie
Byanuima, diretora executiva do grupo.
Lição
de Marx
Em um outro relatório,
divulgado na semana passada, o Fórum Econômico Mundial já abordava a
desigualdade e a concentração de renda no mundo como o mais sério risco de
danos políticos e instabilidade na próxima década. Na segunda década do século
XXI confirma-se, integralmente, a Lei Geral da Acumulação Capitalista formulada
assim n’O Capital, do economista Karl Marx: “À medida que diminui o número dos
potentados do capital que usurpam e monopolizam todas as vantagens deste
período de evolução social, crescem a miséria, a opressão, a escravatura, a
degradação, a exploração, mas também a resistência da classe operária”.
A Organização Internacional de
Trabalho (OIT), em linha com a miséria causada por um sistema global
intrinsecamente injusto, mais de 200 milhões de trabalhadores estão
desempregados no mundo. Apenas a União Europeia tem mais de 30 milhões de
pessoas sem EMPREGO e 127 milhões vivendo na pobreza extrema. Na França, mil
empregos são destruídos por dia e cinco milhões estão sem trabalho. Na América
Latina e Caribe a taxa de desemprego entre os jovens é de 13,7%, ou 22 milhões;
na Espanha, 56%, e na Grécia, 61%. Ainda de acordo com a OIT, 73 milhões de
jovens estão desempregados e este índice continua crescendo.
Na Alemanha, um dos maiores
exportadores do mundo e país mais rico da União Europeia, 30% da população
vivem abaixo da linha de pobreza e 7,45 milhões de trabalhadores têm
“miniempregos”, nos quais o trabalhador recebe 450 euros (R$ 1.200) por mês.
Caso esses trabalhadores fossem somados à população desempregada, o desemprego
pularia de 7% para 24%.
Na principal cidade dos Estados
Unidos, Nova York, 50 mil trabalhadores moram em abrigos porque seus EMPREGOS
são de baixa remuneração e na Espanha, até junho de 2013, 20 mil famílias foram
despejadas de suas casas.
A fome segue como a principal
causa de morte no planeta. Na década de 1950, 60 milhões de pessoas passavam
fome. Atualmente, são quase um bilhão. Mas, de acordo com a Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o número de pessoas com
desnutrição – que sofrem de uma ou mais deficiências em micronutrientes
(vitaminas e outros) – já alcança dois bilhões. Segundo Jean Ziegler,
ex-relator especial para o Direito à Alimentação das Nações Unidas (ONU), 18
milhões morrem de fome por ano e, a cada 5 segundos, uma criança morre de fome.
O desenvolvimento do
capitalismo, portanto, não trouxe mais progresso nem uma vida melhor para a
maioria da população, mas sim desemprego, fome e sofrimento. Porém se a pobreza
aumenta, cresce a riqueza daqueles 85 capitalistas. Em 2000, apenas 1% dos norte-americanos
detinha 32,8% da riqueza do país; em 2013, passaram a abocanhar 40%.
Oligarquia
financeira
No mundo, de acordo com Mapa da
Desigualdade em 2013, os 10% mais ricos do planeta detêm atualmente 86% da
riqueza mundial. Destes, 0,7% tem US$ 98,7 trilhões e a posse de 41% da riqueza
mundial, maior valor já registrado na História da Humanidade. Com uma enorme
soma de capital em suas mãos, um reduzido grupo de multimilionários, donos de
grandes bancos, fundos de investimentos e monopólios espalhados pelo planeta,
controla a indústria, o comércio e a agricultura.
Estudo realizado pelo Instituto
Federal de Tecnologia da Suíça enfocando 43 mil empresas multinacionais
concluiu que 174 delas (na maioria bancos) controlam 40% da economia mundial.
Nos Estados Unidos, maior país capitalista do mundo, apenas cinco bancos (JP
Morgan, Goldman Sachs, Citigroup, Bank of América e Weels Fargo) têm ativos de
US$ 8,5 trilhões, cerca de 56% do PIB, e 10 empresas controlam 85% dos
alimentos de base negociados no mundo.
Não bastasse, desde o início da
crise, governos e bancos centrais repassaram mais de US$ 30 trilhões a essa
oligarquia FINANCEIRA, provocando o maior endividamento público da história.
Somente o Tesouro dos EUA, segundo relatório do U.S. Government Accountability
Office (U.S. GAO), entregou 16 trilhões de dólares em empréstimos a juros
negativos às grandes empresas e bancos do país, embora tenha demitido milhares
de funcionários públicos.
O resultado desses planos de
ajuda aos bancos foi o crescimento exponencial das dívidas públicas, dívidas
dos Estados, mas pagas pelos impostos cobrados dos trabalhadores. Em 2007, a
dívida pública dos EUA era de 66,5% do PIB, e pulou para 106,5% em 2012,
levando o país a viver em estado permanente de calote. A dívida pública do
Japão é superior a 200% do PIB e a da França, segundo o próprio governo,
chegará a 95,1% do PIB em 2014. Por sua vez, dados do FMI indicam que a dívida
do governo central da China soma 46% de tudo o que o país produz.
Para pagar essas dívidas, a
solução dos governos capitalistas são os chamados planos de austeridade, ou
seja, jogar esse endividamento nos ombros dos trabalhadores. Por isso, medidas
como redução de salários dos funcionários públicos, cortes das verbas para a
saúde e educação, privatização de empresas públicas, eliminação de direitos
trabalhistas, diminuição das aposentadorias e, consequentemente, destruição de
pequenas e médias empresas.
Ao lado do crescimento da
concentração de capital, do aumento de fusões e aquisições entre as empresas em
todo o mundo, temos o aumento exponencial da especulação financeira. Segundo
relatório do Mackinsey Global Institute, em números absolutos, o estoque total
de ativos financeiros – depósitos bancários, financiamentos, títulos de dívida
privada e pública, ações de companhia – atingiu US$ 225 trilhões no ano
passado. Um volume 10% maior que em 2007, ano de início da crise, e o
equivalente a 312% da produção global. Já o montante dos derivativos no mundo
atingiu US$ 600 trilhões em 2011, segundo números do Bank for International
Serrlements (BIS).
É esta oligarquia financeira
que impõe sua vontade e seus interesses em todos os países e obrigam os
governos e os bancos centrais da Europa, América Latina, África ou da Ásia, a
adotarem a mesma política de ampla proteção ao capital financeiro. Ocorre,
assim, uma verdadeira fusão do Estado com o capital financeiro.
Dessa forma, a globalização da
economia nada mais é que a extensão do domínio desse pequeno e poderoso grupo
de bilionários dos países imperialistas em aliança com a grande burguesia dos
demais países, para obter superlucros.
Luta
de classes
Há, ainda, o acirramento das
contradições interimperialistas, isto é, entre EUA, Rússia, China, Alemanha,
Japão, Inglaterra e França. Essas contradições ficam evidentes, quando
verificamos que não existe um acordo comercial amplo no âmbito da Organização
Mundial do Comércio (OMC); prossegue a chamada “guerra cambial” ou a tentativa
de impor o dólar e o euro como únicas moedas no mundo; bem como a feroz disputa
pelo controle de regiões estratégicas do planeta, como se verifica na África, e
em particular, no Oriente Médio, para ter a posse do petróleo, gás e de
minérios estratégicos.
Na outra ponta, as potências
capitalistas realizam acordos e tratados comerciais, visando a enfraquecer
concorrentes e redividir os mercados, como fica claro, nos acordos dos EUA com
a União Europeia para formar uma área de livre comércio e com o Japão no
Pacífico, procurando isolar a China; da França com a Alemanha na Europa, ou com
os acordos comerciais e investimentos da China na África e na América Latina.
São ainda características da
crise, além da destruição de empregos, elevação do preço dos alimentos e do
custo de vida e o empobrecimento das massas, o enriquecimento da grande
burguesia mundial, em particular da alemã e da norte-americana, o surgimento de
um reduzidíssimo número de milionários na China e o aumento das intervenções
militares e guerras para saquear nações e controlar suas riquezas.
Em resposta a essa situação, os
trabalhadores e a juventude organizam greves gerais, enfrentam os governos e
seus aparelhos de repressão e promovem protestos e lutas. Os levantes populares
na Tunísia, Egito, e em outros países da África; as greves gerais na Europa, a
revolta de junho em nosso país, etc., são exemplos claros dessa tendência.
Também, em função das medidas econômicas adotadas pelos governos burgueses em
favor de bancos e monopólios, cresce o descrédito das massas no Estado burguês
e em suas instituições, como Parlamento, União Europeia, FMI, OMC e ONU.
Com sua base social cada vez
mais reduzida, os governos burgueses ampliam os gastos militares visando a
enfrentar as revoltas populares e manter este carcomido sistema econômico
baseado na propriedade privada dos meios de produção. O orçamento militar dos
Estados Unidos cresceu 90% nos últimos 13 anos. A Rússia, em 2011, aumentou
orçamento militar em 9,7% e a China elevou em 11,2% os gastos militares no ano
passado.
Em outras palavras, os governos
capitalistas aumentam a repressão sobre as massas, criminalizam os protestos e
os movimentos sociais e montam uma rede de espionagem mundial na telefonia e na
internet, violando as mais elementares liberdades democráticas.
O fato é que, neste século 21,
temos um aumento extraordinário das guerras e intervenções militares
imperialistas, como no Mali, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e Haiti, e, em
outros países ocorre um processo de fascistização dos governos com a supressão
de vários direitos democráticos, comprovando, como afirmou Lênin em sua obra O
Imperialismo, fase final do capitalismo, que este sistema, em sua fase
imperialista, tende para a violência e o autoritarismo.
Em síntese, o plano da
burguesia mundial é resolver a crise, aprofundando a exploração das massas
trabalhadoras, invadindo países, dominando povos e se apoderando, por meio de
guerras, das riquezas naturais e dos mercados para garantir uma nova partilha
do mundo e a escravização de bilhões de pessoas por um minoria de exploradores
capitalistas.
Portanto, diferente do que
prometeu a burguesia mundial, o século 21 não é o século da paz nem da harmonia
entre capital e trabalho. Pelo contrário, em vez do “estado do bem-estar
social”, temos crises econômicas, fome, ampliação do comércio de drogas e da
prostituição, e o acirramento da luta de classes em todos os continentes.
Movimentos táticos
Ingressamos em um novo período
de confrontos entre as classes, caracterizado, de um lado, pelo aumento da
exploração dos trabalhadores, uma enorme destruição das forças produtivas, e o
desencadeamento de novas guerras imperialistas e, de outro lado, pela
resistência das massas exploradas e por um impressionante avanço das greves
operárias e das lutas da juventude e demais oprimidos.
Os próximos anos serão, assim,
anos de uma acirrada disputa por mercados e pelas riquezas naturais, como
petróleo, minérios, pela água, e de grandes enfrentamentos entre as classes.
Porém, como afirma a
Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxista-Leninistas
(CIPOML), “os resultados da crise econômica capitalista dependerão das forças
políticas atuantes e da sua inteligência para aproveitar a conjuntura. De uma
crise econômica e uma guerra mundial surgiu a primeira revolução socialista, a
de outubro de 1917 na Rússia, mas também, de uma grande crise econômica surgiu
o fascismo alemão, o nazismo, encabeçado por Hitler. Quer dizer, a crise pode
contribuir para a revolução, se existir uma força política com influência nas
massas e capacidade para desenvolver os movimentos táticos que permitam
derrubar os governos burgueses e pró-imperialistas”.
Portanto, caminhamos para duros
combates entre os exploradores e explorados. As potências imperialistas não
vacilarão e não têm vacilado em tudo fazer para salvar seu injusto sistema
econômico e político e para que as riquezas continuem nas mãos de uma ínfima
minoria, da oligarquia financeira internacional e seus sócios, embora isso
signifique crianças morrendo de fome, milhões de operários desempregados,
famílias vivendo sem casa, mais guerras e destruição do meio-ambiente.
Com efeito, a classe
capitalista nunca ficou de braços cruzados vendo sua riqueza derreter, sempre
agiu para proteger o lucro, a acumulação capitalista e a reprodução do capital.
Não importa o que tenha que fazer nem quantas guerras tenha que realizar. Mas é
verdade também que, por toda parte, avança a luta por uma vida nova, para
libertar a humanidade das guerras e da exploração do capital e a perspectiva da
revolução e do socialismo torna-se a cada dia mais concreta.
Fonte: Correio
do Brasil
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